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Odeio, logo existo: por que conteúdos neonazistas se proliferam nas redes sociais?
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Transfobia, misoginia, racismo, xenofobia: quanto mais odiável, mais engajamento tem um conteúdo nas redes sociais. 21.12.2023, Sputnik Brasil
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Estudiosos ouvidos pela Sputnik Brasil concordam que o cerne do problema está na perda do sentimento de coletividade por parte da sociedade, substituído pelo individualismo exacerbado que vê nas minorias a causa de todos os fracassos pessoais.O pesquisador tem se debruçado nos últimos anos sobre temas relacionados ao discurso de ódio. Ele avalia que o neonazismo na contemporaneidade atrai muita gente, pois reforça a ideia de que o indivíduo não é bem-sucedido, é fracassado, porque está sendo prejudicado por outros grupos.Pondera ainda que, diferentemente de países como os da Europa e dos EUA, em que os imigrantes são os principais bodes expiatórios dos problemas sociais e econômicos no Brasil, os alvos são principalmente as minorias sexuais, as feministas e a população negra.A religião também dá uma série de respostas para fracassos individuais, pontua Vaz, na lógica da teologia da prosperidade, que se fortaleceu nos anos 1980, nos EUA, e hoje está muito presente no Brasil.Essa corrosão do sentimento coletivo tem efeitos também nas plataformas virtuais, salienta Vaz que, diferentemente das telecomunicações, não têm função pública."Radicalização implica engajamento. O que importa para as plataformas é ter audiência, ter engajamento, e a radicalização favorece. Então o interesse em barrar conteúdo, se tem audiência, é mínimo", explicitou Vaz.O exemplo mais recente e notório no caso brasileiro foi o ataque à conta da primeira-dama, Janja Lula da Silva. A plataforma musical Spotify removeu a página, mas não informou como o perfil conseguiu conta verificada.A Polícia Federal (PF) identificou que um dos responsáveis pela invasão era dono do perfil "Maníaco" e produzia músicas sobre supremacia racial e temas afins em várias plataformas, com selo de artista verificado e média mensal de mais de 4 mil ouvintes.Janja se pronunciou na última terça-feira (19) sobre o assunto e destacou a importância de responsabilizar as plataformas, a fim de que "não sigam lucrando em cima do ódio".Para a pesquisadora em educação midiática, desinformação, raça, gênero e tecnologia Gabriela de Almeida Pereira, a construção de um ambiente virtual seguro e democrático demanda a regulação das plataformas e dos critérios claros:A censura de conteúdos pontuais, como os pró-Palestina, no atual conflito entre Israel e o grupo Hamas, também é reflexo de atividades praticadas por empresas privadas, afirma Vaz, sem compromisso com a questão pública, preocupada apenas com a imagem:Sem oportunidades e perspectivas, juventude é facilmente cooptadaDe acordo com ambos os especialistas ouvidos, estudos revelam que os espaços de jogos on-line são ambientes férteis para atrair jovens para grupos com ideias neonazistas.Segundo Vaz, jovens especialmente do sexo masculino têm tido dificuldade de lidar com mudanças morais e novas formas de sexualidade impulsionadas pelo feminismo e pelos movimentos LGBTQIA+. "Aí o neonazismo é prato cheio. É claro que essas pessoas vão ouvir o discurso que vai reforçar a crença delas", frisa.Como tirar esse ódio do coração e das redes?Para reverter isso, é fundamental um diálogo acolhedor com os jovens antes que escale para uma situação de violência, argumenta Gabriela, que também é diretora de Relações Institucionais da organização Redes Cordiais, que promove educação midiática, com o apoio de influenciadores digitais, para tornar o ambiente virtual menos hostil:Produzir dados e mapear esses conteúdos é o primeiro passo para tentar reverter esse problema, segundo a pesquisadora.Políticas públicas de educação midiática, que promovam o diálogo, o acolhimento e a saúde mental de educadores e jovens também são necessárias e urgentes, acrescenta.Segundo ela, uma iniciativa exitosa que deve ser replicada foi lançada no início do ano pela Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, que vem produzindo materiais de combate à violência nas escolas e diretrizes sobre educação midiática em escolas de tempo integral.
