EUA usam conflito em Israel para se expandir militarmente rumo ao mar Negro, alerta analista
© Sputnik / Ramil SitdikovSistemas de radar a bordo de navios da Frota do Mar Negro russa
quando atracam em sua base em Sevastopol
© Sputnik / Ramil Sitdikov
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EUA expandem sua presença militar no Mediterrâneo Oriental, sob pretexto de evitar escalada regional do conflito entre Israel e Palestina. Para analista ouvido pela Sputnik Brasil, movimento de Washington também visa patrulhar o mar Negro, região sobre domínio das Marinhas de Rússia e Turquia.
Nas últimas semanas, os EUA têm mobilizado suas forças navais e reativado bases aéreas na região do Mediterrâneo Oriental.
O porta-aviões USS Gerald R. Ford foi estacionado na região com outros navios de guerra dos EUA, em movimento justificado por Washington como de contenção ao Irã. De acordo com a narrativa oficial do Pentágono, os Estados Unidos aumentam sua presença militar no Mediterrâneo Oriental para impedir que forças aliadas do Irã, como o Hezbollah, interfiram no conflito entre Israel e Palestina.
Apesar do alarme, o pesquisador em Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jonuel Gonçalves, lembra que a presença naval dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no Mediterrâneo sempre foi significativa.
"Embora a OTAN seja, em tese, voltada para o Atlântico Norte, suas capacidades no Mediterrâneo são tão ou mais relevantes", declarou Gonçalves à Sputnik Brasil. "O que vemos agora é uma força de pressão dos EUA em direção ao Mediterrâneo Oriental."
O pesquisador ainda nota a presença regional significativa da Marinha da França, seguida pela atuação do Reino Unido.
CC BY 2.0 / Flickr.com / Primeiro tenente Zachary Bodner / Aviões da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA voam sobre os porta-aviões HMS Queen Elizabeth (R09) do Reino Unido, e Charles de Gaulle (R91) da França, no mar Mediterrâneo, 3 de junho de 2021
Aviões da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA voam sobre os porta-aviões HMS Queen Elizabeth (R09) do Reino Unido, e Charles de Gaulle (R91) da França, no mar Mediterrâneo, 3 de junho de 2021
"Todas as partes estão tomando precauções, afinal a situação no Oriente Médio está delicada em função do conflito. Agora ficou claro que forças que se consideravam infalíveis, como a de Israel, também podem sofrer revezes", notou Gonçalves.
Risco para o mar Negro
Para o analista político turco Umit Nazmi Hazir, a expansão da presença dos Estados Unidos no Mediterrâneo Oriental não está somente vinculada ao conflito entre Israel e Palestina.
"A primeira razão é, sim, a tensão crescente [...] devido ao conflito em curso entre Israel e o Hamas. Os EUA, que se têm concentrado na Ucrânia, estão agora aumentando a sua atenção para o Oriente Médio", disse Hazir à Sputnik Brasil.
© AP Photo / Petros KaradjiasAvião de quinta geração F-35 dos EUA no porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth, no mar Mediterrâneo, 20 de junho de 2021
Avião de quinta geração F-35 dos EUA no porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth, no mar Mediterrâneo, 20 de junho de 2021
© AP Photo / Petros Karadjias
No entanto, a segunda motivação para as movimentações militares dos Estados Unidos seria se aproximar do mar Negro, região que conta com ampla presença das Marinhas de Rússia e Turquia.
"A situação no mar Negro é frágil devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia", apontou Hazir. "Ao expandirem sua presença para bases na Grécia, os EUA também podem monitorar a situação no mar Negro."
Atento às intenções dos EUA na região, o presidente russo Vladimir Putin anunciou que o mar Negro passará a ser patrulhado por caças MiG-31, armados com mísseis hipersônicos Kinzhal.
© AP Photo / Gavriil GrigorovVladimir Putin participa de reunião de gabinete por videoconferência em Moscou. Rússia, 25 de outubro de 2023
Vladimir Putin participa de reunião de gabinete por videoconferência em Moscou. Rússia, 25 de outubro de 2023
© AP Photo / Gavriil Grigorov
"Isto não é uma ameaça. Com base nas minhas instruções, a Força Aeroespacial russa começará patrulhas permanentes na zona neutra do espaço aéreo sobre o mar Negro, e as aeronaves MiG-31 serão armadas com sistemas Kinzhal", declarou o presidente da Rússia.
Risco para Turquia
As forças russas não são as únicas preocupadas com o aumento da atividade militar norte-americana no Mediterrâneo Oriental. A Turquia também tem mostrado apreensão devido à expansão do uso do território da Grécia, sua rival regional, pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
© AP Photo / Thanassis StavrakisPrimeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, à esquerda, fala com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, durante sua reunião na Mansão Maximos, em Atenas, Grécia, em 20 de fevereiro de 2023. Blinken estará em uma viagem de dois dias em Atenas, após sua visita à Turquia, para se encontrar com os líderes do país e lançar a quarta rodada do Diálogo Estratégico EUA-Grécia.
Primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, à esquerda, fala com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, durante sua reunião na Mansão Maximos, em Atenas, Grécia, em 20 de fevereiro de 2023. Blinken estará em uma viagem de dois dias em Atenas, após sua visita à Turquia, para se encontrar com os líderes do país e lançar a quarta rodada do Diálogo Estratégico EUA-Grécia.
© AP Photo / Thanassis Stavrakis
Nesta segunda-feira (24), os EUA começaram a utilizar a base aérea de Elefsina, perto da capital grega Atenas, para realizar operações voltadas ao Oriente Médio. Outras bases do país, como a da ilha de Cárpato, também poderão ser engajadas pelos norte-americanos, reportou a mídia local.
Além disso, o orçamento de defesa dos EUA para 2024, recentemente aprovado no Congresso, prevê a expansão da presença militar de Washington na Grécia, em particular em suas ilhas no mar Egeu.
De acordo com o analista político turco Umit Nazmi Hazir, a rivalidade entre Grécia e Turquia no Mediterrâneo Oriental pode se agravar devido a uma maior presença militar de Washington.
"Anteriormente, os EUA adotavam uma política de equilíbrio entre a Grécia e a Turquia [...] para impedir que um país tivesse supremacia em relação ao outro no Mediterrâneo Oriental", disse Hazir. "Contudo, nos últimos anos, os Estados Unidos alteraram esta política de equilíbrio a favor da Grécia."
Segundo ele, os EUA passaram a considerar a Grécia uma aliada mais leal, após divergências com a Turquia, que adota uma política externa independente.
© AFP 2023 / Adem AltanRecep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, participa de coletiva de imprensa com Karl Nehammer, chanceler da Áustria, no complexo presidencial de Ancara. Turquia, 10 de outubro de 2023
Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, participa de coletiva de imprensa com Karl Nehammer, chanceler da Áustria, no complexo presidencial de Ancara. Turquia, 10 de outubro de 2023
© AFP 2023 / Adem Altan
"Isso fica claro no caso da Ucrânia, por exemplo, no qual a Turquia tenta manter boas relações tanto com Moscou, quanto com Kiev, enquanto a Grécia providencia apoio incondicional à Ucrânia", notou Hazir.
A Turquia já protestou contra o aumento da presença militar dos EUA no mar Egeu, região na qual existem territórios contestados entre as partes.
"Na minha opinião, o conflito em Israel é uma das razões, mas não a única, pela qual os EUA aumentam a sua presença militar no Mediterrâneo Oriental", concluiu o especialista turco.