- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Megapotência industrial Alemanha está à beira da ruína graças à guerra contra os combustíveis russos

© AFP 2023 / Christof StacheFuncionário verifica uma roda dentada em uma sala de montagem da empresa alemã de fabricação de engrenagens Renk em Augsburg, sul da Alemanha, em 8 de maio de 2023
Funcionário verifica uma roda dentada em uma sala de montagem da empresa alemã de fabricação de engrenagens Renk em Augsburg, sul da Alemanha, em 8 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2024
Nos siga no
Em 2022, Berlim seguiu obedientemente as instruções da administração Biden para impedir a Alemanha de comprar gás russo e aumentar as entregas de armas à Ucrânia na guerra por procuração da OTAN contra a Rússia. Dois anos depois, as previsões de uma grande crise econômica e de desindustrialização estão se concretizando na maior economia da Europa.
A produção industrial da Alemanha caiu pelo sétimo mês consecutivo, atingindo 1,6% negativo em dezembro, face a 0,2% negativo em novembro, de acordo com dados divulgados na quarta-feira (7) pelo Gabinete Federal de Estatísticas da Alemanha. Entre os setores mais afetados está o da indústria química, que enfrentou perdas colossais de 7,6% — o seu pior desempenho desde 1995. A construção civil sofreu um declínio de 3,4%.
A mídia empresarial considerou os dados como um sinal de sérios problemas na economia alemã. A Bloomberg publicou um artigo intitulado "Os dias da Alemanha como superpotência industrial estão chegando ao fim", citando a crise energética decorrente da perda de fornecimento de energia russa como a gota d'água que quebrou a espinha da potência econômica europeia.
"Não há muita esperança, para ser honesto", disse Stefan Klebert, diretor executivo do GEA Group AG, uma empresa de máquinas industriais com sede em Dusseldorf, à mídia. "Não tenho a certeza se conseguiremos interromper essa tendência. Muitas coisas teriam que mudar muito rapidamente", garantiu o CEO. A empresa que Klebert administra tem quase 150 anos, sobrevivendo às crises do século XX, desde as duas guerras mundiais até a depressão de 1929. Agora, ela e os seus mais de 18 mil funcionários enfrentam um futuro incerto.
"Apesar da motivação de nossos funcionários, chegamos a um ponto em que não podemos exportar pneus de caminhão da Alemanha a preços competitivos", disse Maria Rottger, chefe de operações do Norte da Europa na gigante francesa Michelin, fabricante de pneus. "Se a Alemanha não conseguir exportar de forma competitiva no contexto internacional, o país perde uma das suas maiores forças", observou.
Cerca de 5.000 dos mais de 66.000 funcionários europeus da Michelin estão na Alemanha, Áustria e Suíça. No final de 2023, a empresa anunciou cortes de mais de 1.500 empregos nas suas operações alemãs. A Goodyear, gigante norte-americana de pneus, anunciou o fechamento de duas fábricas no país, cortando 1.750 empregos.
Donald Trump, ex-presidente dos EUA (2017-2021), antes de discursar na Cúpula da Liberdade do Partido Republicano da Flórida em Kissimmee, Flórida, EUA, 4 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.02.2024
Panorama internacional
Na Alemanha crescem receios que a OTAN pode não sobreviver a reeleição de Trump, alerta jornal

"Não é preciso ser pessimista para dizer que o que estamos fazendo neste momento não será suficiente", disse Volker Treier, chefe de comércio exterior das câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha. "A velocidade da mudança estrutural é vertiginosa."

Dezenas de outras grandes empresas alemãs foram afetadas pela crise energética, incluindo o gigante químico europeu BASF SE, que cortou recentemente 2.600 postos de trabalho, e a empresa química Lanxess AG, sediada em Colônia, que demitiu 7% da sua força de trabalho.
As empresas alemãs passaram anos soando o alarme sobre problemas de infraestrutura, envelhecimento da mão de obra, burocracia, custos econômicos associados à pandemia de COVID-19 e queda do investimento na educação e serviços públicos. A crise nos laços econômicos com a Rússia, combinada com os esforços do "aliado" transatlântico de Berlim para retirar os fabricantes industriais de alta tecnologia da Alemanha através de subsídios generosos, e a crescente concorrência da China, foram combinados para criar uma tempestade perfeita de mal-estar industrial sem precedentes.
"Já não somos competitivos", admitiu o ministro da Economia alemão, Christian Lindner, em um evento empresarial em Frankfurt, na segunda-feira (5). "Estamos ficando mais pobres porque não temos crescimento. Estamos ficando para trás."
Com Berlim cortando o fornecimento de gás natural barato e fiável proveniente da Rússia em 2022, as empresas alemãs têm agora de pagar uma das contas de energia mais elevadas do bloco, com os preços da eletricidade para consumidores empresariais a ultrapassar os 22 centavos de euro (R$ 1,17) por quilowatt-hora (kwh), acima dos € 0,15 (R$ 0,80) por kwh em 2022 e apenas € 0,09 (R$ 0,48) por kwh em 2021.

