Rússia e América Latina: parceria na construção de um mundo multipolar
14:03 17.11.2023 (atualizado: 17:03 17.11.2023)
© Sputnik / Aleksei FilippovBandeiras venezuelanas e russas tremulam ao lado do monumento ao líder independentista sul-americano Simón Bolívar, inaugurado em Moscou para marcar seu 240º aniversário de nascimento. Rússia, 16 de julho de 2023
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Atualmente há um grande número de países empreendendo esforços para a construção de um mundo multipolar, dentre eles os países latino-americanos e a Rússia. Este, por um lado, é o resultado das ações erráticas do Ocidente, que destruiu por completo a confiança nos princípios e nas normas do convívio internacional.
Com isso, tem crescido também o número de países que optaram por seguir uma política externa independente, a exemplo da Rússia, em contraposição ao totalitarismo político do "eixo autoritário" mundial representado pelos países ocidentais e capitaneado pelos Estados Unidos.
Diante desse contexto, regiões como a América Latina, que sempre foi vítima de golpes de Estado no passado e de interferências do Ocidente em seus negócios domésticos, sabem que já não podem se sentir seguras diante do atual estado das coisas.
Hoje, o nível de confiança da "maioria global" no Ocidente foi reduzido significativamente, em função das crises no Leste Europeu e no Oriente Médio, que lançaram luz à verdadeira face "anti-humanista" de europeus e de norte-americanos.
Ao mesmo tempo, blocos militares como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) prometem ampliar sua presença na Ásia, aumentando as tensões com a China e demonstrando indícios de que estão prontos para iniciar mais uma guerra agressiva, a fim de enfraquecer um adversário geopolítico.
© Sputnik / Anatoly MedvedAutoridades da Rússia e do Brasil dialogam durante encontro no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês). Rússia, 14 de junho de 2023
Autoridades da Rússia e do Brasil dialogam durante encontro no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês). Rússia, 14 de junho de 2023
© Sputnik / Anatoly Medved
Ao assistir a toda essa loucura, a América Latina tem preferido estabelecer alianças estratégicas extrarregionais com países como a China e a Rússia que, contrariamente ao Ocidente, defendem a "democratização das relações internacionais".
Apesar de não serem pautadas por proximidade geográfica ou cultural, as relações da América Latina com Moscou se refletem em sua proximidade de princípios e de valores comuns em política externa.
Esta, aliás, tem sido uma das principais marcas dessa nova ordem global, na qual a cooperação inter-regional funciona como eixo de contestação ao hegemonismo do "eixo autoritário" ocidental. Em síntese, esse processo demonstra a oposição da "maioria global" de um lado e do Ocidente do outro, oposição que tende a se fortalecer pelos próximos anos.
Ainda que, por enquanto, o chamado Ocidente coletivo mantenha grande influência em instituições-chave da governança global, essa dominância vem paulatinamente se degradando com o tempo. Novos centros de poder como Índia e China, por exemplo, já apresentam economias cujo peso pode ser colocado a par com a das principais potências ocidentais, dando uma cara mais asiática para a geopolítica do século XXI.
© Grigory SysoevO ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, participam de uma reunião em Moscou. Rússia, 11 de novembro de 2023
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, participam de uma reunião em Moscou. Rússia, 11 de novembro de 2023
© Grigory Sysoev
Afinal, a tendência é de que o Oriente continue a se fortalecer enquanto o Ocidente enfraquece cada vez mais e de forma óbvia, uma vez que já não consegue angariar o apoio da opinião pública mundial para suas empreitadas.
É nesse contexto que a Rússia de Putin, além de reivindicar uma liderança conjunta com o Sul Global, incluindo a América Latina, tem trabalhado para defender a formação de um mundo multipolar baseado na pluralidade de valores e de civilizações.
Em vista disso, o Ocidente não é mais capaz de estabelecer padrões e de ditar regras de conduta aos demais países, sobretudo em vista de seu apoio criminoso às hostilidades, hoje em curso no Leste Europeu e na Faixa de Gaza.
Vemos que, ao ser deixada nas mãos do Ocidente, a ordem internacional dos últimos anos essencialmente se tornou muito menos segura para um grande número de povos ao redor do mundo; hoje, em especial, para os palestinos.
