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Conferência de paz da Suíça: continuação da ajuda à Ucrânia ou preparação para o fim do conflito?

© AP Photo / Efrem LukatskyVladimir Zelensky, presidente ucraniano (à direita), aperta a mão de seu homólogo suíço, Ignazio Cassis, em Kiev. Ucrânia, 20 de outubro de 2022
Vladimir Zelensky, presidente ucraniano (à direita), aperta a mão de seu homólogo suíço, Ignazio Cassis, em Kiev. Ucrânia, 20 de outubro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 16.05.2024
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Dentro de um mês, uma conferência sobre o conflito na Ucrânia será realizada na Suíça, na cidade de Buergenstock, entre os dias 15 e 16 de junho. Sem a participação da Rússia, o encontro pretende abordar quais saídas podem ser encontradas pelo Ocidente para lidar com o fracasso de sua empreitada geopolítica no Leste Europeu.
Do lado ucraniano, o ministro das Relações Exteriores do país, Dmitry Kuleba, disse recentemente que o objetivo dessa conferência é o de criar uma coalizão de países com princípios e abordagens comuns para lidar com o futuro do conflito. Após a conferência, disse ele, a comunicação com a Rússia será enfim possível para efeito de chegarem a uma solução negociada. Fato é que a ideia de uma conferência de paz, seja ela em qual país for, não tem sentido prático sem a presença de uma delegação russa. O máximo que se pode obter de um tal encontro é realmente uma declaração de princípios, envolvendo cenários de negociação futuros com Moscou nos quais o Ocidente saia numa condição menos indecente do que a atual, ou seja, de forma a não perder prestígio perante o restante do mundo. Afinal, é absolutamente claro que se os países que estiverem presentes na Suíça concordarem com a continuidade de fornecimento de armas e dinheiro à Ucrânia, o conflito vai continuar por tempo indeterminado, o que, na prática, significará que o Ocidente ainda acredita na possibilidade ilusória de o Exército ucraniano vencer a Rússia no campo de batalha.
Se, por outro lado, os participantes da conferência de paz da Suíça realizarem um acordo entre si que seja razoável do ponto de vista da Rússia, ainda que à revelia de Zelensky, somente então será possível pensar em negociações secretas entre o Ocidente e representantes russos a respeito do futuro da Ucrânia. No mais, se ficar decidido que a Ucrânia não possui de fato perspectivas reais de cumprir com as promessas de "expulsar" o Exército russo de seu ex-território, a questão da retomada de sua "integridade territorial", tão defendida por Zelensky, cairá por terra de uma vez por todas. Em tal caso, aqueles que sofrerão o pior golpe reputacional perante a comunidade internacional serão os patrocinadores de Kiev, justamente os Estados Unidos e a Europa, que tanto investiram nesse projeto fracassado de oposição à Rússia. Todavia, pelo menos para as empresas transnacionais americanas um enorme lucro financeiro já está assegurado, em especial porque parte do território ucraniano hoje encontra-se sob o controle dessas corporações.
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Nos novos territórios russos, por sua vez, nem a Monsanto nem nenhuma outra corporação ocidental terá direito a lucro algum. A Rússia, aliás, já tem desenvolvido trabalhos de reconstrução bastante avançados em regiões como Mariupol e outras cidades de Donbass. Seja como for, o Ocidente tem grande interesse na manutenção do território que ainda permanece sob o controle ucraniano, e talvez seja até mesmo por isso que a conferência de paz da Suíça tenha sido pensada.

De todo modo, a Rússia, naturalmente, já declarou desde fevereiro de 2022 quais os requisitos mínimos para que um acordo de paz seja atingido na Ucrânia. Tais objetivos envolvem a desmilitarização do país, a desnazificação de camadas importantes de sua elite política, bem como a neutralidade ucraniana permanente perante a OTAN. Essas são condições que Moscou não pretende de modo algum abandonar.

Logo, a reunião dos países ocidentais na Suíça pode ter o objetivo de determinar até onde a Europa pretende ir com relação às suas próprias demandas em relação à Ucrânia, contando ou não com a anuência de Zelensky. É possível inclusive que, se Zelensky discordar do que for negociado durante a conferência, o Ocidente decida enfim por substituí-lo. Afinal, sua função propagandística de servir como "Herói do Ocidente" durante os primeiros meses de conflito já foi cumprida a contento, ainda que sua função de líder militar em defesa das democracias nem tanto assim.
Vale lembrar por fim que, de acordo com estatísticas do Ministério da Defesa russo, as perdas diárias das Forças Armadas da Ucrânia em abril aumentaram para cerca de mil militares por dia. Desde o início do ano, as tropas russas, por outro lado, assumiram o controle de 547 quilômetros quadrados de território, representando as novas regiões que foram adicionadas à Federação da Rússia em setembro de 2022. Logo, a pergunta que fica é: durante quanto tempo poderá a Ucrânia continuar a suportar tais perdas? E durante quanto tempo o Ocidente continuará a esconder essa catástrofe do ponto de vista militar? Essas perdas de cerca de mil homens por dia por parte do Exército ucraniano comunicam apenas que a ilusória expectativa de derrotar a Rússia no campo de batalha nunca passou realmente de uma farsa. As perdas da Rússia, por sua vez, são incomparavelmente menores do que as da Ucrânia, dado o preparo prévio de seu comando militar.
Fato é que a tão esperada contraofensiva ucraniana anunciada durante o ano passado falhou totalmente. A Rússia, além do mais, recapturou há algum tempo atrás Avdeevka, seu maior ganho no âmbito do conflito dos últimos nove meses, e continua a avançar em outras direções no momento atual. O próprio Zelensky foi forçado a reconhecer, ainda que discretamente, essa nova realidade militar. Por outro lado, a estratégia da administração Biden é agora a de sustentar a Ucrânia até pelo menos as eleições presidenciais de novembro, na esperança de desgastar as forças russas, algo que já está provado que não vai acontecer.
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Tal medida, que incluiu a aprovação de um pacote de auxílio financeiro da ordem de US$ 60 bilhões (R$ 307,8 bilhões) adicionais por parte do Congresso americano a Kiev, contém uma implicação crucialmente importante e uma falha potencialmente desastrosa. Afinal, como já dito anteriormente, quanto mais dinheiro continuar fluindo para Kiev, mais a Ucrânia se verá imbricada num conflito virtualmente impossível de ser vencido, e correndo o risco de perder ainda mais territórios para a Rússia conforme as semanas passam. É bom, então, que os países ocidentais presentes na conferência de paz da Suíça em junho decidam logo o que fazer com relação à Ucrânia. No entanto, se suas considerações não estiverem de acordo com as demandas da Rússia, tanto o encontro quanto o esforço terão sido em vão.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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