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Pepe Escobar: jovens do Sul Global migram para a 'isolada' Rússia

© Sputnik / Yevgeny BiyatovParticipantes do Festival Mundial da Juventude em Sirius, na região de Krasnodar, Rússia
Participantes do Festival Mundial da Juventude em Sirius, na região de Krasnodar, Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 05.03.2024
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Segundo o jornalista e analista Pepe Escobar, por qualquer métrica, o Festival Mundial da Juventude, que decorre no território federal de Sirius, de 1º a 7 de março, é uma conquista impressionante: uma espécie de operação cultural especial que abrange o jovem Sul Global.
Começa com o cenário incomparável — o parque de ciência e arte dos Jogos Olímpicos de 2014, aninhado entre montanhas nevadas e o mar Negro — até as estrelas do espetáculo: mais de 20 mil jovens líderes de mais de 180 nações, russos e principalmente asiáticos, africanos e latino-americanos, bem como diversos dissidentes do "jardim" ocidental obcecado por sanções, conta Pepe Escobar à Sputnik.
Entre eles estão dezenas de educadores, doutores, ativistas do setor público ou da cultura, voluntários de caridade, atletas, jovens empreendedores, cientistas, jornalistas cidadãos, bem como adolescentes de 14 a 17 anos que, pela primeira vez, têm como foco especial o programa "Juntos no Futuro". Estas são as gerações que construirão o nosso futuro comum, conta o jornalista.

"O presidente [russo Vladimir] Putin é mais uma vez bastante incisivo: enfatizou como se aplica uma distinção clara entre os cidadãos do mundo — incluindo o Norte Global — e a intolerante e extremamente agressiva plutocracia ocidental. A Rússia, um Estado-civilização multinacional e multicultural, por princípio acolhe todos os cidadãos do mundo", mencionou ele.

O Festival Mundial da Juventude de 2024, que se realiza sete anos depois de sua última edição, renova uma tradição que remonta ao Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes de 1957, quando a União Soviética (URSS) acolheu todos em ambos os lados da cortina de ferro durante a Guerra Fria.
A ideia de uma plataforma aberta para pessoas jovens, empenhadas e muito organizadas, atraídas pelos valores conservadores/familiares russos, permeia todo o festival em um claro contraste com as relações públicas artificiais e obcecadas pela cultura da "sociedade aberta", vendidas incessantemente pelas habituais fundações hegemônicas, de acordo com Escobar.
Bandeiras russa e chinesa em mesa antes de cerimônia de assinatura no Grande Salão do Povo, em Pequim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2023
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Cada dia do festival é dedicado a um tema principal. No sábado (2), o tema foi sobre "responsabilidade pelo destino do mundo"; no domingo (3), "unidade e cooperação entre as nações"; na segunda-feira (4) sobre "um mundo de oportunidades para todos".
Nada menos que 300 mil jovens de todo o mundo se inscreveram para participar do festival. Obviamente, selecionar pouco mais de 20 mil foi uma grande façanha. Após o festival, 2 mil participantes estrangeiros viajarão para 30 cidades russas para um intercâmbio cultural, exatamente o que o presidente chinês Xi Jinping define como "trocas entre pessoas", lembra o analista.

"Não é de admirar que os organizadores do festival, Rosmolodezh, a agência federal russa para assuntos juvenis, o chamem de 'o maior evento juvenil do mundo'", afirmou. Pepe Escobar lembrou ainda as palavras da diretora Ksenia Razuvaeva, que afirmou: "Estamos destruindo o mito de que a Rússia está isolada."

As armadilhas da 'multipolaridade assíncrona'

O festival tem tudo a ver com networking entre grupos de jovens, laços interculturais e comerciais que vão desde o nível comunitário sustentável até o nível geopolítico mais amplo.

O jornalista lembra ainda que teve a "enorme honra e responsabilidade de se dirigir a um público verdadeiramente multiglobal do Sul no pavilhão da região de Belgorod, convidado pela Russia Knowledge Foundation [Fundação de Conhecimento da Rússia], ao lado de um consultor de Hyderabad, na Índia".

Para o jornalista, a sessão de perguntas e respostas foi fantástica. Segundo seu relato, perguntas extremamente contundentes do Irã à Sérvia, do Brasil à Índia, da Palestina a Donbass representaram "um verdadeiro microcosmo do jovem Sul Global multicultural, ansioso por saber tudo sobre o atual grande jogo geopolítico, bem como os governos nacionais podem facilitar a cooperação cultural e científica internacional entre os jovens".
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Um workshop no domingo, por exemplo, focado em "o futuro de um mundo multipolar" discutiu a "multipolaridade assíncrona", uma questão considerada particularmente útil para o público, de acordo com Pepe Escobar. O tema suscitou questões extremamente contundentes por parte de pesquisadores da Sérvia, Ossétia do Sul, Transnístria e, claro, da China.
"Nada no fórum se compara a ir de sala em sala lotada, ter um vislumbre das discussões aprofundadas e depois passear pelos pavilhões em modo de rede total. Fui abordado por todos, do Sudão ao Equador, da Nova Guiné a um grupo de brasileiros, de indonésios a um funcionário do Partido Comunista dos Estados Unidos", contou.
Para o analista, a grande troca cultural revela o potencial que a multipolaridade guarda para o mundo, algo não apenas defendido pela Rússia, mas buscado por ela.

"Agora compare esta reunião pacífica e panglobal focada em todas as formas de programas comunitários sustentáveis, encharcada de esperanças e sonhos, com o lançamento da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] de um exercício massivo de belicismo de duas semanas denominado 'Resposta Nórdica 2024', realizado pela Finlândia, Noruega e pela recém-chegada Suécia a menos de 500 km das fronteiras russas", destaca o analista.

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