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Veículos elétricos no Brasil: domínio chinês no mercado incomoda a Tesla de Elon Musk e os EUA?

© Luciano Carcara/BYDVeículos da BYD apresentados durante evento de lançamento da pedra fundamental do complexo industrial da montadora em Camaçari (BA), em 10 de outubro de 2023
Veículos da BYD apresentados durante evento de lançamento da pedra fundamental do complexo industrial da montadora em Camaçari (BA), em 10 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2024
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Uma das principais fábricas automobilísticas do Brasil, localizada em Camaçari (BA), é uma síntese do mercado nacional: em 2021, as atividades foram encerradas pela norte-americana Ford, e o espaço foi comprado anos depois pela chinesa BYD, que em março iniciou as obras para a instalação de um novo complexo de produção de carros elétricos.
Saíram de cena os norte-americanos e entraram os chineses. Era fim de 2021 quando uma decisão da Ford, primeira montadora a se instalar no Brasil, surpreendia o mercado local: após mais de um século fabricando carros no país, a montadora dos Estados Unidos anunciava o encerramento das atividades com o fechamento de três fábricas — nas cidades de Horizonte (CE), Taubaté (SP) e Camaçari — e a demissão de mais de 5 mil trabalhadores. Em 2019, já havia paralisado uma das linhas de produção mais tradicionais no país, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Na Bahia, restaram as antigas instalações e um terreno de quase 5 milhões de metros quadrados que foi comprado pelo governo estadual por R$ 290 milhões. Até que no ano passado a gigante chinesa BYD anunciava a intenção de instalar um complexo fabril na mesma localidade. Ao custo de R$ 3 bilhões, as obras foram iniciadas no último mês e a área vai receber três fábricas para linhas de montagem e processamento de lítio e ferro-fosfato, além de produção de peças. Conforme a marca, a expectativa é de produção de 150 mil veículos elétricos por ano entre o fim deste ano e o início de 2025. Além disso, é a primeira fábrica de veículos totalmente elétricos do Brasil e também a primeira da BYD fora da Ásia.
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Enquanto a chinesa conquista o mercado brasileiro a passos largos, a principal concorrente no âmbito internacional sequer iniciou as atividades no Brasil: a Tesla, do bilionário Elon Musk, que nas últimas semanas chegou a atacar o governo brasileiro e até o Supremo Tribunal Federal (STF) ao ameaçar não cumprir decisões judiciais relacionadas à rede social X. Na América do Sul, a primeira loja da empresa, que no início do mês anunciou a demissão de 10% dos funcionários, só foi inaugurada em janeiro deste ano no Chile, enquanto no Brasil a expectativa é só para o fim do ano.
Dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) revelaram que no ano passado a venda de carros elétricos no país foi recorde: ultrapassaram 93 mil unidades, um número 91% superior ao consolidado em 2022.
O doutor em sociologia e pesquisador do Grupo de Estudos da Inovação (GEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rodrigo Wolffenbüttel explicou à Sputnik Brasil que o mercado de veículos elétricos conta com dois tipos: aqueles puramente movidos por bateria e os chamados híbridos, que possuem um preço menor e também funcionam a gasolina ou etanol.

"Se levarmos em consideração os veículos movidos exclusivamente a bateria, temos um predomínio de montadoras chinesas que aconteceu de forma muito rápida. Em questão de dois anos, eles se inseriram, fizeram um grande movimento de entrada no mercado nacional, investimentos e publicidade", pontua o especialista, que enfatiza ainda os preços mais vantajosos quando comparados aos de outras marcas.

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Já o coordenador acadêmico da Fundação Getulio Vargas (FGV) para cursos da área automotiva, Antônio Jorge Martins, acrescenta à Sputnik Brasil que companhias chinesas como a BYD ajudaram também a movimentar outras montadoras já presentes historicamente no país. Prova disso, segundo o especialista, são os investimentos recordes anunciados pelo setor automobilístico na última semana, em evento que contou até com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), são R$ 125 bilhões previstos até 2032.

"A vinda das chinesas provocou até a comodidade das empresas que se situavam no Brasil, diante da oferta dos veículos elétricos com alta tecnologia e preços menores. Isso fez com que houvesse uma mexida no mercado brasileiro de tal forma que muitas também se voltassem para a motorização híbrida, com um volume de investimentos muito grande, outros menores dependendo do estágio em que se encontram", resume.

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Quais montadoras chinesas estão no Brasil?

Ainda em 2009, a montadora Chery foi a primeira chinesa a iniciar a venda de veículos no Brasil e instalou uma fábrica em solo nacional em 2014. Passados dez anos, a situação é completamente diferente, aponta Wolffenbüttel, principalmente com o mercado de carros elétricos.
"A China era sinônimo de carro ruim, que não valia a pena, tinha problema com fornecedor… E agora, com essa janela de oportunidade da transição energética para os veículos elétricos, as montadoras chinesas, nomeadamente a BYD e a Great Wall, estão entrando com muita força e se apresentam como uma referência", explica.
Segundo o especialista, ainda há um interesse estratégico no Brasil para a instalação de fábricas que possam fornecer veículos a toda a América Latina.
"Isso logo implica em uma perda de terreno expressiva para outras montadoras, sejam elas norte-americanas ou europeias. Então elas estão nessa batalha e perdendo. […] O país ainda tem algumas particularidades, a questão da arquitetura tecnológica, porque a gente tem a tradição do etanol e todos os biocombustíveis como uma fonte alternativa, que teoricamente também reduz a emissão de gases de efeito estufa."
O panorama é similar em outras partes do mundo, acrescenta Antônio Jorge Martins. "Isso incomoda os Estados Unidos, porque os chineses vêm liderando esse processo, inclusive tendo a Tesla, que é norte-americana, como uma das fabricantes de veículos elétricos lá na China. De forma geral, existe uma preocupação em fazer frente a esse desafio de também manter uma janela forte para o setor automotivo, que é um setor que possui cada vez mais desenvolvimento de tecnologia", argumenta, ao pontuar também que o mercado interno chinês é o triplo do norte-americano, o que também contribui para essa situação.
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Por qual motivo a Tesla não desponta no Brasil?

Com carros que custam a partir de R$ 500 mil, a norte-americana Tesla é quase inexistente no mercado interno brasileiro. Para o coordenador acadêmico da FGV, a empresa tem postergado a entrada no país diante de desafios como a própria presença chinesa e até a redução dos mercados de veículos totalmente elétricos no mundo, com a preferência dos consumidores pelos híbridos. "Essa situação obrigou, inclusive, a fazer uma redução em sua mão de obra da ordem de 10%", diz.
Enquanto isso, Rodrigo Wolffenbüttel comenta que o público-alvo da Tesla é muito específico, interessado em tendências tecnológicas e no que está vinculado ao veículo.
"Já a BYD atende a uma fatia do usuário mais convencional, ou seja, a pessoa que não está tão interessada no simbólico do veículo. Ela quer um veículo tal qual o carro a combustão, com alguma coisa de diferença de design, preocupação com autonomia. Em termos de bolso, a possibilidade de acessar esse veículo [da chinesa] é muito mais próxima, e basicamente ele opera dentro dos mesmos registros de um automóvel comum, com algumas diferenças vinculadas a ele", finaliza.
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