Esmola sem fim e sem vergonha: por que Zelensky continua exigindo ajuda depois de seu fracasso?
10:12 04.03.2024 (atualizado: 10:43 04.03.2024)
© AP Photo / Roman KoksarovVladimir Zelensky durante entrevista coletiva conjunta com o presidente da Letônia, Edgars Rinkevics, em Riga. Letônia, 11 de janeiro de 2024
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As disputas internas entre os parceiros da Ucrânia sobre a ajuda militar serão impossíveis de esquecer, declarou o presidente ucraniano Vladimir Zelensky, exigindo mais ajuda para o seu país enquanto fala de uma nova contraofensiva e das consequências da sua campanha fracassada, enquanto a Rússia continua destruindo indústria militar de Kiev.
Na sua opinião, o mundo tem "sistemas de defesa aérea suficientes" e "a Ucrânia não pediu nada mais do que necessita" para a "defesa da vida". Ao mesmo tempo, criticou o atraso no fornecimento de armas e sistemas de defesa aérea a Kiev, acusando os aliados de "jogos ou disputas políticas internas" que limitam "a nossa defesa".
"Isso é impossível de entender. É impossível concordar com isso. E será impossível esquecer: o mundo se lembrará disso", disse Vladimir Zelensky em seu discurso na televisão.
Suas palavras surgiram em meio a rumores sobre uma nova contraofensiva. Em 23 de fevereiro, o chefe de Estado disse à Fox News que o seu país prepara um novo contra-ataque no mar Negro e na zona de operações especiais.
No entanto, é preciso notar que essa não é a primeira vez que Zelensky acusa os seus parceiros ocidentais de não lhe fornecer armas suficientes. Assim, durante a primeira campanha, Kiev culpou o Ocidente pelo seu fracasso no campo de batalha, embora os políticos ocidentais tenham deixado claro que a Ucrânia tinha recebido armas suficientes para cumprir a sua missão.
Kiev já tinha 'armas suficientes para uma contraofensiva' que 'foi um fracasso'
No final de fevereiro de 2023, começaram a ser anunciados os preparativos para uma operação militar na Ucrânia. Assim, Zelensky garantiu que "existem movimentos militares, estamos nos preparando para eles". A princípio, a campanha prometida foi anunciada para a primavera europeia, mas depois o momento do contra-ataque foi alterado várias vezes.
Em meio a negociações sobre um contra-ataque, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, garantiu que os países do bloco entregaram 98% de toda a ajuda prometida a Kiev.
"Os países da OTAN já transferiram 1.550 veículos blindados e 230 tanques para a Ucrânia e treinaram e armaram mais de nove brigadas blindadas. Isso coloca a Ucrânia em uma posição forte para retomar os territórios ocupados. Isso representa um apoio importante na forma de ajuda médica, sistemas de satélites móveis e pontes flutuantes", enfatizou Stoltenberg.
"Demos tanto equipamento que neste momento não temos munições para nós próprios [...]. Estamos dando demais", disse Donald Trump quando questionado sobre a sua atitude em relação à ajuda militar multimilionária que o seu sucessor Joe Biden está dando para a Ucrânia.
No final de maio de 2023, o montante acumulado de ajuda militar dos EUA à Ucrânia durante o mandato de Biden como presidente dos EUA ascendeu a US$ 38,3 bilhões (cerca de R$ 189,5 bilhões) e US$ 37,6 bilhões (aproximadamente R$ 186,1 bilhões) desde o início da operação militar especial russa, segundo dados do Pentágono.
Na verdade, a própria Ucrânia, na véspera do seu contra-ataque, também indicou que Kiev recebeu armas suficientes para lançar a operação.
"A Ucrânia tem armas suficientes para uma contraofensiva contra a Rússia. Esta operação dará ao país a vitória necessária para aderir à OTAN", disse o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitry Kuleba.
