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Resistência houthi escancara fragilidades e hipocrisia do imperialismo neoliberal, dizem estudiosos
Resistência houthi escancara fragilidades e hipocrisia do imperialismo neoliberal, dizem estudiosos
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Ao ameaçar a estabilidade do comércio marítimo global, as dezenas de ataques do movimento político Ansar Allah — mais conhecido como os houthis do Iêmen — nas... 18.01.2024, Sputnik Brasil
2024-01-18T20:18-0300
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De acordo com especialistas ouvidos pelo programa Mundioka, da Sputnik Brasil, a soberba e a hipocrisia imperialista do Ocidente têm sido desveladas pelas ações resilientes e nacionalistas dos rebeldes iemenitas.O grupo declarou guerra a navios e embarcações de países no mar Vermelho que apoiam Israel na guerra contra o Hamas em Gaza. Até o momento, o grupo rebelde atacou pelos menos 12 navios comerciais até o momento.Para os historiadores Ramez Philippe Maalouf e Ailton Dutra Junior, apesar da narrativa hegemônica de criminalizar o movimento, a iniciativa houthi "é mais do que legítima" e oferece uma "resistência vitoriosa às estruturas de dominação mundial comandadas pelos EUA".Dutra Junior traz um complemento ao raciocínio exposto pelo colega.Ele acredita que os recentes ataques do grupo Hezbollah — de forças nacionalistas iraquianas contra as bases americanas no seu país e na Síria — e as ações dos houthis têm em comum uma tentativa de fazer com que o Ocidente recue no projeto de dominação de Gaza por interesses geopolíticos e até energéticos.A ofensiva israelense na Faixa de Gaza completou 100 dias no último domingo (14), com pelo menos 24 mil mortos, sendo 70% de mulheres e crianças e mais de 60 mil feridos, segundo dados do Ministério da Saúde palestino. No lado israelense foram 1.139 mortes, quase o total do dia 7 de outubro, quando houve a incursão do grupo palestino Hamas ao território israelense.Quem são os houthis do IêmenApoiadores da Palestina, os houthis são egressos da comunidade zayd do Islã xiita, que governou o Iêmen tempos atrás. Os ataques feitos no mar Vermelho ocorrem em solidariedade aos bombardeios ocorridos na Faixa de Gaza.O volume de navios comerciais que passava pelo estreito de Bab al-Mandab caiu em quase 60% desde o início dos ataques, comentaram os especialistas.Os entrevistados destacaram que cerca de 12% do comércio mundial passa pelo mar Vermelho.Os ataques houthis ocorrem principalmente no estreito de Bab al-Mandab, ligação entre o golfo de Áden, no oceano Índico, com o mar Vermelho. Este faz ligação entre o Índico e o Mediterrâneo através do canal de Suez.Dutra Junior acrescenta: "Essa importância geopolítica, geoestratégica e geoeconômica do estreito de Bab al-Mandab também está por trás dessa guerra no Iêmen, que nunca acaba."Irã e houthis: um apoio velado inconveniente para os EUANão há um reconhecimento oficial de aliança entre o Irã e os houthis, mas ambos os entrevistados concordam que o governo iraniano vem apoiando as ações dos houthis nos últimos anos. Esse apoio velado representa, segundo eles, uma espécie de freio a ataques mais contundentes ao Iêmen por parte dos EUA, por exemplo.Dutra Junior defende que os EUA se esforçam há mais de 40 anos para reconquistar o Irã, devido ao seu tamanho, poderio bélico, riquezas naturais e posição geográfica."A questão é se os EUA têm condições de fazer essa guerra, porque o desempenho militar americano nos últimos 30 anos tem sido muito ruim", afirma, ao argumentar que o Exército dos EUA foi expulso do Afeganistão, perdeu a guerra no Iraque e vários outros conflitos ao redor do mundo.Ele lembra que o Irã há muito adquiriu a capacidade de produzir tecnologias para usar satélites no espaço, dominar energia nuclear e microeletrônica.Oriente Médio e história do IêmenO Iêmen do Norte, que oficialmente era a República Popular Árabe do Iêmen, e o Iêmen do Sul, antiga República Popular Democrática do Iêmen, de influência marxista, unificaram-se em 1990. "Isso abalou a geopolítica da região com impacto mundial, pois o Iêmen do Norte era pan-arabista, socialista, e o Iêmen do Sul era socialista marxista-leninista", explica Maalouf.Dutra Junior também lembra que, há 60 anos, o Iêmen do Sul fez uma revolução comunista contra a Inglaterra e venceu.Em 1994, uma guerra civil eclodiu no país, com apoio da Arábia Saudita à oposição ao governo. Desde a curta e sangrenta Guerra Civil de 1994, o Iêmen vive uma grande instabilidade política e humanitária severa, opina Maalouf, que acredita que o país "pagou um preço muito alto por ter sido uma vanguarda progressista no mundo árabe".Criado em 1992, o movimento político Ansar Allah significa os que acreditam em Deus, os seguidores de Deus, então os ajudantes de Deus. Atualmente é mais conhecido como houthis, nome que homenageia um dos líderes do movimento, Badreddin al-Houthi, assassinado em 