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Após eleição, Chade dará novo passo para consolidar afastamento entre Sahel e Ocidente?

© Sputnik / POOL / Acessar o banco de imagensPresidente do Chade, Mahamat Idriss Déby, durante reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, em 24 de janeiro de 2024
Presidente do Chade, Mahamat Idriss Déby, durante reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, em 24 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 13.05.2024
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País produtor de petróleo no centro-norte do continente africano, na região do Sahel, o Chade anunciou o novo presidente do país na última quinta-feira (9). Esta foi a primeira eleição presidencial na região africana do Sahel desde uma onda de retomadas de poder.
O presidente eleito, Mahamat ibn Idriss Déby Itno Mahmūd, que atuava como líder de transição desde 2021, após a morte do presidente anterior e seu pai, ganhou o pleito com 61% dos votos, à frente do primeiro-ministro Succès Masr (18,53%) e permanecerá no poder.
O pai, Idris Déby, morreu em combate com grupos opositores há três anos. Em 8 de outubro de 2022, o conselho militar foi dissolvido e Mahamat Idriss Déby foi proclamado presidente interino.
Especialista em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Franco Alencastro explicou à Sputnik Brasil que o fato de ter enorme controle sobre a máquina pública e de fazer parte de um grupo que detém o poder no Chade há mais de 30 anos contribuiu para a vitória de Idriss Déby filho.

"Ele tinha uma legitimidade familiar, já que era filho do presidente anterior, mas nunca tinha sido eleito propriamente", comentou ao lembrar que o pai, Idris Déby, governou o país entre 1990 e 2021. "Aparentemente, a taxa de participação foi alta, 75%, o que surpreende no caso de uma eleição tão tensa, com candidatos vetados, em que você tem um candidato que é assassinado [Yaya Dillo]", comentou.

A lisura das eleições também foi posta em xeque pela oposição, cujo resultado foi adiantado com 11 dias da data prevista:

"As eleições se deram sem que as regras democráticas do jogo fossem plenamente respeitadas, em clima de intimidação […]. acho que dá para dizer, de terror, [e] que não não dá para dizer que há uma situação de equilíbrio entre os diferentes partidos para que possam concorrer de maneira justa", avaliou o especialista. "Pode não ser uma eleição totalmente limpa, mas que empresta legitimidade para um governo que até aquele momento não tinha essa legitimidade."

Mahamat Idriss Déby Itno fala com a multidão no último comício final da campanha eleitoral. N'Djamena, 4 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 09.05.2024
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Líder do governo de transição, Mahamat Idriss Déby, vence eleições no Chade
Da etnia Zagawa, grupo étnico principal do Chade, o presidente fez treinamento militar na França. O pai, Idris Déby, assumiu o poder após um longo período de conflitos civis durante toda a década de 1980.

"Ao longo da década de 90, ele consegue primeiro chegar ao poder e se consolidar por sua história e seu histórico militar, vitórias em campo de batalha, mas nunca o controle completo; sempre teve grupos que mantêm combate", explicou o analista.

A dependência política e econômica da França é outro ponto: mais de 45% da pauta comercial do Chade é francesa, "algo incomparável com qualquer outro país", ressaltou Alencastro. O país também possui o maior número de militares franceses na região: "Só na base aérea de N'Djamena, são mais de mil militares franceses. É muita coisa."
Mas os ventos têm mudado, ponderou ele. A aliança entre países do G5 Sahel, que combatia o extremismo islâmico com o apoio militar da França, acabou em 2023 com a retirada das tropas francesas de vários países da região, que "vive uma sensação de esgotamento muito forte sobre as relações com o Ocidente".
Além disso, as eleições ocorreram em meio a protestos contra a influência ocidental no país e à retirada das tropas norte-americanas do Chade.

"Um pouco antes das eleições, o Chade encerrou uma parceria militar com os Estados Unidos, e as forças militares dos EUA no Chade deixaram o país no início de maio. O interessante é que a presença dos Estados Unidos no Chade era uma presença simbólica. Eram algumas dezenas de soldados. Resta ver como isso vai evoluir com relação à França, que tem uma presença muito mais forte", disse o especialista.

O analista comentou que ainda é cedo para concluir se o fim do acordo com os EUA é apenas algo simbólico para satisfazer um contingente da população insatisfeito com as alianças com o Ocidente ou se o próximo passo será realmente um afastamento político e militar da França.
O analista argumentou que o processo de colonização, responsável pela instabilidade política intensa no Chade e nas nações vizinhas, é ainda muito recente, uma vez que a maioria dos países africanos iniciaram a independência no final dos anos de 1950 e nos anos da década de 1960.

"São países que, enquanto Estados, têm 60 anos de idade. O Chade tem 64 anos. Ou seja, tem pessoas vivas que nasceram enquanto o país ainda era uma colônia. O segundo ponto é a influência externa, principalmente a intromissão externa nesses países, não só de grupos, empresas tentando conseguir favorecimento em propina e corrupção para líderes africanos, para conseguir contratos lucrativos no petróleo em toda a África francesa, mas também dos próprios ex-colonizadores."

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