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Participação dos EUA? Especialista discute o que representa o 'quase golpe' no Congo

© AP Photo / Schalk van ZuydamBandeira da República Democrática do Congo pintada em muro no vilarejo de Walikale
Bandeira da República Democrática do Congo pintada em muro no vilarejo de Walikale - Sputnik Brasil, 1920, 24.05.2024
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No último domingo (19), uma tentativa frustrada de golpe de Estado na República Democrática do Congo resultou em três mortes, a partir da ação de dezenas de homens.
José Ricardo Araujo, membro do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), e pesquisador da região da África Subsaariana, falou aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, sobre o "quase golpe" no país africano.

"50 homens marcharam até a casa de Vital Kamerhe, um político congolês [candidato à presidência da Assembleia Nacional], e depois para o Palácio das Nações", narrou Araujo.

Segundo ele, o grupo fez uma live no Facebook (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas) dentro do palácio, proclamando a tomada do Estado. "Foram 50 homens armados, cuja origem das armas ainda é incerta, mas que não representaram uma ameaça real […]", comentou o pesquisador.
#365 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 24.05.2024
Mundioka
O que levou à tentativa de golpe no Congo?
Nesse dia, ao menos três pessoas, incluindo policiais, foram mortas e tiros foram disparados perto da residência do candidato à presidência da Assembleia Nacional, Vital Kamerhe.
Imediatamente após a tentativa de golpe, a segurança em Kinshasa foi intensificada. "Desde então existem diversos bloqueios pela cidade, e isso gerou críticas pela forma rigorosa como as revistas estão sendo conduzidas."
Uma investigação foi aberta, e apesar de o presidente atual, Félix Tshisekedi, ainda não ter se pronunciado oficialmente, o episódio gerou alerta internacional.
Em relação às consequências a longo prazo, Araujo destaca que há uma teoria conspiratória de que o golpe pode ter sido arquitetado pelo próprio governo para justificar futuras repressões. Outra hipótese é que o governo sabia da conspiração e permitiu que os homens chegassem ao Palácio das Nações, para reformar as Forças Armadas e a polícia, identificando possíveis detratores internos.
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Araujo também cita a presença de três estadunidenses entre os golpistas, além de Christian Malanga, líder do movimento. "Malanga tem uma história complexa: nasceu no Congo, obteve asilo político nos EUA, voltou ao Congo e se tornou militar. Em 2011, candidatou-se ao Parlamento e foi preso sem justificativa. Posteriormente, ele proclamou um governo próprio na Bélgica, autointitulando-se presidente do Novo Zaire."
Araujo, no entanto, ressalta que entre os 50 homens, apenas três eram dos EUA e que não há evidências concretas, até o momento, de um envolvimento mais amplo do país.

"As riquezas naturais do Congo influenciam diretamente a atenção e as ações do sistema internacional. Acredita-se que Ruanda financia o [grupo rebelde] M23 para obter acesso a esses recursos", afirma.

O pesquisador também criticou a cobertura superficial da imprensa dos eventos no Congo, tanto na mídia brasileira quanto internacional. "As pautas africanas ainda são negligenciadas. O público não tem noção da importância estratégica do Congo para o Brasil e para o sistema internacional."
Por fim, Araujo menciona que a Organização das Nações Unidas (ONU) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o golpe, mas que houve respostas de órgãos como o Conselho de Paz e Segurança da União Africana, que condenou o ataque e expressou apoio ao governo congolês, assim como Bintou Keita, chefe da Missão da ONU para a Estabilização na República Democrática do Congo (Monusco, no acrônimo em francês).

Das instabilidades do Congo à esperança de uma nova vida

Charly Kongo chegou ao Brasil em 2008, após deixar seu país natal, a República Democrática do Congo, devido à instabilidade política. Atualmente ele vive no Rio de Janeiro (RJ), onde atua como professor de francês e participa de projetos de integração para refugiados.

"A situação ficou muito pesada para mim", lembra Charly, em entrevista à Sputnik Brasil, ao explicar sua saída do país africano.

Desde 1994 a região tem tido conflitos, em grande parte devido à interferência externa e à disputa por recursos naturais, como o coltan, essencial para a fabricação de eletrônicos. "A guerra traz tudo de ruim: doença, estupro de mulheres, violações de direitos humanos, morte das pessoas."
Sem muita escolha, ele aproveitou a oportunidade que surgiu de vir para o Brasil, mesmo sem falar a língua ou conhecer a cultura local. "Antes de vir ao Brasil, eu conhecia pouca coisa […]. Não sabia falar português."
O professor fala com carinho sobre a recepção que teve em território brasileiro. "O povo brasileiro é um povo muito acolhedor", diz.
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Ele destaca o apoio dado não só a ele, mas a muitos refugiados que vivem no Rio de Janeiro. "O brasileiro é um povo que sabe respeitar o estrangeiro, sabe se preocupar, [quer saber] se o estrangeiro está à vontade no seu país."
Apesar do acolhimento, ele reconhece que ser identificado como refugiado pode trazer uma mistura de reações, de empatia até preconceitos.
Sobre a situação atual do país congolês, ele descreve a tentativa de golpe recente como "muito ruim, porque é uma democracia nova". Segundo Charly, o atual presidente é apenas o quinto desde a independência do país, e é essencial manter a estabilidade democrática: "Foi uma grande esperança para a gente, congolês, continuar nesse ritmo de ter uma eleição e de ter uma passagem pacífica do poder."
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Ainda assim, ele mantém a esperança de que a juventude congolesa possa aprender com os erros do passado e construir um futuro melhor. "Eu vejo o Congo como um país muito, muito jovem. E eu tenho muita esperança de que as coisas vão mudar."
Mesmo com a possibilidade de uma melhora no país natal, ele vislumbra o Brasil como seu lar atual. "Eu acho que se as coisas melhorarem lá no Congo, eu vou lá de férias, mas o meu local hoje em dia é o Brasil."
Participando de projetos culturais e como voluntário em instituições, ele afirma que tem construído uma nova vida para si, mas também contribui para a integração de outros refugiados, mostrando que, apesar das adversidades, a resiliência e a solidariedade podem abrir caminho para um futuro promissor em terras estrangeiras.
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