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Analista: Brasil busca estreitar laços com Sul Global e ganhar protagonismo com defesa da Palestina
Analista: Brasil busca estreitar laços com Sul Global e ganhar protagonismo com defesa da Palestina
Sputnik Brasil
A crise humanitária em Gaza e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas estiveram no centro das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva... 15.02.2024, Sputnik Brasil
2024-02-15T22:00-0300
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Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil concordam que o tom usado por Lula para criticar a atuação de Israel nos ataques contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza e da ONU para resolver conflitos internacionais busca contribuir para o fim do conflito, bem como posicionar o Brasil mais firmemente no cenário global.Doutor em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMG), Guilherme Di Lorenzo esclarece que a defesa da causa palestina emergiu como um dos pilares distintivos de todos os mandatos de Lula:Lula iniciou uma visita à África na terça-feira (13), começando pelo Egito, onde assinou acordos bilaterais com o presidente Abdel Fattah El-Sisi e visitou a sede da Liga dos Estados Árabes (LEA). A viagem termina neste fim de semana com compromissos na Etiópia, que recentemente passou a fazer parte do BRICS. Lá, Lula participa como convidado da Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana.Para o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, Lula, em seu discurso, questiona de maneira oportuna a atuação de Israel em Gaza, ao apontar que o país está "matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento, a pretexto de derrotar o Hamas", o que evidencia um "genocídio continuado":ONUA ONU e seu conselho de segurança também foram alvos de críticas do mandatário brasileiro durante sua passagem pelo continente africano. Segundo Lula, a organização perde importância na medida em que suas decisões são meramente figurativas, incapazes de ajudar pragmaticamente na solução de situações que perturbem a paz e a segurança mundiais.Para os especialistas ouvidos, o discurso de Lula sobre o Conselho de Segurança é antigo, embora se torne ainda mais coerente, diante da estrutura do órgão cada vez mais anacrônica: O presidente da Fepal ressalta que o mundo pós-Segunda Guerra Mundial, quando a ONU foi criada, está radicalmente diferente do ponto de vista econômico, científico, tecnológico e de inovação, em que a totalidade dos países que integram hoje o Conselho de Segurança, à exceção da China, não representam mais um quarto do que representavam na época.Todos os analistas ouvidos destacam que a reivindicação brasileira por uma reforma no Conselho e pelo respeito às resoluções da ONU é antiga e já ocorria na invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, a preocupação apenas se agravou com os conflitos posteriores.Entretanto, reformar o Conselho de Segurança é "tarefa extremamente difícil" por vários motivos, sobretudo devido à desigual distribuição de poder militar, frisa Di Lorenzo:A opinião é compartilhada pelos demais entrevistados, mas o Brasil tem insistido no tema, que será uma das prioridades do país na presidência rotativa do grupo G20 até o fim do ano, como afirma a especialista em Oriente Médio Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM):O multilateralismo e aproximação com o Oriente MédioGrande importador de produtos agrícolas e pecuários brasileiros, o Oriente Médio é uma região economicamente importante. Além disso, países como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita têm se destacado como investidores significativos na economia brasileira.Mas embora a economia brasileira e a dos países árabes apresentem grau considerável de complementaridade, essa relação ainda não foi desenvolvida em um nível estratégico, de acordo com os entrevistados.Apesar do crescimento substancial nas relações comerciais e financeiras, especialmente com as monarquias do Golfo, o doutor em relações internacionais da PUC-MG pondera que, em termos políticos, é improvável uma ampliação de uma frente política conjunta:No âmbito político, os analistas concordam que o movimento brasileiro é de retomada e que apesar do alinhamento em temas importantes, ainda há um longo caminho a percorrer para uma articulação política mais substancial entre o Brasil e os países árabes.Além disso, o pragmatismo histórico da política externa brasileira faz com que outros países também tenham relação pragmática com o Brasil, na opinião de Hilu da Rocha Pinto, tornando as relações de curto prazo muito vantajosas em termos econômicos, mas não garantindo retornos, de longo prazo, em termos de capital político. Mas o Brasil tem se esforçado, com Lula, para incrementá-lo, afirma:"É uma região que é central na geopolítica mundial. Então, qualquer país que tenha um destaque na região, obviamente, terá retorno político grande", esclarece ele, ao acrescentar que a entrada no BRICS de vários países da região, como o Egito e os Emirados, também é um ponto extra nesse contexto.
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Analista: Brasil busca estreitar laços com Sul Global e ganhar protagonismo com defesa da Palestina
22:00 15.02.2024 (atualizado: 16:39 16.02.2024) Especiais
A crise humanitária em Gaza e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas estiveram no centro das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua viagem à África, que termina neste domingo (18).
Especialistas
ouvidos pela Sputnik Brasil concordam que o tom usado por Lula para criticar a atuação de
Israel nos ataques contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza e da ONU para resolver conflitos internacionais busca
contribuir para o fim do conflito, bem como
posicionar o Brasil mais firmemente no cenário global.
Doutor em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMG), Guilherme Di Lorenzo esclarece que a defesa da causa palestina emergiu como um dos pilares distintivos de todos os mandatos de Lula:
"Essa postura reflete, em parte, uma visão global que busca tanto estreitar os laços do Brasil com o Sul Global quanto promover protagonismo político mais robusto do país na arena internacional", opina ele, ao argumentar que o Brasil reconhece a paralisia da comunidade internacional diante da crise humanitária em Gaza.
Lula
iniciou uma visita à África na terça-feira (13),
começando pelo Egito, onde assinou acordos bilaterais com o
presidente Abdel Fattah El-Sisi e
visitou a sede da Liga dos Estados Árabes (LEA).