No entanto, a contraofensiva iniciada em Kiev em 4 de junho "foi um fracasso", segundo a descrição dada pelo presidente russo Vladimir Putin. Os últimos dados do ministro da Defesa russo mostraram que as tropas ucranianas perderam mais de 166 mil soldados entre mortos e feridos durante a contraofensiva.
Depois disso, contrariamente às declarações de Kuleba sobre a suficiência das armas fornecidas pelo Ocidente, Kiev começou a espalhar a narrativa de que atrasos e entregas insuficientes de equipamento militar foram a razão pela qual a contraofensiva ucraniana falhou.
A Ucrânia produz as suas próprias armas?
Vladimir Zelensky, durante sua visita aos Estados Unidos em 11 de dezembro, reuniu-se em Washington com chefes de empresas de defesa norte-americanas e declarou que Kiev quer aumentar a produção de equipamentos e munições, mas precisa da ajuda de Washington para isso.
"A Ucrânia está preparada e produzirá mais munições e equipamento militar, mas precisa do apoio de empresas demasiadamente poderosas", declarou o presidente perante os chefes das corporações BAE Systems, Day & Zimmermann, Boeing, Sierra Nevada, Northrop Grumman, RTX, Lockheed Martin, General Dynamics, D&M Holding e AeroVironment.
No entanto, nem os EUA nem a União Europeia (UE) investirão dinheiro na produção de munições de artilharia e outras armas no território da Ucrânia, uma vez que tal fábrica se tornaria um alvo legítimo da Força Aeroespacial russa, disse o especialista militar e cientista político Aleksei Anpilogov, à Sputnik.
Nas suas palavras, a Ucrânia praticamente não tem produção própria de armas e os projetos conjuntos com a Bulgária, a Eslováquia e a Polônia são bastante declarativos. Ao mesmo tempo, os EUA e a UE entregaram praticamente todos os seus arsenais de munições a Kiev e leva tempo para produzir novos, observou o especialista.
Na altura do colapso da URSS, a Ucrânia independente tinha aproximadamente 25% da capacidade de produção da indústria militar soviética, o que equivalia a quase 1.840 empresas de defesa, mostram dados organizados pelo historiador Aleksei Krivopalov.
Posteriormente, a Ucrânia fechou essas empresas e desmilitarizou-as gradualmente devido à falta de fundos. No entanto, alguns centros de produção importantes sobreviveram e continuam a operar até hoje. Por exemplo:
a fábrica de Malishev em Carcóvia, a maior fabricante de veículos blindados da URSS; o estaleiro Nikolaev, a empresa mais importante do gênero na União Soviética;
a Agência de Design Yuzhnoe em Dnepropetrovsk, a principal fabricante soviética de mísseis intercontinentais;
a empresa da indústria aeronáutica Antonov em Kiev; a fabricante de motores de aeronaves Motor Sich, na região de Zaporozhie.
Assim, o arsenal e os centros de produção ucranianos concentram-se principalmente em designs soviéticos. Quando as hostilidades começaram em 2014, a Ucrânia suspendeu as importações de componentes da Rússia. Isso levou ao fato de, desde 2016, a empresa Antonov não ter assinado um único contrato para novas aeronaves, segundo Thomas Laffitte, especialista do Instituto de Estudos de Política Externa dos EUA.
As autoridades ucranianas observaram que o governo deveria confiar na sua própria produção de munições para equipamento da OTAN, o que, nas suas palavras, é crucial para o conflito.
A empresa estatal ucraniana responsável pelo controle da indústria militar, Ukroboronprom, sublinhou que agora a principal tarefa da Defesa é manter o trabalho das empresas que se dedicam à reparação de equipamentos e obuseiros para que não tenham de estar localizadas no exterior. Mas também não estão imunes aos ataques russos.
Em 24 de fevereiro de 2022, o presidente da Rússia lançou uma operação militar especial no território da Ucrânia depois que as repúblicas populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL) lhe pediram ajuda contra a agressão de Kiev. O objetivo da operação é "a desmilitarização e desnazificação" da Ucrânia.