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Expresso do Oriente (Médio): um retrato de como os EUA roubaram o futuro de uma região

© AP Photo / Jerome DelayCivis iraquianos e soldados norte-americanos derrubam uma estátua de Saddam Hussein no centro de Bagdá, em 9 de abril de 2003
Civis iraquianos e soldados norte-americanos derrubam uma estátua de Saddam Hussein no centro de Bagdá, em 9 de abril de 2003 - Sputnik Brasil, 1920, 10.11.2023
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Ao longo dos séculos, os problemas do Oriente Médio foram ampliados pela presença na região de diferentes impérios. Entretanto, nenhum império deixaria marcas mais profundas — e nocivas — do que o império americano.
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que as atuais fronteiras entre os países da região foram constituídas por intermédio de potências europeias como França e Reino Unido, sobretudo após o final da Primeira Guerra Mundial.
Logo de saída, portanto, as linhas que dividiam os diferentes Estados do Oriente Médio não levaram em conta aspectos como língua, etnia ou mesmo identidade locais, o que traria efeitos catastróficos durante as décadas seguintes. Eventualmente, as potências europeias deixaram sim a região, mas as marcas de sua intervenção e divisões permanecem até os dias de hoje.
Já na década de 1930, às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, em uma região muito mais distante do Oriente Médio do que a Europa, tinha surgimento a futura superpotência global, os Estados Unidos da América, cuja produção industrial e economia haviam superado com folga os principais poderes europeus de seu tempo, incluindo Reino Unido e Alemanha.
Após estender seus domínios do Atlântico ao Pacífico, os Estados Unidos participaram de forma decisiva nas duas grandes guerras da primeira metade do século XX, travadas com o intermédio de novas armas de destruição e, não menos importante, pela utilização do petróleo como principal combustível para a indústria e para os exércitos.
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A própria Alemanha Nazista, cuja derrota na guerra fora praticamente selada já na Batalha de Stalingrado, sabia da importância estratégica do acesso ao petróleo para o poderio de uma nação. Os americanos logo tomaram nota dessa lição. Não por acaso, durante o pós-guerra, enquanto financiavam a reconstrução europeia, os Estados Unidos voltaram seu olhar para o Oriente Médio na esperança de firmar sua presença em uma região rica em recursos naturais, sobretudo petróleo e gás.
Na década de 1940 em diante, seguiu-se então o estabelecimento de uma extensa rede de alianças com países locais (com destaque para a aliança entre Estados Unidos e Arábia Saudita), fundamentada na transferência de armas, auxílio financeiro e na construção de bases militares estratégicas, para o monitoramento de atividades locais e, se necessário, para intervenções rápidas nos Estados da região.
Foi assim que os americanos roubaram o futuro do Oriente Médio, com a Casa Branca disposta a empregar todos os meios necessários para manter sua influência perante as lideranças regionais e seu controle sobre recursos naturais considerados essenciais para sua máquina de guerra e economia.
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Com isso, durante boa parte da Guerra Fria foram desenvolvidos lobbies importantes perante o Congresso americano, como os representados pelo complexo militar industrial e por empresas do ramo petrolífero, que exigiam uma presença estadunidense constante no Oriente Médio.
Aqui também entra a importância das diversas bases militares na região, que deveriam ser mantidas como prioridade número um dos governantes em Washington, qualquer que fosse sua orientação política, não importando se o presidente dos Estados Unidos fosse um democrata ou um republicano.
Como se não bastasse, para ancorar ainda mais sua posição regional, a partir de 1948 os Estados Unidos se tornaram os principais patrocinadores financeiros e políticos do recém-declarado Estado de Israel, ainda que a contragosto de vários países árabes vizinhos. A estratégia americana baseava-se no conceito de "Estado-chave", no qual os Estados Unidos delegavam a missão de manter a ordem e a estabilidade política regional a um país selecionado.
O intuito, em resumo, era utilizar uma potência local para desempenhar o papel de defensor da Pax Americana e, com isso, manter a hegemonia dos Estados Unidos no plano global. No Oriente Médio esse papel foi designado a Israel, com quem os americanos passaram a ter um relacionamento especial desde sua fundação.
Diante dessa lógica, Washington começou a auxiliar Tel Aviv com verdadeiras toneladas de dinheiro e de equipamento militar, fator essencial para a vitória do Exército israelense em diferentes guerras contra seus vizinhos árabes, muitos dos quais não aceitam até hoje a presença do Estado de Israel na região.
Para os árabes, o processo de fundação de Israel foi ilegítimo devido à deportação forçada de centenas de milhares de palestinos ocorrida entre os anos de 1947 e 1948, tragédia conhecida em árabe pelo nome de Nakba. Seja como for, e sem atentar sequer para esse grande problema histórico, os Estados Unidos decidiram apoiar Israel qualquer que fosse a circunstância, provocando consequências catastróficas nos países do entorno.
Ademais, outro dos objetivos americanos no Oriente Médio é o de limitar a influência de outras potências na região (na Guerra Fria, tratava-se da União Soviética, e hoje, de Rússia e China), cuja importância geopolítica é fundamental para os interesses globais de Washington. A partir dos anos 1990, por fim, os Estados Unidos, como única superpotência com mais de 800 bases militares espalhadas pelo planeta, reivindicaram para si o papel de policial do mundo e de defensor incontestável da "democracia" e dos chamados "direitos humanos".
Como os americanos operacionalizaram essa defesa, alguém poderia perguntar. Simples, pela destituição e derrubada forçada de líderes e de governos locais, como fora o caso de Saddam Hussein em 2003 no Iraque, culminando em um verdadeiro caos político e econômico regional.
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Ao final, as alianças americanas que ainda perduram com países como Israel e Arábia Saudita apenas confirmam a influência de Washington na região, e demonstram que a Casa Branca não vai largar mão fácil de seus interesses geopolíticos egoístas, seja por questões estratégicas, seja por controle de recursos.
Diante desse contexto, a continuidade da presença americana no Oriente Médio pura e simplesmente é o seu principal fator de desestabilização. E quanto mais tempo esse império vindo do outro lado do Atlântico permanecer por lá, mais difícil será imaginar o futuro.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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