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'Davi contra Golias': como os houthis do Iêmen de novo expuseram a verdadeira face dos anglo-saxões?

© AP Photo / Paul EllisO primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o presidente dos EUA, Joe Biden, no início da reunião do Conselho do Atlântico Norte (CAN), durante a cúpula da Organização do Atlântico Norte (OTAN) em Vilnius. Lituânia, 11 de julho de 2023
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o presidente dos EUA, Joe Biden, no início da reunião do Conselho do Atlântico Norte (CAN), durante a cúpula da Organização do Atlântico Norte (OTAN) em Vilnius. Lituânia, 11 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 12.01.2024
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Desde o início de dezembro, um grupo de rebeldes houthis no Iêmen vem executando ataques em uma das vias comerciais mais estratégicas do planeta, a saber, o mar Vermelho. Para além de abordagem a navios e do disparo de mísseis contra embarcações ocidentais, os houthis foram capazes de expor a verdadeira face das potências anglo-saxãs.
A partir do final de 2023, as ações dos houthis no mar Vermelho impactaram significativamente o comércio internacional. Grandes empresas mundiais de transporte de contêineres chegaram até mesmo a interromper o envio de cargas pela região, incluindo o canal de Suez. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos procuraram criar uma força-tarefa multinacional, a fim de proteger a liberdade de navegação pelo mar Vermelho, auferindo o consentimento de seu tradicional parceiro, os britânicos.
Entretanto, os americanos não obtiveram sucesso em atrair outras potências a essa iniciativa, como é o caso da Arábia Saudita. Os sauditas possuem um regime de cessar-fogo com os houthis, após anos de acirramento de tensões políticas no Iêmen causado justamente pela atuação de grupos paramilitares auxiliados por Riad no país.
Seja como for, desde dezembro os houthis declararam guerra a navios e quaisquer embarcações com bandeira israelense — ou de países que apoiassem Israel — que atravessassem o mar Vermelho como forma de retaliação pelos acontecimentos em Gaza. Por sua vez, a atuação dos houthis a partir do Iêmen — país que se encontra em profunda crise econômica e política, pelo menos desde a chamada Primavera Árabe — vem causando um verdadeiro reboliço no comércio mundial.
Afinal, para que a economia internacional funcione de maneira eficiente, as principais vias de comércio marítimas devem trabalhar ininterruptamente. Cerca de 80% do comércio transnacional é feito por via marítima, e os navios cargueiros que transportam produtos de um país a outro devem chegar aos seus portos de destino da forma mais rápida e econômica possível.
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Contudo, os navios são modais de transporte bastantes vulneráveis, sobretudo quando atravessam passagens estreitas, como é o caso do mar Vermelho, limitado por dois pontos de estrangulamento — o canal de Suez ao norte e o estreito de Bab al-Mandab ao sul.
Cerca de 12% do comércio mundial passa justamente por essa rota, representando quase 20% do tráfego internacional de contêineres e cargueiros. Vale lembrar também que em torno de 10% do petróleo marítimo do mundo e quase 8% do gás natural liquefeito do planeta são transportados através desse trecho.
No entanto, os rebeldes houthis praticamente puseram uma pausa à circulação de cargueiros no mar Vermelho, utilizando para isso mísseis, drones e até mesmo navios de ataque rápido contra embarcações-alvo, sobretudo ocidentais. No seu ponto mais curto, o estreito de Bab al-Mandab possui cerca de 29 km de largura, e foi nessa região que a maioria das investidas dos houthis ocorreram.
Até agora, o grupo rebelde atacou de forma direta pelo menos 12 navios comerciais que transitavam na região, disparando mais de 100 drones e mísseis desde o início das operações em dezembro. Os houthis, apoiados pelo Irã, justificaram os ataques como uma demonstração de solidariedade com os palestinos de Gaza, ao mesmo tempo que impuseram um verdadeiro bloqueio marítimo contra os Estados Unidos e Israel.
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Ademais, em resposta ao bloqueio marítimo empreendido pelo movimento houthi, quatro das cinco maiores empresas de transporte de contêineres do mundo — responsáveis por mais de 50% da capacidade global do segmento — suspenderam operações no mar Vermelho. Se outras empresas similares aderirem a esse boicote, o abastecimento de petróleo e gás através do canal poderá enfrentar problemas ainda mais graves nas semanas seguintes.
Essa situação tem feito com que navios de contêineres que realizam viagens entre a Europa e a Ásia se familiarizem novamente com o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, rota que estava em grande parte obsoleta desde a abertura do canal de Suez — que dá entrada ao mar Vermelho — há mais de 150 anos.
O problema é que o desvio de cargueiros pelo Cabo da Boa Esperança acrescenta muitos dias de viagem ao transporte de produtos entre a Europa e a Ásia, custando milhões de dólares de combustível extra e encarecendo os seguros das embarcações.
Não sem razão, desde o início da crise no mar Vermelho, em dezembro passado, a Marinha dos Estados Unidos transferiu um porta-aviões e parte de uma força-tarefa para o golfo de Aden, que fica diante da saída do canal e muito próximo do Iêmen, de modo a dissuadir os houthis. Washington, que conta mais uma vez com o apoio dos britânicos para as suas empreitadas geopolíticas ao redor do mundo, lançou durante as últimas horas um ataque massivo com mísseis-alvo houthis no Iêmen, apontando que o bombardeio se trata de uma resposta às ações do grupo rebelde no mar Vermelho.
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Na capital britânica, Londres, esse ataque anglo-saxão foi inclusive chamado de "legítima defesa", o que expõe de forma bastante cínica os padrões distorcidos de americanos e britânicos.
Essa não é nem de longe uma forma sustentável de se apresentar como os "mocinhos" da história, dado que, com os recentes ataques ao Iêmen, os Estados Unidos e o Reino Unido violam não só o direito internacional — por não contarem com a chancela do Conselho de Segurança —, como também contribuem para o aprofundamento do conflito.
No mais, uma guerra prolongada entre os anglo-saxões e os houthis poderá custar bilhões de dólares, demonstrando que, apesar de relativamente pequenos, o grupo rebelde do Iêmen é capaz de provocar significativas perdas tanto a americanos quanto a britânicos.
Para além disso, após os ataques, a liderança houthi já deixou claro que pretende lutar até o fim, de modo que as bases militares americanas e britânicas no Oriente Médio também se tornarão alvo do grupo.
Seja como for, nessa verdadeira batalha de "Davi contra Golias", os houthis vêm mostrando que fatores como determinação e desejo por vingança são impossíveis de serem destruídos por meio de mísseis, independentemente do quão forte seja o adversário. Por tabela, os houthis novamente expuseram ao mundo a verdadeira face das potências anglo-saxãs.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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