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Ex-eurodeputado: certa elite dos EUA tentou minar a Rússia com o Euromaidan, 'mas falhou'

© Sputnik / Mikhail VoskresenskyO eurodeputado espanhol Javier Couso
O eurodeputado espanhol Javier Couso - Sputnik Brasil, 1920, 18.02.2024
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Com o golpe de Estado de 2014 em Kiev, certa elite ocidental abertamente hostil a Moscou tentou enfraquecer a Rússia, mas não conseguiu, afirma o antigo eurodeputado Javier Couso. O político espanhol resumiu como a UE torpedeou a sua própria credibilidade e se deixou arrastar para a atual crise por causa dos interesses dos EUA.
Em entrevista à Sputnik, o ex-eurodeputado Javier Couso falou sobre o Euromaidan — uma agitação pública convocada pelas redes sociais que em 2014 reuniu cerca de 2.000 ativistas da oposição ucraniana favoráveis à destituição do governo vigente e ao alinhamento e adesão da Ucrânia à União Europeia (UE).
"Não é possível descontextualizar o que aconteceu há dez anos, sem lembrar também a tentativa de interferência em 2004, que foi chamada de Revolução Laranja. Aí também tivemos todos os elementos que mais tarde convergiram no golpe de Estado de Maidan. Houve uma clara interferência das autoridades dos EUA a todos os níveis: a nível político, com declarações ao mais alto nível, bem como financiamento ao abrigo de certas leis que permitiam usar fundos do governo dos EUA para supostamente promover a democracia no espaço pós-soviético", relata o político.
Segundo Javier Couso, o que está por trás deste acordo de associação entre a Ucrânia e a UE, tal como todo acordo de associação que o bloco europeu fez, tem muita interferência.
De acordo com ele, as reformas políticas são sempre forçadas, e visavam afastar a Ucrânia da zona de influência da Rússia, o que tem sido feito em todo o espaço pós-soviético, através desses acordos de associação ou através da reorganização desse espaço por meio de movimentos intervencionistas e golpistas, que foram chamados de revoluções coloridas.

"[...] Vimos claramente como o governo que emergiu daquele golpe de Estado, primeiro [Pyotr] Poroshenko e depois o sr. Zelensky, com leis que não poderiam ser aceitas em nenhum caso na União Europeia", afirmou.

Para o ex-parlamentar europeu, o ponto fundamental da ideologia das elites norte-americanas "não é apenas conter e enfraquecer a Rússia, mas até, como tem sido teorizado há muitas décadas, que a Rússia deve ser dividida em partes porque é demasiadamente grande e possui enormes riquezas naturais".
"Portanto, o que falhou não foi compreender que a Ucrânia é um país diverso, que é um país que tem diferentes minorias culturais e linguísticas, romenos, húngaros e russófonos, e tentar impor um nacionalismo ucraniano pró-ocidental, mas que curiosamente teve como ponto de lançamento elementos neofascistas e neonazistas que reivindicaram o passado atroz de criminosos de guerra nacionalistas ucranianos, como Stepan Bandera", aponta Couso.
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Para o político, de 2014 a 2022, houve mais de 14.000 mortes devido a um ataque direto das Forças Armadas lideradas por estes grupos neonazistas contra regiões em Donbass que tinham se levantado contra este golpe de Estado, exigindo o seu direito de participar de uma Ucrânia diversa e de poder continuar mantendo sua língua nativa, como o russo.

Poroshenko chegou a declarar isso de forma bastante objetiva: "Nossos filhos em Kiev ou Lvov vão brincar nos jardins e seus filhos, os filhos de Donbass, Donetsk e Lugansk, vão ter que ficar nos porões". Para Couso foi isso que falhou: "Não compreender a diversidade e que havia uma parte do povo, que pertencia à Ucrânia naquela altura, que não se deixaria esmagar por um golpe de Estado, supostamente pró-europeu e pró-democrático, mas que escondia o pior lado do fascismo e do nazismo".

Desde então a situação na Ucrânia se mostrou um desafio para a política europeia. Os Acordos de Minsk, por exemplo, acabaram se mostrando uma cortina de fumaça para tentar evitar a derrota da Ucrânia em 2014 e facilitar o seu rearmamento, a fim de prolongar o conflito, em vez de pôr um fim na crise.
Com toda a energia gasta com os Acordos de Misk, o ex-parlamentar acredita que os danos à credibilidade diplomática e à política internacional por parte da UE, sobretudo dos grandes países como França e Alemanha que desconsideraram parte da sua história para levar os arranjos adiante, foram consideráveis.

