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Negócio da China: Brasil pode ganhar com a venda de parte da Avibras para o capital chinês?

© Avibras / DivulgaçãoAstros II, sistema de lançadores múltiplos de foguetes fabricado pela empresa brasileira Avibras, dispara um projétil
Astros II, sistema de lançadores múltiplos de foguetes fabricado pela empresa brasileira Avibras, dispara um projétil - Sputnik Brasil, 1920, 19.06.2024
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Atravessando um momento de crise financeira, a Avibras pode vender parte de suas ações a uma empresa de capital estrangeiro. Após desistência de uma interessada australiana, informações de veículos brasileiros dão conta de que uma estatal chinesa pode vir a ser sócia da companhia brasileira.
Na última quinta-feira (13), durante um evento on-line em comemoração aos 25 anos do Ministério da Defesa, o ministro da pasta, José Mucio, anunciou a desistência da australiana DefendTex em adquirir parte da Avibras.
Ainda na mensagem, o ministro relatou o interesse de uma segunda empresa em comprar 49% da companhia brasileira. Mucio não deu mais detalhes, alegando que o candidato pediu sigilo. Entretanto, segundo informações da Folha de S.Paulo, trata-se da estatal chinesa Norinco, uma gigante da indústria bélica mundial.

Brasil ganha em aproximação com os chineses da indústria bélica?

Brasil e China já possuem programas de cooperação, como o caso do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. O eventual acordo com a estatal chinesa na aquisição de parte da Avibras poderia beneficiar a companhia brasileira na abertura de novos mercados, segundo José Augusto Zague, pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Com mais de 60 anos de existência, a Avibras, responsável por projetar e desenvolver mísseis e foguetes, é considerada a maior empresa privada de sistemas de defesa do Brasil. Além da importância para a Defesa nacional — a Avibras é credenciada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa (EED) —, ela concentra a maior parte dos seus clientes em forças armadas internacionais, como as de Iraque, Arábia Saudita, Catar, Angola, Líbia, Indonésia e Malásia.
Com a chegada da estatal chinesa, é possível considerar a abertura de "um mercado de exportação para os países que estão mais próximos à China ou ao Sul Global", considera o especialista.
A parceria pode representar, sobretudo para os chineses, a chance de ter "uma subsidiária no Brasil que seja complementar às outras áreas em que ela já atua no segmento de defesa", diz Zague. Nesse sentido, outro atrativo destacado pelo especialista seria o interesse no acervo técnico da indústria aeroespacial.
O vice-presidente Geraldo Alckmin discursa durante evento em que anunciou R$ 125 bilhões em investimentos no setor automobilístico do Brasil até 2028. São Paulo, 12 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 06.06.2024
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Acordo pode apresentar contrapontos?

Um dos problemas que a Avibras pode ter, caso a negociação se concretize, são as sanções por parte dos EUA. De acordo com Zague, tendo ou não o controle, ou seja, mesmo que a empresa chinesa não adquira a maior parte percentual da companhia, ainda assim vai ser alvo de sanções dos Estados Unidos.
Atualmente, o Astros — sistema de artilharia de foguetes e mísseis — depende de peças fornecidas por empresas norte-americanas. O acordo com os chineses representaria, então, um empecilho. Para reverter o possível cenário, empresas chinesas deveriam passar a fornecer "componentes equivalentes aos fornecidos pelos EUA", sugere o pesquisador.
A presença da estatal asiática minaria, segundo o especialista, negociações dos materiais desenvolvidos pela Avibras com países parceiros dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Entretanto "o sistema Astros, que é o principal produto da Avibras, nunca foi vendido a esses países. Foi vendido a países do Oriente Médio lá nos anos 1980, à Indonésia mais recentemente, mas não aos países da OTAN, por exemplo", pondera Zague.
O especialista chama a atenção também para um eventual problema de adaptação: "Nas Forças Armadas brasileiras, há uma tendência à aquisição de material ocidental".

"Fazer uma mudança nesse modelo vai depender muito das Forças Armadas, e existe uma ligação muito estreita, especialmente de oficiais mais graduados das Forças Armadas, com os Estados Unidos", complementa.

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Nesse sentido, é interessante observar, conforme o analista, a visita do general Tomás Paiva à China.
O comandante do Exército visita o país asiático no início de julho. Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Paiva defendeu a ampliação de parcerias estratégicas com a China e outros países do BRICS, afirmou que Brasil e China têm cooperação e realizam intercâmbio de cursos para militares e elogiou o potencial de ciência e tecnologia chinês.
Paiva ressaltou ao jornal que a viagem está focada em ciência, tecnologia e capacidades militares. "Eles são avançados na parte de missilística, têm dois conceitos que são muito interessantes, que são muito modernos hoje, que são antiacesso e negação de área", disse o general durante a entrevista.

Avibras: por que não estatizar?

Elo fundamental da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, a Avibras elenca pedidos de estatização da empresa como forma de tentar mudar o atual momento da companhia.
A possibilidade, no entanto, é bastante remota, conforme analisa Zague. "Não vejo a possibilidade de o Estado ficar com o controle acionário da Avibras. Não é interessante para o Estado, neste momento, ter esse controle. Ainda que seja uma empresa estratégica, que interesse muito às Forças Armadas."
O Brasil atualmente conta com poucas empresas da base industrial de defesa, como a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).
Adquirir o controle da Avibras poderia inclusive acarretar um problema para o Estado, segundo o especialista.
"Há questões de dívidas e tudo mais que precisam ser assumidas. Penso que não é a melhor solução [estatizar a Avibras]. Não vejo isso no horizonte", finaliza Zague.
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