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Por que o Ocidente teme confiscar os ativos russos e enviá-los para a Ucrânia?

© AFP 2023 / Alexander NemenovMoeda de rublo em frente ao Kremlin, em Moscou
Moeda de rublo em frente ao Kremlin, em Moscou - Sputnik Brasil, 1920, 07.11.2023
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Proponentes europeus e norte-americanos do confisco de ativos russo afirmam ter mais US$ 300 bilhões (R$ 1,46 trilhão) congelados, prontos para serem entregues a Kiev como forma de financiar o lado ucraniano do conflito contra a Rússia. No entanto, por que o Ocidente ainda reluta em tomar esta iniciativa?
O primeiro motivo é, na verdade, que é bem difícil encontrar esse dinheiro. Embora se tenha relatado que US$ 300 bilhões (R$ 1,46 trilhão) em fundos do Banco Central russo estavam retidos no exterior, especialistas financeiros de Washington revelaram no final de 2022 que o montante real apreendido podia estar mais próximo de US$ 80 bilhões (R$ 389 bilhões) a US$ 100 bilhões (R$ 487 bilhões), e que tanto os EUA quanto a União Europeia estão com dificuldades para encontrar esses fundos.
Em fevereiro do ano passado, ainda, a Bloomberg noticiou que a UE, que se estimava deter mais de dois terços dos fundos expropriados, tinha encontrado somente US$ 36,5 bilhões (R$ 177 bilhões) até então.
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Perigos para a reputação

A verdadeira causa, no entanto, não é técnica ou jurídica, mas tem a ver com os riscos para a reputação dos EUA e da União Europeia. Em um artigo de opinião publicado em 5 de novembro no Financial Times, o comentador Martin Sandbu explicou que os "obstáculos legais" são apenas a "justificativa" para explicar a impossibilidade de entregar o dinheiro russo à Ucrânia.
O Ocidente não agiu contra a Rússia, explica Sanbu, por "receio de que o confisco dos ativos russos faça com que outros países não ocidentais retirem suas próprias reservas dos Estados Unidos, no caso do mesmo tratamento poder um dia ser aplicado a eles".

"A preocupação poderia desestabilizar o sistema financeiro global e, em particular, diminuir os investidores cativos em dólares e euros entre os gestores de reservas dos bancos centrais", disse.

E ainda que o comentador passe o resto de seu artigo instigando as nações ocidentais a ignorarem a mancha em suas reputações, países ao redor do mundo já olham com desconfiança para o controle que os Estados Unidos e seus aliados detêm do sistema financeiro mundial.
É o caso da China, que realizou no passado uma conferência de emergência com os principais bancos nacionais e estrangeiros para procurar formas de proteger seus ativos caso os Estados Unidos impusessem sanções semelhantes às impostas à Rússia. Pequim é, hoje, um dos maiores credores estrangeiros de Washington, possuindo aproximadamente US$ 860 bilhões (R$ 4,1 trilhões) em títulos do Tesouro dos EUA, além de outros ativos no estrangeiro que somam quase US$ 10 trilhões (R$ 48 trilhões).
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A Arábia Saudita é outro grande credor dos Estados Unidos e da Europa que vê com desconfiança as sanções à Rússia. O país, neste ano, tomou medidas importantes para diversificar seu alinhamento geoestratégico, buscando normalizar relações com o Irã e aderindo ao bloco BRICS, que hoje trabalha pela criação de uma moeda única para suas transações comerciais.
Segundo o advogado criminal internacional e especialista em direitos humanos, Christopher Black, além de constituir um "ato de guerra", a apreensão e transferência de fundos russos minaria fundamentalmente o Estado de direito na Europa "porque se puderem fazer isso à Rússia, poderão fazê-lo com qualquer cidadão".
"Na prática, clientes de bancos europeus não estarão sujeitos à lei, mas aos caprichos dos políticos, o que minaria a credibilidade da UE entre os depositantes estrangeiros", disse Black à Sputnik no início de 2023.
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