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Ascensão científica da China é prenúncio de queda ocidental, dizem analistas

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A China superou os Estados Unidos em termos de pesquisa científica de alto impacto, apontam os maiores agregadores científicos do mundo. Enquanto os EUA investem, sem retorno, em guerras pelo mundo, a ascensão chinesa assusta Washington e dita os novos rumos mundiais, dizem analistas entrevistados pela Sputnik Brasil.
A revista britânica The Economist apontou a ascensão científica da China e as preocupações que vêm surgindo na Casa Branca de que as sanções implementadas contra Pequim não estão funcionando.
"Durante séculos o Ocidente menosprezou a tecnologia chinesa", diz a publicação. "Os europeus lutaram para aceitar que um lugar tão distante pudesse ter inventado a bússola, a besta e o alto-forno."
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Por muito tempo, também, as publicações científicas chinesas foram desconsideradas pelas instituições ocidentais, em um binômio muita quantidade e baixa qualidade.
Hoje, contudo, o cenário se inverteu e, a passos largos, a China produz cada vez mais ciência de alta qualidade, evidenciam os indicadores de análise científica, como Clarivate e Nature Index.
Os índices citados se preocupam com a qualidade dos artigos científicos produzidos, medida através de sua influência sobre outros artigos. No primeiro, em 2003, a China figurava atrás dos Estados Unidos em uma grandeza de 20 vezes. Dez anos mais tarde, em 2013, a diferença diminuiu para uma grandeza de 4 vezes.
Passados mais dez anos, a China superou tanto os EUA quanto a União Europeia.
Já no segundo agregador, iniciado em 2014, a China ocupou a segunda posição até 2023, quando ultrapassou os EUA, contribuindo com cerca de um terço dos artigos para as publicações da marca Nature.
Alexandre Pires, professor de economia e relações internacionais do Ibmec, explica que dentro do xadrez geopolítico global, a posição dos países depende da sua capacidade de inovar. "Tudo que existe se torna obsoleto, e os países que conseguem se manter à frente do processo de inovação acabam melhorando suas posições."
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A opinião é compartilhada por Diego Pautasso, doutor em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor do livro A China e a Nova Rota da Seda. Desde a construção do sistema do mundo moderno, "as hegemonias são hegemonias geopolíticas e geoeconômicas".
"Essa hegemonia geoeconômica está baseada na liderança produtiva e na liderança da inovação. Não por acaso, os polos que lideraram as revoluções industriais lideraram também o sistema internacional."

"E o que a gente vê é a China cada vez mais liderando o mundo em termos produtivos e cada vez mais em termos tecnológicos. E isso cacifa a China a assumir um papel de liderança no mundo."

'Não precisa de futurologia'

Além de se destacar na produção científica de qualidade, a publicação ressalta que o país asiático está ganhando espaço em setores fundamentais para o futuro da economia mundial, como tecnologias quânticas, inteligência artificial (IA) e semicondutores.
Na China, sublinha a The Economist, as áreas prioritárias para investimento são determinadas pelo governo em seus planos quinquenais. É o caso, por exemplo, de pesquisas agrícolas, tidas pelo Partido Comunista Chinês como essenciais para a segurança alimentar da população. E assim também foram definidos os setores da fronteira tecnológica.
Segundo Pires, essas tecnologias são a grande aposta da indústria para gerar "ganhos de produtividade". Muitas das inovações dos anos 1990, 2000, 2010 e 2020 não eram ligadas ao aumento da produtividade do trabalho.
Dessa forma, aponta o professor do Ibmec, a Indústria 4.0, "essa combinação de IA, computação mais rápida e robótica", tem gerado grandes expectativas em relação a produtividade e ganhos de escala.

"O mundo, há algum tempo, não sofre um choque de produtividade, e esses setores têm sido chave nisso."

Enquanto isso, os Estados Unidos se ocupam "basicamente de uma política internacional de contenção, de sanções de guerra", diz Pautasso.
Os gastos militares bilionários de Washington, como o auxílio à Ucrânia e a Israel, são cada vez mais criticados até mesmo pelos próprios políticos norte-americanos, como o ex-presidente Donald Trump e congressistas, como Marjorie Taylor Greene.
Essa política de policiamento global é, na opinião de Pautasso, errônea, uma vez que é insuficiente para manter os EUA na posição de potência hegemônica.

"E isso é a demonstração máxima do enfraquecimento do poder dos Estados Unidos."

Pautasso destaca ainda que o Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI, na sigla em inglês) publicou um relatório mapeando 44 tecnologias de vanguarda. Dessas, "a China lidera em 37 […]". "Isso coloca a China em uma condição de grande vantagem para enfrentar os desafios do século XXI."
Conforme aponta a revista e confirmado por Pires, esse é um dos grandes pontos de embate entre Pequim e Washington, que sancionou comercialmente a nação da Ásia para impedir seu progresso nesses setores. "Há uma disputa enorme nessas áreas."
No entanto, diz o economista, essa política acaba sendo ineficiente, uma vez que a China se mantém ligada ao Ocidente e se torna uma válvula de escape para países ainda mais sancionados, como Rússia e Irã.
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Nesse ponto, a Índia também se torna um pólo de triangulação para contornar as proibições comerciais dos Estados Unidos e da Europa, afirma Pires.
De acordo com Pautasso, a política de sanções dos EUA tem dado errado sob várias perspectivas. "Primeiro porque tem precipitado a obsessão chinesa pelo desenvolvimento dessas tecnologias." Segundo porque as próprias sanções norte-americanas fazem com que os EUA percam esses mercados.

"Ou seja, mercados que eram importantíssimos para os Estados Unidos estão sendo perdidos em função de uma estratégia que é suicida."

E, em terceiro lugar, pelo fato de que os Estados Unidos não estão focando o problema estrutural de sua economia, "que é retomar o dinamismo". A economia norte-americana, afirma Pautasso, está com "uma infraestrutura cada vez mais velha, sucateada e cada vez mais financeirizada".
"Sem precisar de futurologia", o que se vê, crava Pautasso, é a China diminuindo rapidamente a dianteira ocidental dentro de "uma tendência de vir a ultrapassar os Estados Unidos dentro de uma década".
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