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Com matriz energética mais limpa do mundo, América Latina atrai cobiça das potências colonialistas?

© Ricardo Stuckert / Presidência da RepúblicaVista do complexo eólico terrestre Chafariz do alto de uma das estruturas inauguradas na região. Santa Luzia, Pernambuco
Vista do complexo eólico terrestre Chafariz do alto de uma das estruturas inauguradas na região. Santa Luzia, Pernambuco - Sputnik Brasil, 1920, 25.07.2024
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Dados do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) apontam que a região desponta do restante do mundo e conta com 25% da matriz energética gerada por fontes renováveis, principalmente por conta da hidroeletricidade e dos biocombustíveis. Mas como isso atrai empresas e governos de olho na diversidade crucial para o futuro?
Um oásis de diversidade energética do globo. Das grandes usinas hidrelétricas aos parques eólicos a perder de vista, países latino-americanos despontam como potências em combustível verde e possuem uma média mundial invejável de geração de energia renovável: enquanto no globo é de 20% para a produção de eletricidade, na região o índice chega a 66%. E até em relação aos combustíveis fósseis, há abundância em recursos que garantem conforto durante a transição energética, com duas das maiores reservas de petróleo na Venezuela e no Brasil, além de fontes de gás natural abundantes na Bolívia.
O professor de planejamento energético da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Gustavo Moura ressalta ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que essa variedade energética deve gerar ainda mais investimentos para a América Latina. Porém ainda há grandes desafios a serem superados, e até a cobiça colonialista de grandes potências pode ser um empecilho.

"A questão é muito mais como desenvolver a capacidade técnica e de recursos humanos para essa indústria, uma vez que os níveis educacionais na América Latina ainda limitam o desenvolvimento. A questão financeira também, já que não temos poupança para fazer esses investimentos e nossas taxas de juros não são tão baixas quanto as de países desenvolvidos. E para fazer a transição energética, é necessário uma combinação desses fatores", resume o especialista.

Além disso, o especialista pontua que a região, que também conta com grandes reservas de lítio e minério de ferro, ainda tem problemas com a corrupção, o que pode ser um prato cheio para corporações mundo afora. "A corrupção tem muita origem na questão da educação e na falta de transparência da administração pública, mas isso se repete, e muito, também no setor privado", acrescenta.
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Qual país do mundo mais explora energia alternativa?

Um estudo divulgado pela consultoria Enerdata revelou que atualmente o Brasil é o segundo país do globo que mais explora energia alternativa: 89,2% do total para a produção de eletricidade, índice que só fica atrás do da Noruega, com 98,5%.
Também aparecem como destaque a Colômbia (75,1%) e o Chile (54,6%), em quarto e oitavo lugar, respectivamente. Para o professor da UFOP, o Banco do BRICS, que atualmente está sob a direção da ex-presidente Dilma Rousseff e tem a sustentabilidade como um dos principais eixos, pode atuar ainda mais como indutor do desenvolvimento brasileiro no setor.

"O banco possui um capital aplicado em torno de US$ 35 bilhões [R$ 197,5 bilhões], sendo que US$ 4 bilhões [R$ 22,5 bilhões] estão em investimentos em parques de energia eólica no Nordeste brasileiro […]. O volume pode chegar a US$ 100 bilhões [R$ 564 bilhões], e acredito que boa parte pode ser usada para desenvolver a indústria energética do Brasil", pontua.

O especialista também lembra que o setor é um dos grandes indutores do desenvolvimento nacional. Um dos exemplos é a Petrobras, que, segundo Moura, fez o Brasil ter autonomia energética ainda em 2006, com investimentos tanto na indústria do petróleo quanto em biocombustíveis.

"A questão é tentar investir em biocombustíveis mais modernos. Como exemplo, há o diesel renovado, o etanol celulósico e o etanol de segunda geração. E também temos a capacidade de fazer isso, de investir mais em energia solar, em energia eólica. O Brasil pode ser, sim, uma potência energética mundial, assim como a gente vê hoje a Rússia, a Arábia Saudita", exemplifica.

