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Enquanto seu poder geopolítico cai, fundamentalismo religioso cresce nos EUA, avaliam especialistas

© AFP 2023 / Federico ParraGrafite representando o Tio Sam, símbolo nacional dos Estados Unidos, em uma rua de Caracas, na Venezuela
Grafite representando o Tio Sam, símbolo nacional dos Estados Unidos, em uma rua de Caracas, na Venezuela - Sputnik Brasil, 1920, 01.08.2024
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O governador do estado norte-americano da Louisiana, Jeff Landry, homologou uma lei na qual todos os estabelecimentos de educação pública, escolas ou faculdades, devem dispor os dez mandamentos cristãos. Para especialistas, essa medida representa um aumento no fundamentalismo religioso nos EUA, o que pode influenciar sua política externa.
Apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, o episódio do Mundioka desta quinta-feira (1º) aborda a questão religiosa nos Estados Unidos. Como o Cristianismo, principal religião do país, afeta desde as políticas locais às decisões nacionais da Casa Branca? O país está ficando cada vez mais fundamentalista? Será que isso está levando os EUA ao caminho certo?
De acordo com Marcelo Suano, professor de relações internacionais do Ibmec, ao contrário do que muitos podem imaginar a partir das imagens de metrópoles como Nova York e Los Angeles, a religião possui um papel fundamental na vida do estadunidense que vive afastado dos grandes centros urbanos — em especial, a religião cristã, na qual os protestantes são maioria, com os católicos em segundo.

"Os Estados Unidos são, na realidade, aquela sociedade do interior, que é mais voltada para a comunidade […], que tem o hábito de discutir os seus problemas da sociedade na igreja."

Essa junção do local de adoração religiosa com o de discussões políticas locais, aponta Suano, reflete até mesmo na hora das eleições.
O chamado Bible Belt (Cinturão da Bíblia, em tradução livre) é um termo usado pelos acadêmicos e pesquisadores norte-americanos para se referir a uma região que compreende cerca de 20 estados norte-americanos e onde a vida cultural e a vida religiosa são bastante interligadas.
Ademais, em sua maioria, esses estados costumam eleger políticos conservadores, seja para eleições locais, seja para a eleição presidencial.

"Normalmente eles tendem a eleger governadores ou presidentes da República dentro do ideário republicano, que é um ideário mais voltado para as questões especiais dos interesses estratégicos dos Estados Unidos e comungam desses valores cristãos."

Segundo Suano, a escolha por um candidato considerado mais conservador, um republicano, e um mais progressista, um democrata, não tem influência somente nas questões internas dos EUA, mas também em sua política externa.
O republicano, diz Suano, "é mais individualista. Ele negocia os interesses de forma pontual e bilateralmente". Essa é a razão pela qual normalmente, "quando os republicanos estão no poder, eles podem fazer guerra, mas fazem guerras pontuais com países que estão incomodando".

"Diferentemente dos democratas, que quando fazem guerra, envolvem o mundo inteiro."

EUA estão indo para o buraco?

Buscar maior religiosidade não é o mesmo do que fundamentalismo religioso, aponta Suano. No entanto, ao impor a publicação dos dez mandamentos, a medida do governador da Louisiana pode ser vista como tal pelas cortes norte-americanas.
O problema não é necessariamente o conteúdo dos dez mandamentos, mas as consequências que a publicação pode ter, como a preferência por uma religião em específico. "Isso poderia ser um processo de doutrinação canalizando para uma religião específica."
A ser julgada pelos tribunais dos EUA, essa lei poderá ser considerada algo próximo do fundamentalismo religioso por violar o Estado Democrático de Direito, algo que os EUA se veem como "fundadores".
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Ao Mundioka, Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), detalhou que apesar de toda essa pompa de superioridade moral, em termos reais, o país está vendo uma decadência tanto em termos domésticos quando internacionais.
Internamente, diz Menezes, os Estados Unidos passam por uma série de crises, desde a epidemia de opioides, em especial o fentanil, que cria imagens "aterrorizantes", aos problemas de infraestrutura e saúde pública.
O último estudo feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura estadunidense avaliou a infraestrutura pública com um D+. Ou seja, "nem passou de ano" diz Menezes.
O especialista lembrou de uma ocasião na qual o presidente dos EUA, Joe Biden, foi a uma cidade inaugurar uma obra de infraestrutura criada a partir de um programa governamental de US$ 1,2 trilhão (R$ 6,78 trilhões). Logo, antes de chegar no município, no entanto, outra ponte desabou. "Uma ponte pequena, não era muito grande, mas caiu."
No entanto, os maiores sinais de decadência norte-americana podem ser observados pela queda de sua hegemonia ao redor do mundo pelo menos desde os anos 1980. "Os Estados Unidos têm uma interrogação muito grande sobre a sua hegemonia", afirmou.
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Em termos de comércio exterior e de produção científica, a China se aproxima cada vez mais dos EUA, aponta Menezes. "Na área econômica, eu diria que ela [a vantagem dos EUA] já não é tão grande assim, e na área tecnológica ainda tem uma boa vantagem, mas que também vem sendo alcançada, em especial pela China."
Um dos principais articuladores dessa perda de poder dos EUA é justamente o BRICS, grupo geopolítico que os norte-americanos veem com grande preocupação, segundo o pesquisador do INCT-INEU.

"Os Estados Unidos […] não admitem que outras potências estejam emergindo. Então procuram, a todo custo e usando todos os meios, exatamente bloquear a possibilidade, até mesmo de efetivação de um mundo de fato multipolar."

Uma das formas que os norte-americanos tentam fazer isso é por meio das sanções econômicas, que funcionaram em muitos palcos diferentes, como Irã, Cuba e Iraque. Mas agora que são aplicadas contra a Rússia, "elas não surtiram o efeito que os Estados Unidos e seus aliados pretendiam".
"Hoje, o comércio da Rússia, em grande parte, se dá com a China, e se dá nas moedas locais, no yuan, no renminbi e no rublo", destacou Menezes.
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