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Ex-colônias francesas na África pretendem criar moeda única e abandonar o franco; é viável?
Ex-colônias francesas na África pretendem criar moeda única e abandonar o franco; é viável?
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Tão diversos quanto sua geografia, que abrange desde o deserto do Saara e a savana até o oceano Atlântico e o mar Vermelho, os países que integram a região do... 09.02.2024, Sputnik Brasil
2024-02-09T15:47-0300
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Justamente por isso, nos últimos anos, ex-colônias europeias têm buscado se desvincular econômica e politicamente das antigas metrópoles.É o caso de várias ex-colônias francesas. Em novembro passado, os ministros das Finanças de Mali, Burkina Faso e Níger se reuniram em Bamaco, capital malinesa, para discutir uma futura união econômica e monetária. Nas redes sociais já circulam imagens das cédulas que poderão ser usadas. Atualmente, oito Estados da África Central e Ocidental usam o franco CFA.Especialistas no assunto falaram sobre as possíveis consequências da adoção de uma moeda própria em detrimento do franco no Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.O professor de finanças do Instituto de Pós-Graduação em Administração (Coppead), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Leite explicou que hoje para esses países a adoção do franco tem como consequências déficits na exportação e na estabilidade, que evita processos inflacionários.Para Policarpo Gomes Caomique, mestre em governança e integração regional pela Pan African University (PAU), a decisão no plano político foi acertada por vários motivos:Já no plano econômico, o pesquisador considera ainda prematuro dizer se uma moeda única vai emplacar:A África Subsaariana, em especial o Sahel, tem sido uma região propensa a conflitos étnicos, religiosos e políticos nas últimas décadas. Nos últimos anos, Mali, Burkina Faso e Níger sofreram trocas abruptas de governos, sob argumentações de insegurança causada por grupos terroristas. Além disso, são nações com conflitos internos.Camomique destacou ainda que o terrorismo e o fundamentalismo religioso são realidade nesses três países. "E […] também não têm saída para o mar e fazem fronteira com países da CEDEAO [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental]. Os três países apresentam taxa alta de desemprego e têm como maiores parceiros comerciais, por exemplo, principalmente a nível de exportação, os países da sub-região, que são também, em sua maioria, parte da CEDEAO, e esse quadro torna complicada a aplicação da ideia de criar uma moeda."Diferentemente dos antigos movimentos de independência dos anos 1950 a 1980, a multipolaridade dá a esses movimentos por soberania alternativas políticas no cenário global atual.Em setembro de 2023, os governos de Burkina Faso, Mali e Níger criaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES). O Mali rebaixou a língua francesa de seu status de idioma oficial. Em 28 de janeiro deste ano, os países anunciaram a saída conjunta da CEDEAO.Entretanto, se esses três países lograrem criar e manter uma moeda estável, certamente atrairão outros e "vão mobilizar essa onda da descolonização monetária e da independência financeira no contexto da África Ocidental", comentou o especialista.Os benefícios de uma moeda própriaAtualmente a França controla as reservas e a política cambial e monetária dos países que utilizam o franco. Uma moeda própria daria autonomia a esses países."Vão poder ter maior autonomia em termos de negociar com os parceiros internacionais, por exemplo", elencou o mestre da PAU.Segundo ele, antes de pensar na questão da moeda, é preciso criar um ambiente propício para investimento:Uma possível união de países convergindo para uma moeda única, como é o caso do euro, traria riscos, como o sistêmico, mas se desse certo, haveria muitas vantagens, segundo Leite."Como bloco eles teriam muito mais do ponto de [vista da] integração e a possibilidade de uma sinergia maior entre as economias, porque teria uma união monetária e uma união aduaneira também. Conseguem ter muito mais força politicamente e de forma internacional." Entretanto a criação de uma coalizão deve ter visão de longo prazo, alertou."A questão é manter esses 14 países como um todo, com uma balança comercial que permita que a moeda não tenha essa desvalorização inicial", comentou.Consequências sobre a FrançaOs analistas destacam que uma moeda própria nessas nações seria bastante prejudicial para a ex-colônia."A depender de como esses países quiserem desenvolver suas economias, isso pode afetar, porque esses países têm uma relação ainda bastante grande com a França, [de] importação e exportação, especialmente importação para a França", ponderou Leite.Caomique destacou que a França precisa dos recursos naturais do Níger, de Burkina Faso e do Mali para manter as transações econômicas, bem como as posições geoestratégicas e geopolíticas no contexto africano.
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Ex-colônias francesas na África pretendem criar moeda única e abandonar o franco; é viável?
15:47 09.02.2024 (atualizado: 17:37 09.02.2024) Especiais
Tão diversos quanto sua geografia, que abrange desde o deserto do Saara e a savana até o oceano Atlântico e o mar Vermelho, os países que integram a região do Sahel têm em comum um processo de colonização perverso e extremamente cruel por parte de países da Europa, que expropriaram seus recursos naturais, explorando e desumanizando suas populações.
Justamente por isso, nos últimos anos, ex-colônias europeias têm buscado se desvincular econômica e politicamente das antigas metrópoles.
É o caso de várias ex-colônias francesas. Em novembro passado, os ministros das Finanças de Mali, Burkina Faso e Níger se reuniram em Bamaco, capital malinesa, para discutir uma futura união econômica e monetária. Nas redes sociais já circulam imagens das cédulas que poderão ser usadas. Atualmente, oito Estados da África Central e Ocidental usam o franco CFA.
