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BRICS não para de crescer e já representa 35% do PIB mundial. Mas o que o Brasil ganha com isso?

© Ricardo Stuckert / PRO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 06.05.2024
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Com uma população de mais de 3,5 bilhões de pessoas, 40% dos habitantes do mundo, o grupo do BRICS, cuja sigla representa a primeira letra de seus países fundadores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), não para de crescer e já representa 35% do produto interno bruto (PIB) global.
Mas o que o Brasil ganha na prática ao ser membro do grupo? Para analisar os reais impactos dessa aliança, a Sputnik Brasil ouviu estudiosos do assunto, como o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Augusto Rinaldi. Segundo o especialista, o BRICS representa sobretudo um arranjo político estratégico sobre pautas comuns de seus membros.

"Não vejo uma relação muito direta, muito linear entre ser membro do BRICS e ganhar alguma coisa em troca. Porque o BRICS não é uma organização internacional com tratado constitutivo, com código de conduta preestabelecido para que os países se comportem de determinado jeito e, com isso, tenham alguma recompensa, ganho mais direto", opinou Rinaldi.

Doutor em geografia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gustavo Blum também conversou com a Sputnik Brasil sobre o tema.

"O BRICS não é um bloco de harmonização de práticas legislativas, de práticas comerciais. Inclusive é difícil utilizar esse termo, 'bloco', porque ele não pretende ser uma estrutura monolítica que cria uma autoridade acima dos governos", comentou.

No caso do Brasil, o professor da PUC-SP defendeu que nos últimos dez anos o BRICS tem servido de espaço de "circulação diplomática de alto nível", por meio de conferências com chefes de Estado, presidentes e primeiros-ministros, sendo uma oportunidade valiosa para trocas, diálogos e acordos bilaterais.

"Do ponto de vista político-diplomático, há ganho bastante interessante para a política externa brasileira. Destacaria também a questão do status internacional. Ao mesmo tempo o Brasil consegue se utilizar do arranjo para estabelecer algumas parcerias, laços políticos com os demais países, de modo a fortalecer, ou pelo menos aumentar, a voz do Brasil nas suas demandas internacionais", comentou.

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Blum também argumentou que a maioria dos benefícios tem sido fruto dessas conversas diretas com políticos, instituições e grandes fornecedores e empresas de países como China, Arábia Saudita e Rússia.
O fato de mais de 20 países estarem interessados em integrar o BRICS ilustra o status importante que o arranjo ganhou ao longo dos anos, segundo os entrevistados, e a proximidade do Brasil com China, Índia e Rússia, e mais recentemente com Egito, Arábia Saudita e outros novos membros, foi favorecida por esse arranjo diplomático:

"Abre mais um canal de aproximação comercial que pode facilitar o estabelecimento de parcerias de cooperação de ajuda e de comércio. Os principais parceiros comerciais [do Brasil] justamente estão no BRICS", lembrou.

O professor da Unicamp lembrou que a maioria dos países da articulação possui vastos territórios e tem grande população, o que permite acesso a recursos naturais importantes e a uma dinâmica de mercado interno que não depende tanto das flutuações internacionais.
Embora sejam países muito diferentes, os primeiros membros, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tinham elementos comuns na agenda de política externa que possibilitaram a criação do grupo, lembra Rinaldi. Alguns se fortaleceram, como a defesa do multilateralismo, "do papel das instituições internacionais multilaterais de enfrentar problemas como crise financeira, de dar maior voz aos países em desenvolvimento".
Desde então o BRICS vem pressionando os países hegemônicos para que haja uma reforma na atual arquitetura internacional e na governança global.

O banco do BRICS

Os especialistas também citaram a criação do banco do BRICS, em 2014, como um dos exemplos de que essa pressão por uma nova ordem mundial está ganhando força.

"O BRICS tem assumido um protagonismo bastante importante nos últimos anos e, em certa medida, tem servido bem aos interesses dos países, porque continuam dando atenção ao arranjo, se reunindo regularmente; os chefes de Estado, nenhum deles falta às reuniões, seja on-line, por conta da pandemia, seja presencial", ponderou Rinaldi.

Atualmente presidido pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, o banco vem facilitando o acesso a mercados, promovendo o comércio e estimulando interconexões econômicas, o investimento mútuo e acordos como o de proteção dos consumidores no comércio eletrônico dos países-membros.

"Ou seja, empresas russas, chinesas, sul-africanas, indianas, brasileiras entrando nesses mercados sem fazer triangulação com empresas americanas ou europeias", ressaltou Blum.

O arranjo de reservas de contingência é outro ponto forte do agrupamento, como forma de apoiar os países mais frágeis em eventuais momentos de crise, pontuou.
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Argentina fora do BRICS e entrada de novos parceiros

Em 2023, a vizinha Argentina foi convidada a aderir ao BRICS. Mas quando Javier Milei assumiu a presidência, rejeitou a aliança e optou por se incluir no eixo formado por Estados Unidos, Reino Unido e Israel.
O anúncio, que a princípio foi recebido como um balde de água fria pelo governo brasileiro, hoje se mostra uma oportunidade para o Brasil, segundo Rinaldi.

"Como a Argentina decidiu não entrar, o Brasil pode usar disso como um trunfo na hora de negociar com os demais membros do BRICS. […] um outro ponto tem a ver com o dilema da ação coletiva mesmo, no sentido de que quanto mais gente você coloca, mais difícil fica encontrar pontos comuns e uma linguagem comum", frisou ele.

A convergência entre todos os membros para definir posicionamento e a linguagem adotada sobre determinados eventos internacionais torna-se um dos maiores desafios do grupo à medida que ele se expande, comentaram os especialistas.
O professor de relações internacionais ponderou que uma das vantagens do BRICS é que não há demanda de lealdade ideológica de seus membros, que "pensam muito mais em termos político-estratégicos do que propriamente ideológicos ao fazer parte do arranjo".

"O BRICS não é um bloco comercial, é um arranjo político, mas que cria oportunidades de laços econômicos. Nesse sentido, as empresas podem muito bem se beneficiar desses laços econômicos desses intercâmbios", ressaltou Rinaldi.

Blum também destacou essa vantagem do grupo de fazer uma articulação em setores mais específicos, com maior liberdade e sem acordos comerciais grandiosos "que poderiam atar outras estratégias de política externa e comercial".

"O fato de o Irã estar agora no BRICS, por exemplo, é algo vantajoso para o Brasil para negociar pautas de energia nuclear. Abrem-se possibilidades […], a participação da Arábia Saudita significa a potencialidade de mais mercados em razão do processo de descarbonização que está se tentando levar a cabo, sobretudo na União Europeia", elencou ele.

O geógrafo também citou outros benefícios mais qualitativos do que quantitativos, como as trocas de pesquisadores acadêmicos e institucionais dos países-membros e a cooperação para construção de satélites:

"Isso significa mais acesso à informação, verificação de outros sistemas, que não só o GPS americano […]. Trata-se de uma tentativa de não depender tanto de determinados centros específicos do sistema internacional, sobretudo dos Estados Unidos", concluiu o especialista.

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