A viagem termina neste fim de semana com
compromissos na Etiópia, que recentemente
passou a fazer parte do BRICS. Lá, Lula participa como convidado da
Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana.Para o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal),
Ualid Rabah, Lula, em seu discurso, questiona de maneira oportuna a
atuação de Israel em Gaza, ao apontar que o país está "matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento, a
pretexto de derrotar o Hamas", o que evidencia um
"genocídio continuado":
"Ele pergunta o óbvio: antes de 1988, quais foram os pretextos? E daqui para diante, qual será o novo pretexto? Quais são os pretextos para toda a Palestina ocupada, para as ações cada vez mais violentas de extremistas judeus que roubam terras palestinas na Cisjordânia? Qual o pretexto para o regime de Apartheid de Israel? Para não obedecer uma só resolução da ONU? Então, Lula está dizendo: chega de falsos pretextos", argumenta.
A ONU e seu conselho de segurança também foram
alvos de críticas do mandatário brasileiro durante sua passagem pelo continente africano. Segundo Lula, a organização perde importância na medida em que suas decisões são
meramente figurativas, incapazes de ajudar pragmaticamente na solução de situações que
perturbem a paz e a segurança mundiais.
Para os
especialistas ouvidos, o discurso de Lula sobre o
Conselho de Segurança é antigo, embora se torne ainda mais coerente, diante da
estrutura do órgão cada vez mais anacrônica:
"Na verdade, ele [Lula] só reitera a posição oficial do governo brasileiro, que era o consenso mundial até efetivamente algumas décadas atrás", diz o coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Uniersidade Federal Fluminense (UFF) e professor do Departamento de Antropologia, Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto.
O presidente da Fepal ressalta que o mundo pós-Segunda Guerra Mundial, quando a ONU foi criada, está radicalmente diferente do ponto de vista econômico, científico, tecnológico e de inovação, em que a totalidade dos países que integram hoje o Conselho de Segurança, à exceção da China, não representam mais um quarto do que representavam na época.
"Onde já se viu 6,5 bilhões de pessoas do mundo não estarem representadas no Conselho de Segurança da ONU, o continente africano inteiro, a América Latina inteira?" questiona Rabah.
Todos os analistas ouvidos destacam que a reivindicação brasileira por uma reforma no Conselho e pelo respeito às resoluções da ONU é antiga e já ocorria na invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, a preocupação apenas se agravou com os conflitos posteriores.
Entretanto, reformar o Conselho de Segurança é "tarefa extremamente difícil" por vários motivos, sobretudo devido à desigual distribuição de poder militar, frisa Di Lorenzo:
"A grande incógnita é se países podem almejar alguma forma de liderança global sem terem recursos militares significativos, como é o caso do Brasil. A diplomacia brasileira está ciente dessa dificuldade', reflete o especialista.
A opinião é compartilhada pelos demais entrevistados, mas o Brasil tem
insistido no tema, que será uma das prioridades do país na
presidência rotativa do grupo G20 até o fim do ano, como afirma a especialista em Oriente Médio
Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM):
"Está dentro dessa lógica de trazer esse tema para o centro do debate e conseguir apoio de outros países, especialmente os países como Egito, Etiópia, Nigéria, África do Sul, que também se sentem pressionados pelas disputas geopolíticas das grandes potências e com menos capacidade de atuação via organismos internacionais, que sempre é mais interessante do ponto de vista estratégico", aponta ela.
O multilateralismo e aproximação com o Oriente Médio
Grande importador de produtos agrícolas e pecuários brasileiros, o Oriente Médio é uma região economicamente importante. Além disso, países como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita têm se destacado como investidores significativos na economia brasileira.
Mas embora a economia brasileira e a dos países árabes apresentem grau considerável de complementaridade, essa relação ainda não foi desenvolvida em um nível estratégico, de acordo com os entrevistados.
Apesar do crescimento substancial nas relações comerciais e financeiras, especialmente com as monarquias do Golfo, o doutor em relações internacionais da PUC-MG pondera que, em termos políticos, é improvável uma ampliação de uma frente política conjunta:
"A América Latina e o Oriente Médio estão imersos em contextos geopolíticos bastante distintos. Embora o BRICS represente uma frente importante, ainda não se consolidaram como uma força política conjunta significativa. Possivelmente, poderemos ver uma coordenação para reformas em aspectos específicos da governança global".
No âmbito político, os analistas concordam que o movimento brasileiro é de retomada e que apesar do alinhamento em temas importantes, ainda há um longo caminho a percorrer para uma articulação política mais substancial entre o Brasil e os países árabes.
"Em termos políticos, a questão é mais complexa, porque esses países também têm as suas agendas próprias, as suas zonas de influência e, obviamente, as suas alianças, que são várias", acrescenta o professor da UFF.
Além disso, o pragmatismo histórico da política externa brasileira faz com que outros países também tenham relação pragmática com o Brasil, na opinião de Hilu da Rocha Pinto, tornando as relações de curto prazo muito vantajosas em termos econômicos, mas não garantindo retornos, de longo prazo, em termos de capital político. Mas o Brasil tem se esforçado, com Lula, para incrementá-lo, afirma:
"É uma região que é
central na geopolítica mundial. Então, qualquer país que tenha um destaque na região, obviamente, terá retorno político grande", esclarece ele, ao acrescentar que a
entrada no BRICS de vários países da região, como o Egito e os Emirados, também é um ponto extra nesse contexto.
"Ainda é uma mudança em construção. Ela não é clara nem é segura, mas, de qualquer maneira, são esforços que o Brasil faz nesse sentido", conclui.