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Pesquisadora pede cuidado para evitar momento 'inoportuno' para parceria entre Brasil e Equador

© Sputnik / Renan LucioCongresso Nacional do Brasil, em Brasília
Congresso Nacional do Brasil, em Brasília - Sputnik Brasil, 1920, 28.05.2024
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Há pouco mais de um mês, forças policiais do Equador invadiram a embaixada mexicana em Quito, ação que levou ao anúncio da suspensão das relações diplomáticas do México com o país sul-americano.
A professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em política da América Latina Renata Álvares Gaspar ressaltou em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, que houve "clara violação do direito internacional por parte do Estado equatoriano ao permitir a invasão" da Embaixada do México, que visava a retirada do ex-vice-presidente Jorge Glas.
A discussão se estendeu também à proposta do Senado brasileiro de criação de um grupo de trabalho envolvendo parlamentares dos dois países. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) detalhou à Sputnik Brasil a iniciativa de estabelecer o Grupo de Amizade Brasil-Equador.
Thronicke, escolhida para liderar esse projeto, destacou a importância das relações internacionais e os motivos que levaram à escolha do Equador como parceiro. "A escolha do Equador para esse grupo de trabalho não foi aleatória."

"Foi fruto de um diálogo construtivo com o embaixador equatoriano, onde identificamos a necessidade de fortalecer os laços entre nossos países", disse Thronicke.

A professora Renata Álvares Gaspar destaca a importância da comunicação e da oportunidade na criação de tais comissões, mas ressalta que ações inoportunas podem aumentar a tensão nas relações internacionais. "Nas relações internacionais e também no direito internacional, a forma de comunicar diz muito."
"Você fazer determinados grupos, criar determinados grupos, em determinados momentos que são inoportunos, pode gerar mais tensão e aumentar o burburinho em relação à ordem internacional", afirmou Gaspar.
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O grupo entre Brasil e Equador

O grupo chefiado por Thronicke visa a incentivar e desenvolver relações entre o Poder Legislativo dos dois países. A cooperação deve ocorrer por meio de visitas, conferências, estudos e encontros de diversas naturezas. Os parlamentos também podem realizar permutas de publicações e trabalhos sobre matérias e experiências legislativas.
A senadora ressaltou à Sputnik Brasil que, embora seja comum que países estabeleçam grupos de amizade, ela ficou surpresa ao perceber que ainda não existia um grupo dedicado à relação entre o Brasil e o Equador, especialmente considerando a história bilateral entre eles. "Foi uma honra ser convidada para estabelecer esse grupo tão importante para as relações internacionais."
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Sobre o momento delicado enfrentado pelo Equador, a senadora expressou preocupação com os conflitos internos, mas reforçou a importância de manter a diplomacia e evitar interferências externas. "É fundamental respeitar a soberania de cada país e buscar soluções pacíficas para os conflitos."
Questionada sobre as metas do grupo, ela enfatiza o objetivo de promover a cooperação em diversas áreas, desde políticas e jurídicas até sociais, culturais e econômicas. Ela citou exemplos de iniciativas semelhantes em outros contextos, como o Mercosul, e ressaltou a importância de incluir o cidadão comum nessas discussões.

"É essencial que as relações internacionais não se limitem apenas aos aspectos diplomáticos e comerciais, mas que também tragam benefícios tangíveis para a população", afirmou. "No caso do Brasil e do Equador, isso pode incluir iniciativas para facilitar o turismo entre os dois países, promovendo intercâmbios culturais e econômicos", exemplificou.

Thronicke também defende o papel dos parlamentares em situações de crise, como o conflito na embaixada. Ela enfatiza a importância da prudência e da não intervenção, e que é necessário entender as complexidades de uma situação antes de emitir opiniões ou tomar medidas.

"A diplomacia deve prevalecer em momentos de crise, e é por isso que devemos agir com cautela e respeitar a soberania de outros países. […] estou confiante de que o Grupo de Amizade Brasil-Equador contribuirá para fortalecer os laços entre nossas nações e promover a cooperação mútua em benefício de nossos cidadãos."

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O que aconteceu em Quito, no Equador?

Em janeiro deste ano, atos de violência generalizada por parte de criminosos marcaram o dia a dia dos equatorianos, sobretudo na capital, Quito. Em 5 de abril, o presidente do Equador, Daniel Noboa, determinou a invasão da Embaixada do México, onde as autoridades buscavam o ex-vice-presidente Jorge Glas, que havia solicitado asilo ali.
Sobre a política de segurança adotada por Noboa, que decretou estado de exceção envolvendo o destacamento das Forças Armadas e da Polícia Nacional, a professora Renata Álvares Gaspar ressalta preocupação. Ela enfatiza que medidas unilaterais de militarização não são soluções eficazes para problemas econômicos e sociais, que são os verdadeiros motores da violência.

"O real problema no Equador, como em outros lugares, é econômico. Um problema econômico você não vai resolver com política de segurança pública. Ou seja, ele [Noboa] está transferindo para a segurança pública um problema que é de natureza econômica."

Ao discutir a corrupção como tema recorrente na política latino-americana, a professora aponta para a complexidade desse fenômeno. Segundo ela, a corrupção muitas vezes é utilizada como um bode expiatório para justificar problemas estruturais mais profundos, como a falta de políticas públicas eficazes e a má gestão dos recursos estatais.

"Essa ideia assola a América Latina, de que a democracia não funciona, então a gente precisa de alguém que seja bom e que vai melhorar a vida da gente. Nem que pra isso ele bata na gente, ou talvez ele mate alguns de nós. Porque ele é tão bom que sabe, inclusive, quem merece viver e quem merece morrer."

Sobre o futuro do Equador, Gaspar enfatiza a necessidade de pensar uma agenda que priorize políticas econômicas e sociais inclusivas, buscando a estabilidade macroeconômica aliada ao desenvolvimento social. Segundo ela, é importante um Estado atuante, mas não militarizado, que promova a distribuição equitativa de recursos e o investimento tanto interno quanto externo.

"A gente vai construindo acordos, construindo pontes, com base em um cenário. Se o cenário muda, a gente primeiro precisa avaliar esse cenário para dar continuidade às ações sob pena de determinadas ações serem mais maléficas do que benéficas, em termos de construção de acordo, em termos diplomáticos. Quando a gente fala de diplomacia, estamos falando de construção de ponte, para a construção da paz."

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