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Acordo Mercosul-Japão representa direcionamento 'quase inevitável' à Ásia, dizem analistas

© AP Photo / Eraldo PeresO então ministro das Relações Exteriores do Japão, Motegi Toshimitsu, mostra acordos assinados com o então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, no Palácio Itamaraty. Brasília, Brasil, 8 de janeiro de 2021
O então ministro das Relações Exteriores do Japão, Motegi Toshimitsu, mostra acordos assinados com o então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, no Palácio Itamaraty. Brasília, Brasil, 8 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 23.04.2024
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As negociações entre o Mercosul e o Japão por um acordo comercial representam uma "tendência quase inevitável" em relação à Ásia, afirmam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Embora muito se fale do acordo entre os blocos econômicos do Mercosul e da União Europeia, que encontra grande entrave pela França de Emmanuel Macron, uma outra parceria vem sendo costurada pelo bloco sul-americano — que pode ser ainda melhor para todos os países envolvidos: o acordo Mercosul-Japão.
Os benefícios dessa parceria foram investigados no Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

Qual a vantagem de um acordo com o Japão?

Os países do Mercosul têm um volume de comércio muito grande com a Ásia. Dados de 2022 apontam que 49% das exportações do bloco vão na direção dos países orientais, sendo a China o principal destino das remessas, enquanto o Japão ocupa o nono lugar.
É o que afirma Beatriz Bandeira de Mello, cientista política, doutoranda em relações internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora no Observatório Político Sul-Americano (OPSA).

"No mesmo ano, 44% das importações do Mercosul vieram da Ásia, com o Japão ocupando o sétimo lugar."

Esses dados, em vez de desestimular o comércio entre o Japão e o bloco, revelam como há espaço para crescimento bilateral entre os países.
Para Juan Agulló, doutor em sociologia e professor do Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), ambas as nações têm economias bastante complementares.

"O Japão é uma economia complexa que tem muita tecnologia e muita capacidade de investimento, inclusive de compra. Já o Mercosul tem economias orientadas para a exportação de produtos primários, ou seja, agricultura e minerais."

Nesse sentido, a abertura comercial do Japão ao Mercosul representa "um mercado inédito para produtos como milho, soja e frango", disse Agulló.
No caso do Brasil, destacam os analistas, há oportunidades em uma grande variedade de setores, desde os mais tradicionais do agronegócio até o minério de ferro — o Japão é um dos maiores produtores de aço do mundo —, as frutas tropicais e o suco de laranja brasileiro.

"O Brasil é o país do bloco que tem mais relações com o Japão, mas são muito modestas. E um acordo assim, como o do Mercosul com o Japão, pode realmente turbiná-las", disse Agulló.

Por outro lado, com o acordo, o país do sol nascente pode se tornar um investidor ainda maior na industrialização brasileira. Um documento produzido em 2023 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação Empresarial do Japão destaca áreas de interesse especial, como descarbonização da economia e transformação digital.
"O Japão é um dos países que mais investem diretamente no Brasil", afirma Mello. Um dos exemplos desses investimentos são as montadoras de automóveis japonesas Nissan e Toyota dentro do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), do governo federal.
Contudo, esse lado industrial clássico não é o único que pode se beneficiar da transferência de conhecimento japonês. O país implementa bastante tecnologia de ponta em seu setor agrícola, e isso pode ser compartilhado com o Brasil, como tecnologias de agricultura de precisão e gestão de recursos hídricos, afirma Agulló.
Para Mello, o potencial dos investimentos japoneses pode fomentar a reindustrialização do Brasil, mais especificamente "dentro do que o governo brasileiro tem chamado de neoindustrialização."
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Diversificação da economia da América do Sul

Nos últimos 20 anos, a China se tornou a maior parceira comercial para vários países da América do Sul, como Brasil, Uruguai, Chile e Peru, representando uma queda da presença norte-americana na região.
Assim, um acordo com o Japão "confirmaria a virada política da América do Sul para a Ásia e, ao mesmo tempo, contribuiria para a diversificação", afirmou Agulló.
"Há um tempo que [a América do Sul] começou a voltar seu eixo econômico para a Ásia. Esse acordo com o Japão não seria mais do que uma confirmação. Tem a China, tem a perspectiva do Sudeste Asiático e tem a Índia, que vem ganhando posições […]. A verdade é que é uma tendência regional quase inevitável."
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Ou seja, há uma rota de escape para o Japão não ficar tão dependente dos mesmos atores globais. "O Mercosul pode primeiramente ajudar a compensar as suas tensões com a China", afirmou Agulló, "e ao mesmo tempo, de uma forma um pouco mais sutil, reduzir a dependência que o Japão tem de países como os Estados Unidos ou a Austrália".

"O Japão já se colocou como um incentivador das relações entre o país e a América Latina colocando essa região como prioritária dentro da sua política externa", diz Mello.

Nesse sentido, o acordo comercial com a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), que está em estudo, também ajudará a diversificar a economia dos países da América do Sul. Atualmente, a China pode ser a principal parceira comercial dos países da região, mas a ASEAN vem logo em seguida, destaca Mello.

"Esse olhar mais estratégico para o Sudeste Asiático e para a Ásia tende a agregar muito valor às exportações não só do Brasil, mas do Mercosul como um todo."

Com a ASEAN, destaca Agulló, a complementaridade da economia não é tão grande quanto a do Japão, mas "há potencial" em diversos setores, desde o agrícola ao de manufaturados sul-americanos.
"E a ASEAN poderia ser também um conselheiro muito interessante em termos de estratégias de desenvolvimento", ressaltou o professor. "Muitos dos países-membros da ASEAN, como Vietnã, Malásia, Tailândia, inclusive a Cingapura — com que temos já um acordo —, mudaram a sua estrutura econômica e turbinaram o seu desenvolvimento em poucas décadas."

"E eles podem ajudar muito com bons conselhos, com conhecimento, com técnicos, inclusive com investimentos muito focalizados. Pode ser também uma relação muito interessante com a ASEAN."

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