Arábia Saudita diz que não vai reconhecer Israel sem solução para o Estado palestino
© AFP 2023 / Fabrice CoffriniO ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan al-Saud, participa de uma sessão durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) em Davos, 16 de janeiro de 2024
© AFP 2023 / Fabrice Coffrini
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As observações do príncipe Faisal bin Farhan estão em desacordo com as do primeiro-ministro israelense Netanyahu, que rejeitou a criação de um Estado palestino e descreveu planos para um controle militar sobre Gaza.
O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita afirmou que o reino não vai normalizar as relações com Israel nem contribuir para a reconstrução de Gaza sem um caminho credível para a criação de um Estado palestino.
Os comentários do príncipe Faisal bin Farhan durante entrevista à CNN transmitida na noite de domingo (21) foram alguns dos mais diretos já feitos por autoridades sauditas e traçam um contraponto à postura do premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
Durante a entrevista ao Fareed Zakaria GPS da CNN, o anfitrião perguntou ao príncipe se haveria normalização das relações entre a Arábia Saudita e Israel caso não houvesse um caminho credível e irreversível para o estabelecimento de um Estado palestino.
"Essa é a única maneira de obtermos um benefício", respondeu o príncipe Faisal. A disputa sobre o futuro de Gaza, ainda sem perspectivas de fim, coloca os Estados Unidos e os seus aliados árabes contra Israel e os planos de governança ou reconstrução de Gaza no pós-guerra.
"Desde que consigamos encontrar um caminho para uma solução, uma resolução, um caminho que signifique que não estaremos aqui novamente dentro de um ou dois anos, então poderemos falar sobre qualquer coisa", disse o diplomata. "Mas se estivermos apenas a regressar ao status quo antes de 7 de outubro, de uma forma que nos prepare para outra rodada disto, como vimos no passado, não estamos interessados nessa conversa", afirmou de maneira categórica.
Os palestinos procuram um Estado que inclua Gaza, a Cisjordânia ocupada por Israel e a anexada Jerusalém Oriental, territórios que Israel capturou na guerra de 1967 no Oriente Médio.
Israel vê toda Jerusalém como a sua capital e a Cisjordânia como o coração histórico e bíblico do povo judeu. Construiu dezenas de assentamentos em ambos os territórios, que abrigam centenas de milhares de colonos judeus. A última de várias rodadas de negociações de paz fracassou há quase 15 anos.
A atual guerra entre Israel e o Hamas é uma das mais mortíferas que já se abateu sobre o território. Após a invasão de militantes palestinos que romperam as defesas de Israel e invadiram várias comunidades próximas, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, fazendo ainda cerca de 250 reféns, as autoridades do enclave alegam que a resposta de Israel já matou pelo menos 25.105 palestinos em Gaza e feriu mais de 60 mil. Segundo o Ministério da Saúde no território governado pelo Hamas, cerca de dois terços dos mortos são mulheres e crianças.
Cerca de 85% da população de Gaza, de 2,3 milhões de habitantes, fugiu das suas casas, procurando abrigo no sul, enquanto Israel continua a atacar todas as partes do enclave sitiado. Autoridades da ONU dizem que uma em cada quatro pessoas em Gaza está morrendo de fome, pois os combates em curso e o bloqueio israelense à faixa impedem a entrega de ajuda humanitária.
A guerra também alimentou tensões em toda a região, com grupos apoiados pelo Irã no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen atacando alvos israelenses e norte-americanos à medida que aumenta o risco de um conflito mais amplo.
Netanyahu prometeu continuar a ofensiva até a "vitória completa" sobre o Hamas e devolver todos os reféns restantes depois de mais de 100 terem sido libertados em um acordo de cessar-fogo temporário mediado pelo Catar em novembro, em troca de dezenas de palestinos presos em Israel.