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Malásia e El Salvador mostram interesse em ingressar no BRICS: há perspectivas de expansão do bloco?

© AP Photo / Vincent ThianPopulação ocupa praça central em Kuala Lumpur durante comemoração do Ramadan, principal celebração religiosa do Islã. Malásia, 7 de abril de 2024
População ocupa praça central em Kuala Lumpur durante comemoração do Ramadan, principal celebração religiosa do Islã. Malásia, 7 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 12.08.2024
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Em meio aos mais de 40 países que já demonstraram interesse em se integrar ao BRICS, um dos principais grupos de enfrentamento à hegemonia norte-americana sob o Sul Global, dois manifestaram o desejo recentemente: Malásia e El Salvador. Apesar disso, o bloco já anunciou uma pausa após a surpreendente adesão de novos membros neste ano.
De uma das regiões consideradas mais dinâmicas do mundo, o Sudeste Asiático, um país com quase 65% de muçulmanos entre os 36 milhões de habitantes e o produto interno bruto (PIB) que representa um terço do brasileiro: a Malásia.
Na América Central, a nação já permite o uso de qualquer criptomoeda para pagamentos e negociações, mas enfrenta grandes divergências internas: El Salvador.
Localizados a milhares de quilômetros de distância, esses dois países demonstraram recentemente interesse em fazer parte do BRICS, que este ano teve uma expansão inédita.
Com relação à Malásia, Paulo Ferracioli, professor de negócios internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), disse ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que o país busca espaço para exercer sua diplomacia no mundo, o que seria ideal com o BRICS.

"Há espaço para ela [no grupo], sem a menor dúvida. Sob um ponto de vista diplomático, amplia a presença, e sob um ponto de vista econômico, tem uma esperança de que a participação no BRICS vai levá-la a receber muitos investimentos estrangeiros", acrescenta, ao ressaltar que o país também faz parte da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

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Já com El Salvador, o especialista frisa que a situação é "totalmente diferente", que o país é apenas a 104ª maior economia do mundo e o PIB não ultrapassa US$ 80 bilhões (R$ 439,7 bilhões).
"Não é nada comparado com qualquer outro do BRICS. Tem uma população muito pequena, de 6 milhões de pessoas, distribuição de renda razoável, questões políticas complicadas. O combate às gangues na capital, que é São Salvador, é uma coisa muito criticável. Desde 2004, que parou de usar a moeda local, que era o colón, circula no país apenas o dólar norte-americano. A partir de 2021, eles liberaram a negociação interna de qualquer criptomoeda", explica.
Apesar disso, a questão do uso das criptomoedas é o aspecto que pode ser mais interessante na adesão do país ao BRICS, acredita o professor da FGV. Isso por conta do projeto da Rússia, que está na presidência rotativa do grupo em realizar testes de comércio internacional com essas moedas digitais.

"O que isso significa? Que do ponto de vista de El Salvador, eles estão querendo também, porque não têm muito com quem negociar. Quem é que vai fazer negócio em criptomoedas oficiais com eles? São poucos os países que autorizam isso. E eles veem essa possibilidade no BRICS. E, adicionalmente, a ideia de se criar uma moeda para o BRICS utilizando pelo menos parte como criptomoeda, ou pelo menos a criação de um sistema que vai substituir o velho SWIFT", declarou.

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Qual a principal economia da Malásia?

Uma das principais potências da Asean, a Malásia chegou a liderar por nove anos consecutivos o Indicador de Economia Islâmica Global, que reúne 81 países islâmicos, à frente até da Arábia Saudita. Isso por conta da variedade de produtos e serviços halal, cenário regulatório, mercado interno e inovação. José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec, também ressaltou ao podcast Mundioka os benefícios da adesão do país ao BRICS.

"A Malásia faz parte da região do Sudeste Asiático, que é uma área muito rica e em grande crescimento. Pode transacionar e cooperar com os outros membros do BRICS, como Brasil, Rússia, China. Com alguns já têm uma linha de comércio bilateral forte, mas poder participar do grupo me parece não só positivo para a Malásia, como também uma ponte importante para os países do BRICS na região do Sudeste Asiático", explicou, ao acrescentar que ainda há uma competição entre as nações da região, como Indonésia e Tailândia. "Como estamos vivendo um mundo muito fragmentado e competitivo, com muitos atores em ascensão e outros em declínio, você fazer parte do BRICS é cada vez mais um chamariz", acrescenta.

Além disso, o especialista acredita que o interesse em aderir ao BRICS ocorre diante do papel que o grupo representa atualmente no sistema internacional, inclusive com um poder de compra que já é superior ao G7 — que reúne Alemanha, Itália, Reino Unido, Estados Unidos, França e Canadá.
"Os países que estão entrando no BRICS querem ficar menos ligados a potências e relações bilaterais específicas. Com isso, passam a buscar um caminho de política externa mais aberta […]. A China é, talvez, a principal liderança do BRICS em função do papel que representa hoje no sistema internacional. Esse pêndulo mais para a Ásia dos países que são convidados com certeza faz parte da política externa chinesa de criar um mundo cada vez mais aberto, do ponto de vista do multilateralismo. E a China, que deve ocupar em breve a principal colocação como potência econômica do planeta, já está pensando nisso", pontua.
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Qual é o objetivo do BRICS na nova ordem mundial?

Principal voz do Sul Global e que busca redesenhar a ordem internacional, o BRICS teve uma expansão inédita este ano, com o anúncio da entrada de países como Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Meses depois, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, anunciou após a reunião de chanceleres a decisão de paralisar o processo de ampliação neste momento. Para Paulo Ferracioli, foi uma resolução sensata e acertada.

"Isso porque ainda não está em andamento o processo de adesão da Arábia Saudita, por exemplo, que está sob uma pressão norte-americana muito grande. O país saudita estaria interessado em passar a vender petróleo para qualquer país sem ser em dólares. Já tem participado de todas as reuniões, mas tem que ter um tempinho para absorver [todos os membros]. Os países têm que se conhecer", finalizou.

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