Contudo, a oposição atual entre o Ocidente coletivo e a "maioria global", capitaneado pela Rússia, representa um sinal de que as coisas estão mudando, e mudando de forma muito mais rápida do que se imaginava.
Nas próximas décadas, por exemplo, a tendência é de que a América Latina faça parte ativamente da consolidação de um mundo multipolar, em cooperação com importantes centros de poder como Moscou e Pequim.
© Sputnik / Ministério das Relações Exteriores da RússiaMinistro das Relações Exteriores da Bolívia, Rogelio Mayta, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, participam de uma entrevista coletiva conjunta após sua reunião em Moscou. Rússia, 22 de outubro de 2021
Ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Rogelio Mayta, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, participam de uma entrevista coletiva conjunta após sua reunião em Moscou. Rússia, 22 de outubro de 2021
© Sputnik / Ministério das Relações Exteriores da Rússia
Isso porque o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) e de outras instituições internacionais dominadas pelo Ocidente se mostrou ineficaz em deter o sofrimento humano generalizado, fornecendo o ambiente ideal para a formação de alianças estratégicas como entre a Rússia e a América Latina.
A respeito, aliás, das relações de Moscou com a região, é preciso dar crédito às ideias do eminente diplomata russo Yevgeny Primakov, ministro das Relações Exteriores entre 1996 e 1998, que impulsionou a Rússia a atingir seus interesses em política externa por meio da cooperação com diferentes centros emergentes ao redor do globo.
Em suas visitas realizadas à América Latina ao longo da carreira, Primakov já falava sobre a construção de um mundo multipolar, quando essa realidade ainda parecia ser muito distante. Tal interpretação, portanto, mostrou-se verdadeira e fez com que as relações bilaterais russo-latino-americanas se baseassem não em afinidades ideológicas, mas em afinidades quanto a objetivos comuns de política externa.
Desde então, a Rússia sempre esteve interessada no fortalecimento da América Latina como um centro de poder independente do mundo multipolar, conforme defendido inúmeras vezes pelo atual ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e pelo presidente russo, Vladimir Putin.
© Sputnik / Sergei GuneevO presidente argentino, Alberto Fernández, e o presidente russo, Vladimir Putin, apertam as mãos durante uma entrevista coletiva conjunta após sua reunião no Kremlin, em Moscou. Rússia, 3 de fevereiro de 2022
O presidente argentino, Alberto Fernández, e o presidente russo, Vladimir Putin, apertam as mãos durante uma entrevista coletiva conjunta após sua reunião no Kremlin, em Moscou. Rússia, 3 de fevereiro de 2022
© Sputnik / Sergei Guneev
A América Latina, por sua vez, se interessou pela cooperação com a Rússia como forma de contrabalancear o domínio dos Estados Unidos na região.
Moscou e as elites latino-americanas, em resumo, apoiam um mundo no qual possa imperar não os ditames de uma superpotência isolada e narcisista, mas o respeito ao multilateralismo e aos interesses legítimos da chamada "maioria global".
Por fim, a reação à crise ucraniana e aos ataques recentes de Israel na Faixa de Gaza mostraram que os países latino-americanos não mais corroboram as políticas criminosas do Ocidente no Leste Europeu e no Oriente Médio.
© Sputnik / Grigory SysoevO ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o embaixador do Chile na Rússia, Eduardo Raul Escobar Marin, brindam com champanhe durante cerimônia em Moscou. Rússia, 15 de setembro de 2023
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o embaixador do Chile na Rússia, Eduardo Raul Escobar Marin, brindam com champanhe durante cerimônia em Moscou. Rússia, 15 de setembro de 2023
© Sputnik / Grigory Sysoev
Pelo contrário, hoje a América Latina, juntamente com a Rússia, tem condenado as ações destrutivas do "eixo autoritário" representado pelas elites atlanticistas, que a todo custo tentam manter o controle das rédeas do sistema internacional.
Consegui-lo, entretanto, já não é mais possível, pois o mundo unipolar da década de 1990 já se desfez de uma vez por todas. O momento agora é outro. O momento agora, como as relações entre a Rússia e a América Latina provam, é o da construção de um mundo mais justo, mais humano e multipolar.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.