Especialistas no assunto falaram sobre as possíveis consequências da adoção de uma moeda própria em detrimento do franco no Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.
O professor de finanças do Instituto de Pós-Graduação em Administração (Coppead), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Leite explicou que hoje para esses países a adoção do franco tem como consequências déficits na exportação e na estabilidade, que evita processos inflacionários.
"Como qualquer moeda em que você tem uma estabilidade inflacionária, você diminui a possibilidade de expansão monetária do governo. Então você troca estabilidade por diminuição da soberania monetária", disse ele.
Para Policarpo Gomes Caomique, mestre em governança e integração regional pela Pan African University (PAU), a decisão no plano político foi acertada por vários motivos:
"Primeiro é que essa decisão explora a insatisfação de toda uma geração de jovens africanos, contrários àquilo que eles classificam como subserviência dos Estados africanos ao Ocidente, principalmente à França", disse ele. "Segundo, isso é importante porque coloca em xeque a hegemonia francesa na África Ocidental, podendo obrigar a França a reorientar a sua lógica de cooperação e a lógica de relação França-África."
9 de novembro 2022, 09:58
Já no plano econômico, o pesquisador considera ainda prematuro dizer se uma moeda única vai emplacar:
"Existem vários fatores que afetam o valor de uma moeda, e esses fatores incluem taxas de juros, inflação, dívida, estabilidade política, empregabilidade, performance econômica, etc. Olhando para os três países em questão, eles possuem um quadro político e econômico aquém do esperado", opinou.
A África Subsaariana,
em especial o Sahel, tem sido uma região propensa a conflitos étnicos, religiosos e políticos nas últimas décadas. Nos últimos anos,
Mali, Burkina Faso e Níger sofreram trocas abruptas de governos, sob argumentações de
insegurança causada por grupos terroristas. Além disso, são nações com conflitos internos.
Camomique destacou ainda que o terrorismo e o fundamentalismo religioso são realidade nesses três países. "E […] também não têm saída para o mar e fazem fronteira com países da CEDEAO [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental]. Os três países apresentam taxa alta de desemprego e têm como maiores parceiros comerciais, por exemplo, principalmente a nível de exportação, os países da sub-região, que são também, em sua maioria, parte da CEDEAO, e esse quadro torna complicada a aplicação da ideia de criar uma moeda."
Diferentemente dos antigos movimentos de independência dos anos 1950 a 1980, a multipolaridade dá a esses movimentos por soberania alternativas políticas no cenário global atual.
Em setembro de 2023, os governos de Burkina Faso, Mali e Níger
criaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES). O Mali
rebaixou a língua francesa de seu status de idioma oficial. Em 28 de janeiro deste ano, os países anunciaram a saída conjunta da CEDEAO.
Entretanto, se esses três países lograrem criar e manter uma moeda estável, certamente atrairão outros e "vão mobilizar essa onda da descolonização monetária e da independência financeira no contexto da África Ocidental", comentou o especialista.
Os benefícios de uma moeda própria
Atualmente a França controla as reservas e a política cambial e monetária dos países que utilizam o franco. Uma moeda própria daria autonomia a esses países.
"Vão poder ter maior autonomia em termos de negociar com os parceiros internacionais, por exemplo", elencou o mestre da PAU.
Leite acrescentou: "Eles vão poder, entre eles, decidir quanto vai ter de emissão, qual é o objetivo de inflação, […] [porque] ela [a moeda própria] potencializa o efeito de desenvolvimento, porque aí o país passa a ter uma possibilidade de ter uma política fiscal própria, dadas as suas especificidades, idiossincrasias e visões".
Segundo ele, antes de pensar na questão da moeda, é preciso criar um ambiente propício para investimento:
"Criar um ambiente de estabilidade política permitirá que os projetos de desenvolvimento que são implementados tenham o efeito desejado e manterá a segurança jurídica e um fluxo de transações comerciais mais tranquilo", disse o pesquisador.
Uma possível união de países convergindo para uma moeda única, como é o caso do euro, traria riscos, como o sistêmico, mas se desse certo, haveria muitas vantagens, segundo Leite.
"Como bloco eles teriam muito mais do ponto de [vista da] integração e a possibilidade de uma sinergia maior entre as economias, porque teria uma união monetária e uma união aduaneira também. Conseguem ter muito mais força politicamente e de forma internacional." Entretanto a criação de uma coalizão deve ter visão de longo prazo, alertou.
"A questão é manter esses 14 países como um todo, com uma balança comercial que permita que a moeda não tenha essa desvalorização inicial", comentou.
Consequências sobre a França
Os analistas destacam que uma moeda própria nessas nações seria
bastante prejudicial para a ex-colônia.
"A depender de como esses países quiserem desenvolver suas economias, isso pode afetar, porque esses países têm uma
relação ainda bastante grande com a França, [de] importação e exportação, especialmente importação para a França", ponderou Leite.
Caomique destacou que a França precisa dos recursos naturais do Níger, de Burkina Faso e do Mali para manter as transações econômicas, bem como as posições geoestratégicas e geopolíticas no contexto africano.
"No caso do Níger, […] uma reserva considerável em termos de recursos naturais e produtos […] que a França necessita para o seu programa nuclear", disse ele.