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'Dependência crônica' do Ocidente explica apoio de nações africanas a Israel, avaliam especialistas

© Foto / Divulgação /União AfricanaComissão de integrantes da União Africana em Ruanda, março de 2018
Comissão de integrantes da União Africana em Ruanda, março de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 28.10.2023
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A falta de unanimidade entre os 55 países africanos no posicionamento sobre o mais recente conflito entre Israel e o grupo Hamas deve-se principalmente à profunda dependência financeira, tecnológica e econômica de alguns deles com o Ocidente, segundo os analistas Bernardo Kosho e Orlando Mujongo, ouvidos pela Sputnik Brasil.
O tema foi tratado no novo episódio do Mundioka, podcast sobre as raízes do que acontece no mundo. Para os entrevistados, esses países têm muito a compartilhar com a causa palestina, devido ao passado recente de expropriação, violência e dominação de seus povos por projetos coloniais ocidentais. Entretanto, a fragilidade política e econômica dessas nações, fruto de séculos de colonização e dominação, impacta na soberania e autonomia de suas posições geopolíticas.
Professor de Relações Internacionais pela Universidade Privada de Angola, Mujongo ressaltou que essa "dependência crônica" impede que alguns governos do continente assumam posições firmes perante os grandes debates da humanidade.

"A única explicação é esta, porque, do ponto de vista da história, do ponto de vista da própria experiência que as nações africanas tiveram, não se justifica que um país africano, face a essa agressão brutal, assimétrica de Israel contra a Palestina um posicionamento a favor de Israel."

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Muhongo citou Angola, a Liga Árabe e a União Africana, que reúnem as nações do continente, que denunciaram o genocídio contra o povo palestino e pediram a criação de corredores humanitários em Gaza.
Já países como Quênia, Zâmbia, Gana e Congo, por exemplo, demonstraram apoio a Israel, pois "sabem que caso se posicionem contra Israel, perderão o apoio financeiro e econômico do Ocidente".
Indispor-se com Israel pode afetar até a segurança nacional de algumas nações do continente africano.

Tecnologia em segurança e produção de alimentos: principal elos entre Israel e África

O professor angolano salientou que em alguns países, inclusive, o orçamento do Estado depende de doações ou de empréstimos do Ocidente, ou dependem de apoio militar e tecnológico da parte de Israel, que tem como principais produtos de exportação os de tecnologia voltados para segurança, informação, espionagem.
"Há países que têm servidores informáticos, uma série de equipamentos de monitoramento de inteligência controlados ou dominados por israelitas, e acabam reféns desse contexto", citou Mujongo.
Doutor em História e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher explicou que os concertos de Israel com o mundo africano vêm sendo construídos desde a década de 1960, por meio de relações bilaterais.
"Durante a independência e logo após a independência, estava tudo por ser feito. Os aparelhos de segurança, as estruturas de repressão, a inteligência, tudo isso vai sendo montado. Israel aparece com um grande suporte nessa área", comentou o analista da UFF, ao classificar o país de "potência imperial".
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O catedrático da UFF mencionou também a tecnologia para produção de alimentos como outro ponto crucial de aproximação com os países do continente africano que têm desafios com a segurança alimentar:

"Israel desenvolveu um grande sistema de produção agrícola em áreas extremas, principalmente áreas áridas, desérticas, com dessalinização de água, técnicas agrícolas, insumos", lembrou ele. "Exige muita tecnologia, muito investimento para que a agricultura seja rentável, seja lucrativa e Israel fornece esses elementos, o que é uma ajuda imensa", comentou ele.

Em troca, Israel obtém diamantes, minérios, alimentos agrícola, entre outros produtos e insumos. Mas nesse jogo de disputa de territórios e poder, várias peças ainda estão por serem jogadas, pontuou Kocher, uma vez que muitas dessas nações ainda estão medindo as consequências de suas posições.

"A solução de alinhamento com Israel pode alterar um equilíbrio e muitos vão ter eleições. Há a possibilidade de que daí se desdobre uma guerra e problemas de rebelião civil, porque ali também há muitas populações oprimidas, [compostas de] minorias étnicas e religiosas", isto é, em condições similares à realidade da Palestina nas últimas décadas.

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