Cerca de 55% da população argentina está abaixo da linha da pobreza, revela estudo
01:59 22.05.2024 (atualizado: 11:52 22.05.2024)
© Sputnik/Juan LehmannDia do Trabalho na Argentina (1º de maio de 2024)
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Um estudo da Universidade Católica Argentina divulgado nesta terça-feira (21) revela que 18% da população argentina vive em situação de extrema pobreza. Os números — resultantes da redução de 50% dos salários ocorrida entre janeiro e fevereiro — representam os piores registros em mais de 20 anos, só comparáveis aos da crise econômica de 2001-2002.
Segundo o levantamento, mais da metade dos argentinos está abaixo da linha da pobreza, ou seja, 55% da população não satisfaz suas necessidades básicas.
De acordo com o Observatório da Dívida Social da instituição, no primeiro trimestre de 2024, a pobreza atingiu 18% das pessoas. Estes são os piores números em mais de 20 anos. Embora o fenômeno venha aumentando há anos, a política econômica de choque implementada pelo governo de Javier Milei foi determinante:
"A desvalorização da moeda foi diretamente transmitida para os preços internos, impactando na qualidade de vida da população", disse Eduardo Donza, sociólogo e pesquisador do observatório, à Sputnik.
Segundo o especialista, "o pico da pobreza foi alcançado em fevereiro, quando atingiu 58%. Felizmente, a desaceleração da inflação contribuiu para uma relativa queda, estabilizando-se em 55%, valor "muito preocupante", segundo ele.
O contraste entre a linha de pobreza e os rendimentos ajuda a compreender a complexidade do contexto social, destacou ele. Em abril, um lar com quatro pessoas teria que ter renda domiciliar de cerca de US$ 690 (cerca de R$ 3,5 mil) para não ser considerado pobre e US$ 310 (R$ 1,5 mil) para não cair na pobreza extrema. No entanto, o salário mínimo foi aumentado em maio para US$ 195 (cerca de R$ 1 mil).
De acordo com as estimativas da Central de Trabalhadores Argentinos (CTA), entre novembro de 2023 e maio de 2024, a remuneração mínima sofreu uma queda de 27,9% em termos reais.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC), no segundo semestre de 2023, a pobreza atingiu 41,7% da população (cerca de 19,4 milhões de pessoas), enquanto a indigência havia subido para 11,9% (5,5 milhões). Comparado aos valores de 2022, há uma piora nas variáveis: aquele ano encerrou com 39,2% de pobreza e 8,1% de indigência.
Um fenômeno estrutural
Segundo o sociólogo, a gradual pauperização das condições de vida da população — que acumula sete anos consecutivos de queda de renda, período que abrange os mandatos de Mauricio Macri (2015-2019) e de Alberto Fernández (2019-2023) — começa a solidificar um "piso" de pobreza cada vez mais alto e difícil de reverter.
"É muito provável que o núcleo duro da pobreza tenha aumentado. A persistência geracional nessa condição é muito prejudicial para a possibilidade de sair dessa situação. Apesar das recuperações esporádicas, um fenômeno estrutural se consolidou", apontou o pesquisador. "A Argentina tem registrado níveis muito altos de pobreza há cerca de 20 anos. A classe média costumava ser motivo de orgulho. Agora, essa classe média só possui capital simbólico, porque o econômico está cada vez menor", destacou o pesquisador.
Responsabilidade estatal
Em um contexto de deslegitimação do papel do Estado — sobre o qual Milei prometeu passar uma "motosserra" —, imerso em uma crise por falta de recursos, os especialistas levantam a necessidade de reforçar o papel do setor público para conter os "caídos" do sistema.
"O Estado argentino tem uma tradição assistencialista em relação às famílias mais empobrecidas, mas hoje está em xeque, sem propor nenhuma alternativa para superar isso", considerou Donza.
Segundo o especialista, "para reduzir a pobreza é necessário um grande acordo político, mas também econômico: sem acordos de preços, é muito difícil interromper a inércia crescente, e a responsabilidade de coordenar expectativas é do governo".
Diante do drástico ajuste orçamentário apresentado pelo Poder Executivo — refletido na paralisação total da construção de obras públicas ou na virtual interrupção do envio de fundos discricionários para as províncias, a estratégia do governo precisa ser repensada, avaliou o acadêmico:
"A falta de contenção social pode ser um problema futuro. Se continuar a consolidar-se um alto patamar de pobreza, esses valores serão cada vez mais difíceis de reverter. Evitar esse crescimento deveria ser a principal prioridade do Estado", afirmou o pesquisador.
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