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O vetor asiático da política externa brasileira e as relações do país com Rússia, China e Índia

© Foto / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert / CC BY 2.0O presidente da China, Xi Jinping, recebe o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no no Grande Palácio do Povo, Pequim, China, 14 de abril de 2023
O presidente da China, Xi Jinping, recebe o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no no Grande Palácio do Povo, Pequim, China, 14 de abril de 2023  - Sputnik Brasil, 1920, 08.01.2024
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A convergência entre o Brasil e potências asiáticas como Índia, China e Rússia tem aumentado nos últimos tempos, seja por conta de sua cooperação no BRICS ou mesmo âmbito do G20. Mas afinal, seria essa a principal direção atual adotada pela política externa brasileira?
A priori, a aproximação política do Brasil com países importantes da Ásia está sedimentada por uma tradição de defesa da multipolaridade nas relações internacionais, assim como pela denúncia aos privilégios do Ocidente em organizações multilaterais de governança global, como é o caso do Banco Mundial e o FMI. Com a Índia, maior população do planeta e quinta economia do mundo — a caminho de se tornar a terceira em poucos anos — o Brasil já estabelecera uma cooperação política bastante intensa desde o início dos anos 2000 através do grupo IBAS (Índia, Brasil, África do Sul), que visava discutir posições comuns diante de questões internacionais importantes. Se, por um lado, a relação comercial entre os dois países está longe de refletir o potencial demonstrado na esfera política por Brasil e Índia, ainda assim as exportações brasileiras para o mercado indiano no setor alimentício apresentam boas perspectivas no futuro. Afinal, hoje existem mais de 300 milhões de indianos na classe média, contingente esse comparável à totalidade da população americana, o que representa um mercado não negligenciável não somente para o setor exportador do Brasil, como para demais potências emergentes do globo.
A Índia, aliás, também busca criar uma aliança global de biocombustíveis envolvendo o Brasil e os Estados Unidos, de modo a promover o compartilhamento de tecnologias com esses países. Fato é que as ambições geopolíticas de Nova Deli, fundamentadas em seu vigoroso crescimento econômico ao longo dos últimos anos, são fatores que impelem a Índia a trabalhar com afinco em sua transição energética. Nesse sentido, o Brasil, que possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, poderá cooperar com os indianos para o estabelecimento de metas de transição mais sustentáveis. Em 2024, no encontro do G20 a ser realizado no Brasil, Narendra Modi e Lula deverão discutir estes e outros temas da agenda internacional.
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Em se tratando de China, desde o início dos anos 2000, as relações do Brasil com o Império do Meio têm experimentado uma série de transformações significativas, impulsionadas tanto por fatores econômicos, como políticos e sociais. Em termos de comércio, a China se tornou o principal parceiro do Brasil após a Crise Financeira de 2008, fator esse impulsionado pela necessidade chinesa de commodities (como soja, petróleo, minério de ferro e carne) além de outros recursos naturais importantes para sustentar seu crescimento econômico. Sobretudo na primeira década dos anos 2000, tal intercâmbio comercial foi fator decisivo para o crescimento econômico brasileiro nos primeiros dois mandatos de Lula. Por sua vez, a China tem investido em diversos projetos de infraestrutura no Brasil em segmentos que vão desde energia renovável até transporte.
No campo político, os dois países têm buscado fortalecer seus laços através da cooperação em fóruns como o BRICS e o G20. Não por acaso, Lula fez uma visita de quatro dias à China no ano passado, com o fito de consolidar ainda mais essa parceria sino-brasileira nos mais diversos campos (comercial, mudança climática, segurança alimentar e governança global). No BRICS, aliás, tanto Brasília quanto Pequim já compartilham desde 2009 uma visão de reforma das instituições internacionais dominadas pelo Ocidente, para melhor refletir a atual distribuição de poder no cenário internacional. Além disso, a colaboração política com a China representa para o Brasil a possibilidade de diversificar seus parceiros políticos extrarregionais, diminuindo assim sua dependência dos Estados Unidos, por exemplo. O Brasil, ademais, também busca aproveitar a expertise chinesa em áreas como inteligência artificial e telecomunicações para impulsionar seu próprio desenvolvimento tecnológico.
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No caso da Rússia, outra potência asiática por excelência (mais de 70% do território russo se encontra na Ásia), as relações do Brasil com o país têm sido caracterizadas pela intensificação de parcerias estratégicas nas mais diversas áreas. Mesmo após as sanções do Ocidente contra Moscou em 2022, o comercial bilateral Brasil-Rússia teve um aumento de mais de 30% naquele mesmo ano, atingindo a marca de quase US$ 10 bilhões. Embora, de fato, a cooperação econômica entre os dois países ainda seja muito limitada se comparada a seu comércio com outros parceiros importantes (como a China, por exemplo), ambos os governos têm manifestado interesse em ampliar essas cifras para o futuro. No âmbito político, mantém-se uma convergência de princípios entre a chancelaria brasileira e russa em questões relevantes, com destaque para a defesa da multipolaridade e do multilateralismo nas relações internacionais. A parceria entre Brasil e Rússia também se estende à colaboração científica e tecnológica, com acordos bilaterais sendo firmados para o intercâmbio de conhecimento em áreas como energia nuclear e espacial, nas quais os russos detêm notada expertise. Em se tratando do conflito na Ucrânia, por sua vez, o Brasil em votações na ONU entendeu ter sido incorreta a decisão de dar início à operação militar especial em 2022; todavia, é preciso deixar claro que a chancelaria brasileira demonstrou compreensão quanto ao pano de fundo geopolítico que motivou as ações de Moscou, em especial a justificada preocupação russa com o avanço irrestrito da OTAN para o Leste Europeu e a absorção da Ucrânia como um país-membro dessa aliança militar comandada pelos Estados Unidos. Não obstante, o Brasil também não aderiu às sanções ocidentais contra Moscou, apesar das pressões, o que dá ao país maior margem de manobra para a continuidade de sua cooperação com a Rússia.
Em suma, assim como o centro de gravidade da economia mundial migrou do ocidente para o oriente, também o foco da política externa brasileira vem fazendo o mesmo movimento. Dada essa realidade, é possível dizer que não só o futuro do Brasil, como da própria ordem global no século XXI, estará cada vez mais vinculado à Ásia.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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