"A indústria continua sendo um obstáculo significativo ao crescimento", disse a economista da Capital Economics, Franziska Palmas, sobre os dados da produção industrial desta semana. "Achamos que isso vai continuar ao longo de 2024."

Zona do euro - Sputnik Brasil, 1920, 15.11.2023
Panorama internacional
Economia europeia 'está doente' em meio à escalada no Oriente Médio e ao conflito ucraniano, diz UE

Problema sistêmico

Os políticos da oposição culparam a dependência servil das elites alemãs dos Estados Unidos e dos atores "motivados ideologicamente" no governo.
O governo alemão não só demonstrou a sua "absoluta incompetência", mas "mostrou que é absolutamente dependente dos Estados Unidos.[...] Eles mostraram seu estatuto de vassalo", disse o legislador da Alternativa para a Alemanha (AfD), Eugen Schmidt, à Sputnik na sexta-feira (9), comentando a obstinação de Berlim em investigar o ataque de 2022 ao gasoduto Nord Stream (Corrente do Norte) — que roubou à Alemanha mais de 100 bilhões de metros cúbicos por ano em capacidade para a importação de gás russo.
A Alemanha é governada por "verdadeiros agentes de influência norte-americanos aqui na Alemanha", acredita Schmidt. "Eles seguem a política dos EUA na Alemanha." Além disso, o legislador afirmou que "recrutaram pessoas com motivação ideológica que não têm ideia de como funciona a economia ou de como implementar corretamente as políticas do país, especialmente em termos econômicos, de como proteger os interesses do país para que a economia funcione de forma eficaz", com as autoridades se concentrando em prioridades como a agenda climática e a imigração, de acordo com o legislador.
O ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, participa de uma sessão no dia de encerramento da reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos. Suíça, 19 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.01.2024
Panorama internacional
'Alemanha não é o homem doente da Europa, mas um homem cansado', diz ministro da Economia alemão
A consequência é uma economia "rebentando pelas costuras, com empresas fechando e se mudando para o exterior", e a Alemanha sendo forçada a pagar "quantias absurdas de dinheiro pelo gás natural liquefeito [GNL] norte-americano, ao mesmo tempo que impomos sanções ao gás [russo]", disse Schmidt.
Para piorar a situação, apesar dos problemas econômicos, Berlim decidiu continuar injetando bilhões de euros na guerra por procuração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia na Ucrânia, incluindo mais de € 7,6 bilhões (cerca de R$ 40,5 bilhões) em assistência militar no orçamento de 2024, além de mais de € 17 bilhões (aproximadamente R$ 90,8 bilhões) entregues em 2022-2023, e os mais de € 40 bilhões (mais de R$ 213,6 bilhões) em apoio econômico direto ou baseado na União Europeia (UE).
A bandeira nacional alemã tremula enquanto o navio Hoegh Esperanza da Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação atraca no terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) no porto de Wilhelmshaven, norte da Alemanha, 15 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 04.09.2023
Panorama internacional
Alemanha é o 'homem doente da Europa' e isso provoca mudança para a direita, diz economista
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou em maio de 2022 que o movimento "suicida" e motivado politicamente das potências europeias para travar a compra de energia russa teria um efeito bumerangue contra elas.
"A rejeição dos recursos energéticos russos significa que a Europa se tornará sistematicamente a região com os custos energéticos mais elevados do mundo [...]. Isto vai prejudicar seriamente — e de acordo com alguns especialistas de forma irreversível — a competitividade de uma parte significativa da indústria europeia, que já está perdendo a competição com empresas de outras regiões", disse Putin.
Para a Alemanha, estas palavras se revelaram proféticas.
No mês passado, Putin se referiu a um relatório do Banco Mundial que afirmava que a Rússia tinha oficialmente ultrapassado a Alemanha em termos de Produto Interno Bruto (PIB) em paridade de poder de compra (PPC) e se tornado a quinta maior economia do mundo.
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала