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'Estamos ante possibilidade real da 3ª Guerra', diz analista sobre ataques de Kiev a usina nuclear

© AP Photo / LibkosSoldados ucranianos cobrem os ouvidos para se protegerem do bombardeio de tanques russos em um abrigo na linha de frente na região de Zaporozhie. Ucrânia, 2 de julho de 2023
Soldados ucranianos cobrem os ouvidos para se protegerem do bombardeio de tanques russos em um abrigo na linha de frente na região de Zaporozhie. Ucrânia, 2 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.04.2024
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Enquanto os ataques ucranianos não atingirem os reatores da usina nuclear de Zaporozhie, há esperança. É o que relatam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Os recentes ataques na região da Ucrânia despertaram preocupações renovadas sobre os perigos da energia nuclear e o potencial para desencadear conflitos geopolíticos de grande escala.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor de relações internacionais Demetrius Pereira, da ESPM e Belas Artes, expressou preocupações sobre os riscos associados aos confrontos na região.

"Os ataques recentes não atingiram diretamente os reatores nucleares, mas o espectro do desastre de Chernobyl ainda paira sobre nós", alertou Pereira.

O acidente de Chernobyl, ocorrido durante a era soviética, não apenas teve consequências catastróficas para a saúde humana, mas também é amplamente considerado como um fator que contribuiu para o colapso da União Soviética.
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O conflito atual entre Rússia e Ucrânia, duas ex-repúblicas soviéticas, segundo o especialista, representa uma tensão delicada entre o Oriente e o Ocidente. "Estamos ante a possibilidade real de uma Terceira Guerra Mundial, agora envolvendo potências nucleares", sublinhou Pereira.

Com ambos os lados armados com armas nucleares, a questão nuclear se torna, segundo o especialista, uma preocupação iminente, com implicações potencialmente devastadoras para a humanidade.

Segurança e governança nuclear em jogo

Além das preocupações com as armas nucleares, o controle sobre as usinas nucleares também está em jogo. Zaporozhie, maior usina nuclear da Europa, antes sob controle ucraniano e agora localizada na região russa de Zaporozhie, levanta questões cruciais sobre segurança e governança nuclear.

"A Agência Internacional de Energia Atômica [AIEA] está tentando monitorar a situação, mas a luta pelo controle da usina representa um desafio significativo", explicou Pereira. A tentativa de retomada da usina por parte dos ucranianos, aponta o analista, aumenta ainda mais as tensões.

Leonam dos Santos Guimarães, diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e membro titular da Academia Nacional de Engenharia (ANE), oferece uma análise detalhada sobre os desafios e as implicações de um possível ataque à usina nuclear de Zaporozhie, situada em uma região "altamente volátil".

"Um ataque a uma usina nuclear não só representa um desafio imenso em termos de contenção e mitigação de danos ambientais e humanitários, mas também tem o potencial de redefinir relações geopolíticas e realinhar alianças internacionais", explicitou o diretor da ABDAN.

Segundo Leonam, os ataques ucranianos com drones à usina nuclear de Zaporozhie inserem uma nova e perigosa dimensão no conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

"Com possíveis ramificações extensas, não apenas para a região imediata, mas também para os países da União Europeia e, de forma mais ampla, para a comunidade internacional. As consequências de tais ações e suas implicações geopolíticas são complexas e multifacetadas", cravou.

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Risco de vazamento nuclear

Guimarães destaca a complexidade de conter um vazamento nuclear, ressaltando a natureza desafiadora dessa operação.
Ele enfatiza a importância da resposta imediata, a infraestrutura existente e os recursos disponíveis como fatores cruciais para minimizar os impactos de um acidente nuclear.