"Além disso, acredito que os Acordos de Minsk proporcionaram uma clara oportunidade para alcançar a paz e alcançar a integração em uma nova Ucrânia, o que daria espaço àquela parte que estava sendo reprimida militarmente e diretamente bombardeada. Portanto, houve um partido que não agiu de boa fé, porque depois tivemos nas declarações, declarações terríveis para a nossa credibilidade como cidadãos pertencentes à União Europeia, por parte de [ex-chanceler da Alemanha, Angela] Merkel e [ex-presidente da França, François] Hollande, que ficou claro que não o fizeram. Iam cumprir os Acordos de Minsk e o que fizeram foi enganar a Rússia para continuar a rearmar o Exército ucraniano até este se tornar o Exército mais poderoso da Europa", pontuou.

O Ocidente continua fornecendo armas a Kiev sem pensar nas consequências das suas ações, e é possível que, mais cedo ou mais tarde, a UE tenha de pagar um preço muito alto pelos seus erros, mas, de acordo com o entrevistado, a intenção é claramente desgastar e conter a Rússia através da Ucrânia.
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"Portanto, o pior é que estamos vendo é que durante estes dois anos eles ultrapassaram repetidamente todas as linhas vermelhas que a Rússia tinha estabelecido e, estou falando dos ataques à Crimeia, da utilização de armas de longo alcance para atacar território russo ou a escalada nos sistemas de armas, que o que fizeram não foi reverter a guerra, mas a prolongaram e a tornaram ainda mais grave", disse Couso.
"Não chamaria de erros. É uma política ativa de confronto com a Rússia, uma guerra da OTAN contra a Rússia, uma guerra por procuração através, poderíamos dizer, de várias gerações de ucranianos. Vai pagar, e está pagando, os seus cidadãos estão claramente pagando" por isso, afirmou. Para ele, a Ucrânia, tal como a conhecemos, tem um futuro difícil e já perdeu mais de 20% de seu território, sobrevivendo apenas graças à ajuda externa que financiou sua investida contra Moscou.
"Obviamente, a Rússia terá de impedir que estas ameaças sejam eficazes perto da sua fronteira, além, claro, de proteger as populações que foram expulsas deste projeto ucraniano e que quiseram ser parte da Federação da Rússia, como foi demonstrado nos diferentes referendos", garantiu.
Segundo a análise de Couso, tal como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que coloca as capacidades militares ocidentais sob o comando norte-americano, a União Europeia está sob o comando geopolítico norte-americano graças às elites que governam o bloco europeu. Ao fazerem a vontade de Washington, garantem que internamente podem fazer o que quiserem da política europeia, mesmo que às custas de sua autonomia soberana no cenário internacional.
"A população da União Europeia já está claramente pagando por esta loucura de apoio ilimitado, sobretudo a essa guerra e a uma Ucrânia moribunda", pontuou.
Após as 12 rodadas de sanções do bloco europeu que praticamente repercutiram contra a população europeia, vimos a UE dar um tiro no pé ao seguir os Estados Unidos cegamente, observou o político, lembrando especialmente que a Alemanha foi impedida de ter acesso ao fornecimento barato e confiável de gás natural da Rússia através dos gasodutos Nord Stream 1 e 2 (Corrente do Norte 1 e 2), que posteriormente sofreram um ataque sem precedentes.
"É verdade que não nos países do Sul, mas em países como a Alemanha, estão crescendo opções políticas que dizem claramente que devemos reconstruir as nossas relações com a Rússia e que não podemos pagar a um país que está levando a cabo uma guerra terrível jogando sua própria população no cadafalso às centenas de milhares — estamos falando do governo da Ucrânia — e que isso não é benéfico para a população europeia, muito pelo contrário", afirmou Couso.
"Por isso prevejo que haverá muita turbulência, não só na União Europeia, mas na OTAN porque esta guerra vai acabar e pelo que dizem todos os analistas será com uma vitória para a Rússia", garantiu o político em sua análise. "Ou seja, não terão conseguido o que pretendiam", mas para Couso certamente no futuro, após a resolução deste conflito na Ucrânia, a sobrevivência da UE e da Aliança Atlântica vão estar em risco.
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