2004, durante um levante contra o governo do Ali al-Saleh, no Iêmen.Maalouf explica que o movimento começou moderado, com conotação principalmente religiosa.Dutra Junior também concorda que os houthis não se propõem a ser um movimento xiita, mas um movimento político de resistência às ingerências do Ocidente no Iêmen, que ocorrem desde a década de 1990.A radicalização do grupo começou a partir de 2003, com a invasão do Iraque pelos EUA e pelo Reino Unido, "que levou à devastação do país, a derrubada do governo do Baás, e à morte de mais de 4 milhões de iraquianos".A morte de al-Houthi desencadeou uma guerra civil no Iêmen, com participação da Arábia Saudita, que apoiou as forças governamentais contra os houthis, que por sua vez se tornaram um movimento armado.A partir de 2015, os houthis tomaram o poder na antiga República do Iêmen do Norte, onde vivem 27,5 milhões de habitantes. A tomada de poder originou a criação de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes, apoiada pelos EUA, pelo Reino Unido, pelo Ocidente em geral, inclusive por Israel.Arábia Saudita, Ocidente e a crise humanitáriaSegundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a guerra entre os houthis e a coalizão da Arábia Saudita, dos EUA e de Israel custou centenas de milhares de vidas.Atualmente, está entre as nações mais pobres da Ásia e do mundo árabe, ao lado da Somália e do Sudão.A ONU considera que o Iêmen vive a mais grave crise humanitária do planeta, com mais de 80% da população com necessidade de proteção. Segundo uma publicação da organização, mais de 16 milhões de iemenitas passam fome.
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De acordo com especialistas ouvidos pelo programa Mundioka, da Sputnik Brasil, a soberba e a hipocrisia imperialista do Ocidente têm sido desveladas pelas ações resilientes e nacionalistas dos rebeldes iemenitas.
O grupo declarou guerra a navios e
embarcações de países no mar Vermelho que apoiam Israel na guerra contra o Hamas em Gaza. Até o momento, o grupo rebelde atacou pelos menos
12 navios comerciais até o momento.
Para os
historiadores Ramez Philippe Maalouf e Ailton Dutra Junior, apesar da narrativa hegemônica de criminalizar o movimento, a iniciativa houthi "é mais do que legítima" e oferece uma "resistência vitoriosa às
estruturas de dominação mundial comandadas pelos EUA".
"O movimento houthi, em sua prática política, demonstra ser um movimento de caráter anti-imperialista, anticolonial e manifesta sua solidariedade aos palestinos justamente fazendo parar o comércio global, controlado até hoje pelo Ocidente, que é patrocinador de Israel nessa guerra colonial contra os palestinos", opina Maalouf, professor da rede estadual do Rio de Janeiro e doutor em geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP).
Dutra Junior traz um complemento ao raciocínio exposto pelo colega.
"Acho que o mérito que eles têm é de continuar a tradição nacionalista e iemenita de luta contra a dominação anglo-americana, primeiro britânica, depois americana, e os seus aliados regionais, os seus representantes do poder americano na região, principalmente a Arábia Saudita", disse Dutra Junior, doutorando no programa de geopolítica da USP.
Ele acredita que os recentes ataques do
grupo Hezbollah — de forças nacionalistas iraquianas contra as
bases americanas no seu país e na Síria — e as ações dos houthis têm em comum uma tentativa de fazer com que o Ocidente recue no projeto de dominação de Gaza por
interesses geopolíticos e até energéticos.
"A guerra em Gaza coincide com o processo de adesão de vários países da região ao BRICS", pondera Dutra Junior. "[Eles] estão procurando aos poucos novas formas de organização internacional da economia mundial, do sistema mundial, que não favorecem os EUA e seus aliados ocidentais de clientes. A guerra em Gaza poderia ter como objetivo parar esse processo."
A
ofensiva israelense na Faixa de Gaza completou
100 dias no último domingo (14), com pelo menos
24 mil mortos, sendo
70% de mulheres e crianças e mais de
60 mil feridos, segundo dados do Ministério da Saúde palestino.
No lado israelense foram 1.139 mortes, quase o total do dia 7 de outubro, quando houve a incursão do grupo palestino Hamas ao território israelense.
Quem são os houthis do Iêmen
Apoiadores da Palestina, os houthis são egressos da comunidade zayd do Islã xiita, que governou o Iêmen tempos atrás. Os ataques feitos no mar Vermelho ocorrem em solidariedade aos bombardeios ocorridos na Faixa de Gaza.
O volume de
navios comerciais que passava pelo estreito de Bab al-Mandab caiu em quase 60% desde o início dos ataques, comentaram os especialistas.
Os entrevistados destacaram que cerca de 12% do comércio mundial passa pelo mar Vermelho.
Os ataques houthis ocorrem principalmente no estreito de Bab al-Mandab, ligação entre o golfo de Áden, no oceano Índico, com o mar Vermelho. Este faz ligação entre o Índico e o Mediterrâneo através do canal de Suez.