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https://noticiabrasil.net.br/20231221/human-rights-watch-meta-silencia-apoiadores-palestinos-aumentando-a-censura-on-line-32138521.html
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Odeio, logo existo: por que conteúdos neonazistas se proliferam nas redes sociais?
15:23 21.12.2023 (atualizado: 16:45 21.12.2023) Especiais
Transfobia, misoginia, racismo, xenofobia: quanto mais odiável, mais engajamento tem um conteúdo nas redes sociais.
Estudiosos ouvidos pela Sputnik Brasil concordam que o cerne do problema está na perda do sentimento de coletividade por parte da sociedade, substituído pelo individualismo exacerbado que vê nas minorias a causa de todos os fracassos pessoais.
"Você demoniza o outro para se autoavaliar positivamente. Logo, se não fossem essas pessoas horríveis, esses monstros morais, se não fossem os judeus, se não fossem os negros, se não fossem os gays, a gente estaria bem no mundo de hoje", comenta o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Vaz.
O pesquisador tem se debruçado nos últimos anos sobre temas relacionados ao discurso de ódio. Ele avalia que o
neonazismo na contemporaneidade atrai muita gente, pois reforça a ideia de que o indivíduo não é bem-sucedido, é fracassado, porque está sendo prejudicado por outros grupos.
Pondera ainda que, diferentemente de países como os da Europa e dos EUA, em que
os imigrantes são os principais bodes expiatórios dos problemas sociais e econômicos no Brasil, os alvos são principalmente as minorias sexuais, as feministas e a
população negra.
"Aqui no Brasil o que incomoda é quando o Estado age em prol de minorias, com ações afirmativas de direito e de respeito a esses grupos", defende ele.
A religião também dá uma série de respostas para fracassos individuais, pontua Vaz, na
lógica da teologia da prosperidade, que se fortaleceu nos anos 1980, nos EUA, e hoje está muito presente no Brasil.
"É a fé do indivíduo que vence por si mesmo com o discurso neoliberal. A fé como forma de ascensão social, graças a Deus — e contra […], portanto, qualquer ação coletiva, [qualquer] auxílio do Estado."
19 de dezembro 2023, 18:47
Essa corrosão do sentimento coletivo tem efeitos também nas plataformas virtuais, salienta Vaz que, diferentemente das telecomunicações, não têm função pública.
"Radicalização implica engajamento. O que importa para as plataformas é ter audiência, ter engajamento, e a radicalização favorece. Então o interesse em barrar conteúdo, se tem audiência, é mínimo", explicitou Vaz.
O exemplo mais recente e notório no caso brasileiro foi o
ataque à conta da primeira-dama,
Janja Lula da Silva. A plataforma musical Spotify removeu a página, mas não informou como o perfil conseguiu conta verificada.
A Polícia Federal (PF)
identificou que um dos responsáveis pela invasão era dono do perfil "Maníaco" e produzia músicas sobre supremacia racial e temas afins em várias plataformas, com selo de artista verificado e
média mensal de mais de 4 mil ouvintes.
Janja se
pronunciou na última terça-feira (19) sobre o assunto e destacou a importância de
responsabilizar as plataformas, a fim de que "
não sigam lucrando em cima do ódio".
Para a pesquisadora em educação midiática, desinformação, raça, gênero e tecnologia Gabriela de Almeida Pereira, a construção de um ambiente virtual seguro e democrático demanda a regulação das plataformas e dos critérios claros:
"Sobre o caso da Janja, por exemplo, o Spotify afirmou que 'as regras da plataforma deixam claro que não permitimos conteúdo que promova o extremismo violento ou conteúdo que incite à violência ou ao ódio contra um grupo'. Mas isso não é suficiente, visto que o rapaz citado tinha perfil ativo, no qual publicava conteúdos de ódio contra mulheres e negros, com uma média de 4 mil ouvintes mensais", frisa a especialista.