"Conter um vazamento em uma usina nuclear é uma operação extremamente complexa e desafiadora, que depende de vários fatores: a natureza do acidente, que inclui o tipo de dano ao reator ou a outras partes críticas da instalação, bem como a quantidade e o tipo de material radioativo liberado e a infraestrutura existente. A capacidade de uma usina de conter um vazamento depende de seu design, dos sistemas de segurança existentes e de quão bem esses sistemas podem lidar com o tipo específico de acidente", detalhou.

Ele continuou: "A eficácia da resposta imediata, incluindo o confinamento da área, a evacuação de pessoal e a implementação de medidas de descontaminação, é crucial para minimizar os impactos de um vazamento. A disponibilidade de recursos técnicos, humanos e financeiros para gerenciar a situação é fundamental. Isso inclui também o apoio internacional, como visto após o acidente de Chernobyl e o desastre de Fukushima."

Consequências geopolíticas de ataques contra usina nuclear

O diretor técnico discute as possíveis consequências geopolíticas de um ataque a uma usina nuclear, incluindo a elevação das tensões entre os países envolvidos, o impacto nas relações internacionais e o potencial para uma cooperação internacional intensificada.

"Um ataque desse tipo pode significativamente elevar as tensões entre os países envolvidos e seus aliados, podendo levar a uma escalada militar. […] As nações podem ser levadas a reavaliar suas alianças e estratégias de segurança, além de provocar debates intensos sobre a segurança nuclear. […] Por outro lado, a necessidade de lidar com as consequências de tal evento pode fomentar uma cooperação internacional sem precedentes, tanto em termos de ajuda humanitária quanto no fortalecimento dos protocolos de segurança nuclear", frisou à Sputnik.

Além disso, enfatiza que um ataque a uma usina nuclear não só apresenta desafios significativos em termos de contenção e mitigação de danos, mas também tem o potencial de remodelar o cenário geopolítico global, destacando a necessidade de uma abordagem cautelosa e colaborativa para lidar com essa ameaça complexa.

Riscos de uma Terceira Guerra Mundial

A possibilidade de que tais ataques desencadeiem uma Terceira Guerra Mundial, segundo o especialista, é "uma preocupação grave, mas também complexa. A dinâmica do conflito atual é influenciada por uma teia intrincada de alianças militares, interesses geopolíticos e estratégias de contenção".
Ele pontua que os ataques contra instalações nucleares são percebidos como escaladas significativas de conflito. Se considerados atos de guerra, podem justificar retaliações severas.
"A natureza e a extensão de tais retaliações dependeriam de muitos fatores, incluindo a percepção internacional do incidente e as decisões estratégicas das principais potências mundiais", arrematou.

AEIA se pronunciou

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A Usina Nuclear de Zaporozhie (ZNPP, na sigla em inglês) tem sido submetida a constantes bombardeios ucranianos e ataques de drones há mais de dois anos, desde que as forças russas assumiram seu controle em março de 2022. A Rússia tem alertado quanto aos riscos dos ataques de Kiev desencadearem uma crise nuclear no coração da Europa.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, pronunciou-se oficialmente sobre os ataques ucranianos à central nuclear de Zaporozhie, a maior da Europa.
Através de sua conta oficial no X (ex-Twitter) e da agência, Grossi confirmou pelo menos três acertos nas estruturas de contenção do reator seis. "Isso não pode acontecer", disse.
A AIEA afirmou também que os ataques não comprometeram a segurança nuclear, mas "este é um incidente grave com potencial para minar a integridade do sistema de contenção do reator".

"Esta é uma violação clara dos princípios básicos para proteger a maior central nuclear da Europa. Tais ataques imprudentes aumentam significativamente o risco de um acidente nuclear grave e devem cessar imediatamente", afirmou Grossi.

"Como disse diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas [CSNU] e do Conselho de Governadores da AIEA, ninguém se beneficia ou obtém qualquer vantagem militar ou política a partir de ataques contra instalações nucleares", disse.
Por fim, Grossi apelou às autoridades militares para que "se abstenham de qualquer ação que viole os princípios básicos que protegem as instalações nucleares".
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