"Por isso, é uma das razões não declaradas das constantes intervenções da Arábia Saudita no Iêmen nos últimos 30 anos. Por Arábia Saudita, leia-se: o Ocidente por procuração", argumenta Maalouf.
Dutra Junior acrescenta: "Essa importância geopolítica, geoestratégica e geoeconômica do estreito de Bab al-Mandab também está por trás
dessa guerra no Iêmen,
que nunca acaba."
"O prejuízo é imenso, e o movimento houthi está ciente. Seu objetivo é justamente prejudicar esse comércio global, porque, segundo a visão dos houthis, o mundo está calado diante do genocídio que está ocorrendo lá na Palestina", comenta.
Irã e houthis: um apoio velado inconveniente para os EUA
Não há um reconhecimento oficial de aliança entre o Irã e os houthis, mas ambos os entrevistados concordam que o governo iraniano vem apoiando as ações dos houthis nos últimos anos. Esse apoio velado representa, segundo eles, uma espécie de freio a ataques mais contundentes ao Iêmen por parte dos EUA, por exemplo.
Dutra Junior defende que os EUA se esforçam há mais de 40 anos para reconquistar o Irã, devido ao seu tamanho, poderio bélico, riquezas naturais e posição geográfica.
"A questão é se os EUA têm condições de fazer essa guerra,
porque o desempenho militar americano nos últimos 30 anos tem sido muito ruim", afirma, ao argumentar que o Exército dos EUA foi expulso do Afeganistão, perdeu a guerra no Iraque e vários outros conflitos ao redor do mundo.
"Produz seus próprios armamentos, seus armamentos são usados, são eficientes. Em princípio, eu acho que o Irã vai evitar uma guerra direta. É um país cujas lideranças políticas e militares têm experiência de combate, um país que tem montanhas de 4 mil metros de altitude, especialmente na região controlada pelo governo dos houthis."
Oriente Médio e história do Iêmen
O Iêmen do Norte, que oficialmente era a República Popular Árabe do Iêmen, e o Iêmen do Sul, antiga República Popular Democrática do Iêmen, de influência marxista, unificaram-se em 1990.
"Isso abalou a geopolítica da região com impacto mundial, pois o Iêmen do Norte era pan-arabista, socialista, e o Iêmen do Sul era socialista marxista-leninista", explica Maalouf.
Dutra Junior também lembra que, há 60 anos, o Iêmen do Sul fez uma revolução comunista contra a Inglaterra e venceu.
Em 1994, uma guerra civil eclodiu no país, com apoio da Arábia Saudita à oposição ao governo. Desde a curta e sangrenta Guerra Civil de 1994, o Iêmen vive uma grande instabilidade política e humanitária severa, opina Maalouf, que acredita que o país "pagou um preço muito alto por ter sido uma vanguarda progressista no mundo árabe".
Criado em 1992, o movimento político Ansar Allah significa os que acreditam em Deus, os seguidores de Deus, então os ajudantes de Deus. Atualmente é mais conhecido como houthis, nome que homenageia um dos líderes do movimento, Badreddin al-Houthi, assassinado em 2004, durante um levante contra o governo do Ali al-Saleh, no Iêmen.
Maalouf explica que o movimento começou moderado, com conotação principalmente religiosa.
"Tinha influência muito expressiva do xiismo, especialmente do xiismo libanês, especialmente do Hezbollah. Mas não é um movimento apenas xiita. Lembrando que o xiismo no Iêmen é diferente do xiismo praticado no Irã e também no Líbano", esclarece o professor.
Dutra Junior também concorda que os houthis não se propõem a ser um movimento xiita, mas um movimento político de resistência às ingerências do Ocidente no Iêmen, que ocorrem desde a década de 1990.
A radicalização do grupo começou a partir de 2003, com a invasão do Iraque pelos EUA e pelo Reino Unido, "que levou à devastação do país, a derrubada do governo do Baás, e à morte de mais de 4 milhões de iraquianos".
A morte de al-Houthi desencadeou uma guerra civil no Iêmen, com participação da Arábia Saudita, que apoiou as forças governamentais contra os houthis, que por sua vez se tornaram um movimento armado.
A partir de 2015, os houthis tomaram o poder na antiga República do Iêmen do Norte, onde vivem 27,5 milhões de habitantes. A tomada de poder originou a criação de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes, apoiada pelos EUA, pelo Reino Unido, pelo Ocidente em geral, inclusive por Israel.
"Israel, o grande ausente onipresente nas guerras do sudoeste da Ásia e norte da África", frisa o doutor em geografia humana.
Arábia Saudita, Ocidente e a crise humanitária
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a guerra entre os houthis e a coalizão da Arábia Saudita, dos EUA e de Israel custou centenas de milhares de vidas.
Atualmente, está entre as nações mais pobres da Ásia e do mundo árabe, ao lado da Somália e do Sudão.
A ONU considera que o Iêmen vive
a mais grave crise humanitária do planeta, com mais de 80% da população com necessidade de proteção. Segundo uma
publicação da organização,
mais de 16 milhões de iemenitas passam fome.