Prova da atratividade do país, conforme o professor da UFOP, é o aumento da presença de empresas chinesas do setor com investimentos, principalmente em transmissão de energia. "O Brasil tem um conhecimento, adquirido ao longo de décadas de operação, de um sistema interligado nacional, com diferentes bacias hidrográficas. Isso permite um ganho energético para o país imenso: estimam-se 20% a mais de energia por conta da interligação, que trabalha com essa diversidade hidrológica do Sul, do Nordeste, do Centro-Oeste. E as empresas chinesas vieram para cá investindo em transmissão, muito provavelmente até para aprender com essa experiência e levar para o cenário deles, já que a China também é um país continental com grande presença hidrelétrica."
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Como se produz o hidrogênio verde?

Também considerado um combustível crucial para alcançar um mundo mais sustentável, o hidrogênio verde é obtido pela eletrólise de fontes renováveis. As condições climáticas do Nordeste, por conta do sol e dos ventos, tornam o Brasil atrativo para investimentos no setor, que tem expectativas de receber US$ 570 bilhões (R$ 3,2 trilhões) em todo o mundo até 2030. O professor da UFOP lembra que ainda há um longo caminho pela frente para a consolidação do combustível, que apesar de sustentável, envolve vários riscos na distribuição e no armazenamento.

"Desenvolver a cadeia energética do hidrogênio pode trazer maior estabilidade para fontes que são intermitentes, como a solar e a eólica. E, por meio da estabilidade, aumentar a segurança energética. Mas, ao mesmo tempo, a gente ainda não sabe como vai se organizar a cadeia industrial do hidrogênio, nem no Brasil, nem no mundo. E é importante ter em mente que as cadeias energéticas são muito diferentes entre os países. A forma como a indústria vai se organizar no Brasil pode ser completamente diferente de como vai ser na Argentina, de como vai ser na Venezuela ou no México", destaca.

O professor e coordenador da pós-graduação em engenharia e tecnologias do Centro Universitário Internacional Uninter, Gabriel Vergara, complementa à Sputnik Brasil que há grande potencial de desenvolvimento da tecnologia, principalmente no Ceará, e citou o projeto do marco legal do hidrogênio verde, que traz maior segurança jurídica para o setor. "O Brasil é muito forte, ele avança na liderança do hidrogênio verde, inclusive", diz.
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Como acontece o desenvolvimento energético na Amazônia?

Os estados da Amazônia Legal, que nos últimos anos receberam investimentos para a exploração do potencial hidrelétrico (como a usina de Belo Monte), respondem por mais de 27% da produção de energia elétrica no Brasil, apesar de o consumo local ser baseado principalmente no diesel. Região que já chegou a ser considerada "pulmão do mundo", esse bioma possui grande importância por conta da diversidade ambiental e também por atuar como regulador do clima global. Porém, desde 2010, a área passou a liberar mais gás carbônico do que absorve, justamente por conta do desmatamento, mostraram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Para Gabriel Vergara, isso é um sinal de alerta e também está ligado diretamente ao setor energético. "A questão de você fazer a transição para uma economia verde inclui a valorização e a proteção dessas áreas florestais, que contam com diversos recursos energéticos. Há interesses econômicos em jogo, existe uma pressão internacional e a necessidade de olhar para o desenvolvimento sustentável", explica.
Outro ponto de preocupação é com relação à soberania nacional sobre a Amazônia, questão que chegou a ser denunciada pelo ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, que aponta a atuação de entidades internacionais disfarçadas de ONGs que criam um "Estado paralelo de comando". Vergara considera válida a preocupação.

"Há uma dualidade com a qual precisamos ter muito cuidado, já que as ONGs desempenham um papel crucial na conservação da floresta e no apoio às comunidades locais. É preciso focar em um todo, com equilíbrio entre cooperação internacional e proteção dos interesses do Brasil […]. E existe um alvo de especulação sobre os países que possuem oferta de energia verde", finaliza.

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