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Afinal, o que Xi Jinping foi fazer na Europa?

© AP Photo / Aurelien MorissardO presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente francês, Emmanuel Macron, em restaurante na passagem de Tourmalet, nas montanhas dos Pireneus, em 7 de maio de 2024
O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente francês, Emmanuel Macron, em restaurante na passagem de Tourmalet, nas montanhas dos Pireneus, em 7 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 08.05.2024
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Após cinco anos sem pisar no continente europeu, Xi Jinping faz um breve tour pela Europa, onde se encontra com líderes da União Europeia, França, Sérvia e Hungria. Por que Pequim escolheu esses países para dialogar? O que representa esse retorno à Europa em meio a uma escalada geopolítica entre as duas regiões?
Os motivos "oficiais e não oficiais" do presidente chinês em sua visita à Europa foram explorados no episódio de hoje do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

Por que Xi Jinping foi à Europa?

Segundo Rodrigo Abreu, pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), e doutorando em relações internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o motivo oficial dessa viagem é a "comemoração dos 60 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França".
A França reconheceu a soberania do governo chinês em 1964, enquanto os países ocidentais "no geral só passaram a reconhecer o governo de Pequim como representante oficial da China na década de 1970".

"Então a China gosta muito de demonstrar que essa questão do reconhecimento diplomático é importante porque ainda está na pauta. Tem países que ainda consideram Taiwan como representante da China em detrimento de Pequim."

Mas a França não é o único país que Xi Jinping visitou. O líder chinês fez também uma visita à Sérvia, liderada por Aleksandar Vucic. "Graças" aos Estados Unidos, há hoje um "grande laço que une a Sérvia e a China", destacou Abreu.
Em 7 de maio de 1999, os Estados Unidos bombardearam a embaixada chinesa em Belgrado, capital da Sérvia, matando três jornalistas chineses.
"Essa questão do atentado de Belgrado é muito sensível dentro da China […] porque dentro daquele contexto da guerra da dissolução da Iugoslávia, da guerra do Kosovo, principalmente, existia um discurso da OTAN de que os armamentos utilizados ali no bombardeio da Sérvia seriam armamentos de alta precisão", disse o analista.
"Inclusive a bomba que atinge a embaixada chinesa é justamente uma dessas bombas de alta precisão. Então tem-se uma questão de se esse ataque foi deliberado por parte da OTAN ou se foi um acidente."

"A Sérvia, desde então, tem grandes laços anti-OTAN, e a China se aproveita disso para gerar uma estabilidade ali na região dos Balcãs."

Nesse sentido, apesar de aproveitar a ocasião para realizar acordos de cooperação, o grande destaque da visita de Xi Jinping à Sérvia é justamente a sua presença no aniversário do atentado.
No entanto, aponta Abreu, há ainda uma série de motivos não oficiais por trás do pequeno eurotour chinês, como questões relacionadas ao conflito ucraniano e aos embargos econômicos ao país. "A Europa, além de ser um mercado muito importante para a China, é central ali dentro do cenário da Iniciativa Cinturão e Rota", acrescentou.
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A visão da China do conflito da Ucrânia

Desde o início do conflito na Ucrânia, a China se colocou à disposição para encontrar uma solução entre as partes, diferentemente dos países ocidentais, que prezaram uma derrota estratégica da Rússia.
"O Xi Jinping declarou que a China se opõe às tentativas de utilizar a crise na Ucrânia para difamar um terceiro país ou para alimentar uma nova Guerra Fria", destaca Marina Moreno Farias, pesquisadora do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégica (ISAPE) e integrante do Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"A China, dentro da sua diplomacia, guia a sua condição de política externa através do princípio de não interferência", afirmou Farias.

Dessa forma, aponta a especialista, em sua visita Xi Jinping vai tentar mais uma vez negociar uma solução diplomática do conflito, até porque o país asiático preza a estabilidade global para implementar seu projeto do Cinturão e Rota.
"A China se beneficia muito do status quo, da manutenção do comércio internacional para garantir o seu próprio crescimento econômico", explica Abreu.
Para Farias, no entanto, essas aspirações dificilmente se tornarão realidade, uma vez que o presidente francês, Emmanuel Macron, se posiciona abertamente contra a Rússia.
Dessa forma, diz Abreu, Sérvia e Hungria, países que são alinhados à Rússia no teatro geopolítico europeu, também podem ser entendidas como aliadas da China no continente.
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Xi Jinping quer combater as sanções comerciais

O outro motivo "não oficial" da visita do presidente chinês à Europa é tentar diminuir as tensões comerciais que o país tem com a União Europeia.
Por não condenar a Rússia em sua operação especial, "a partir do fim de 2022, a visão da União Europeia e dos Estados Unidos é que a China é realmente uma inimiga do Ocidente", argumenta Farias.

"A secretária do Tesouro dos Estados Unidos [Janet Yellen] já tinha advertido a China de que os EUA não iam aceitar que novos setores da economia americana fossem dizimados pelas importações chinesas", lembrou a pesquisadora do ISAPE.

No mercado europeu, ressaltou Abreu, é justamente "a França que vem capitaneando o processo de tarifação dos produtos chineses, sob a acusação de que a China está subsidiando empresas de maneira a dificultar a concorrência das companhias europeias dentro do próprio mercado europeu".
Nesse âmbito, a visita de Xi Jinping à França, onde se encontrou com Macron e com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, pode se mostrar mais frutífera. A diplomacia chinesa tem um histórico de "ir comendo pelas beiradas e não atacar as coisas de maneira muito direta", destacou Farias.
Isso é evidenciado pelo fato de que, após visitar Pequim, o chanceler alemão, Olaf Scholz, mudou um pouco seu discurso quanto à tarifação de produtos chineses.
"No início do mandato, [Scholz] já tinha falado que ia aumentar as taxações contra produtos chineses, mas vem mudando o discurso cada vez mais, falando que os produtos europeus têm que ter mais apoio no mercado chinês também", disse Abreu.

"Se a Alemanha e a França se posicionam contra essa questão, a tendência é que a pauta tenha muito mais dificuldade de ser levada à frente pela Comissão Europeia."

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