21 de dezembro 2023, 09:13
A
censura de conteúdos pontuais, como
os pró-Palestina, no atual
conflito entre Israel e o grupo Hamas, também é reflexo de atividades praticadas por empresas privadas, afirma Vaz, sem compromisso com a questão pública, preocupada apenas com a imagem:
"Tem o lobby pró-Israel, muito poderoso, por exemplo, nos Estados Unidos. Antes de haver a guerra, não havia preocupação com esses discursos. Então, claramente, é uma preocupação com a imagem. Se não não for prejudicar a imagem deixa o nicho existir, deixa a audiência existir", comenta o professor da UFRJ.
Sem oportunidades e perspectivas, juventude é facilmente cooptada
De acordo com ambos os especialistas ouvidos, estudos revelam que os espaços de jogos on-line são ambientes férteis para atrair jovens para grupos com ideias neonazistas.
"Há desde o uso de códigos para abordar temas específicos e espalhar mensagens com conteúdos de ódio até falas mais explícitas. Para a produção de conteúdo e um consequente espelhamento dos atos fora do ambiente virtual, há, para além das músicas, a construção de jogos protagonizados por personagens extremistas e a prática posterior dessas posturas em situações reais de violência contra negros e judeus", exemplifica Pereira.
Segundo Vaz, jovens especialmente do sexo masculino têm tido dificuldade de lidar com mudanças morais e novas formas de sexualidade impulsionadas pelo feminismo e pelos movimentos LGBTQIA+. "Aí o neonazismo é prato cheio. É claro que essas pessoas vão ouvir o discurso que vai reforçar a crença delas", frisa.
8 de novembro 2023, 15:45
Como tirar esse ódio do coração e das redes?
Para reverter isso, é fundamental um diálogo acolhedor com os jovens antes que escale para uma situação de violência, argumenta Gabriela, que também é diretora de Relações Institucionais da organização Redes Cordiais, que promove educação midiática, com o apoio de influenciadores digitais, para tornar o ambiente virtual menos hostil:
"Acreditamos que o canhão que esses criadores de conteúdo possuem é um meio fundamental para alcançarmos pessoas que estão consumindo informações por vias que muitas vezes as escolas, os pais, o governo e a imprensa não conseguem alcançar. Assim, buscamos afastar grupos mais vulneráveis de círculos odiosos, fortalecer a capacidade dessas pessoas de não cair em fake news e promover ambientes virtuais mais seguros e saudáveis para todas as pessoas", explica.
Produzir dados e mapear esses conteúdos é o primeiro passo para tentar reverter esse problema, segundo a pesquisadora.
"O Brasil precisa investir em pesquisas sobre esses grupos, quais caminhos levam os jovens ao radicalismo e a grupos de ódio, como são recrutados, como resolver as fragilidades emocionais que são basilares para essa aproximação, entre outros fatores importantes", destaca a especialista.
Políticas públicas de educação midiática, que promovam o diálogo, o acolhimento e a saúde mental de educadores e jovens também são necessárias e urgentes, acrescenta.
Segundo ela, uma iniciativa exitosa que deve ser replicada foi lançada no início do ano pela Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, que vem produzindo materiais de combate à violência nas escolas e diretrizes sobre educação midiática em escolas de tempo integral.
"Um problema complexo como esse precisa de ações que envolvam a sociedade civil, o governo, as plataformas, os educadores, os pais e responsáveis e, claro, os jovens. Esses grupos que estão mais vulneráveis e expostos a conteúdos de ódio precisam ser ouvidos e fazer parte da construção de soluções", conclui Gabriela Pereira.