Analista diz que padrão duplo do Ocidente sobre Gaza revela 'uma espécie de anátema contra a Rússia'
© AFP 2023 / Mahmud HamsPalestinos enterram corpos em uma vala comum no cemitério Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, 22 de novembro de 2023
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O conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas revelou que os parâmetros com que os países ocidentais medem os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia não são os mesmos, concordam especialistas consultados pela Sputnik.
Na quarta-feira (22), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se questionou por que os líderes mundiais "não ficam chocados" com as palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre Gaza "ser um enorme cemitério infantil".
Para o doutor Humberto Morales, acadêmico da Universidade Autônoma de Puebla (UAP) e especialista nas relações Rússia-México, no conflito israelo-palestino há uma clara violação do direito internacional por parte de Israel.
"Não se pode negar que a origem de Gaza é um ataque terrorista do Hamas contra o Estado de Israel, mas este ataque terrorista causou uma invasão territorial e uma situação de mortes de civis inaceitável na lógica das Nações Unidas, ao contrário do modelo da operação militar especial na Ucrânia, onde foi tomado cuidado para garantir que as vítimas fossem estritamente militares com o mínimo de [vítimas] civis possível", disse Morales em entrevista à Sputnik.
A 'moralidade desorientada' do Ocidente
Nesse sentido, o especialista disse que "houve uma espécie de anátema do Ocidente em relação à Rússia" porque, quando a crise ucraniana começou em fevereiro de 2022, Moscou foi injustamente acusada de grandes agressões contra a população civil, quando na realidade isso não era verdade. O caso não pode ser comparado com o que Tel Aviv fez "deliberadamente" no enclave palestino, onde mais de 14 mil pessoas morreram devido às hostilidades entre as tropas de Israel e o Hamas, segundo os últimos dados oficiais disponíveis.
Apesar da tragédia, os Estados Unidos e alguns países ocidentais ignoraram ou foram ambíguos nas suas posições sobre a crise em Gaza, considera o professor Carlos Manuel López Alvarado, especialista em Relações Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
"A moral deles é desorientada, é uma moral construída, uma moral política, uma moral de conveniência; a morte de crianças não deveria ser de conveniência", ressalta o especialista. López Alvarado acrescentou ainda que "esta moral fictícia, construída e distorcida responde a interesses políticos, e é claro que vão deixar o conflito continuar, embora já tenha sido discutido um cessar-fogo, mas temos de compreender que o conflito está presente desde 1947".
Segundo o professor, o que Washington está pondo em jogo no conflito no Oriente Médio é o seu projeto civilizacional.
"Os Estados Unidos observam como a sua hegemonia está sendo desafiada [...], o Ocidente se sente ameaçado, e então toda a máquina de propaganda, a máquina política e diplomática, é mobilizada para medir, para falar de diferentes maneiras sobre estes conflitos", disse o acadêmico da UNAM.
Guerra energética
Para o doutor Morales, por trás da posição do Ocidente está uma batalha para garantir o fornecimento de energia e alimentos à Europa e uma tentativa de torná-los não dependentes da Rússia.
"Os Estados Unidos sempre tentaram controlar a influência da Rússia através do Irã e da Síria no Oriente Médio porque são territórios onde não devemos esquecer que o futuro energético da Europa e do Oriente Médio está em jogo; ou seja, Israel precisa ter o controle do gás encontrado na área de Gaza porque é a energia que pode garantir a sobrevivência na autonomia energética da Europa e do Oriente Médio no que diz respeito ao gás russo", explicou o acadêmico da UAP.
Além disso, o especialista observou que está sendo feita uma tentativa de controlar territórios-chave para a transferência de alimentos e matérias-primas que Moscou tem transferido recentemente para África, mas que anteriormente eram transferidos para a Europa.
"Isso é uma guerra alimentar, é uma guerra energética e os norte-americanos tentam não tornar a Europa e Israel dependentes do mercado energético russo", afirma o especialista.
No entanto, salienta Morales, os Estados Unidos estão em uma posição muito delicada porque têm de justificar as ações dos seus aliados, mesmo que violem o direito humanitário internacional, como é o caso de Israel.