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Em reação às sanções econômicas, Rússia pode se tornar uma potência na produção de semicondutores?
Em reação às sanções econômicas, Rússia pode se tornar uma potência na produção de semicondutores?
Sputnik Brasil
Considerado crucial para a tecnologia moderna, o mercado de semicondutores ainda está concentrado em poucos países e tem recebido cada vez mais investimentos... 19.08.2024, Sputnik Brasil
2024-08-19T22:18-0300
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Do micro-ondas ao carro elétrico, dos celulares aos supercomputadores, os semicondutores são usados para fabricar praticamente todos os aparelhos tecnológicos modernos. Prova da importância do material é que, durante a pandemia, em meio à crise da produção de chips, as montadores do mundo ficaram praticamente paradas.Diante dessa importância, a Rússia anunciou investimentos volumosos para aumentar a capacidade da indústria nacional, que só para diodos e transistores de potência baseados em silício e carbeto de silício pretende aumentar a capacidade para até 140 mil wafers por ano (fina fatia de material semicondutor). A medida também acontece como reação às sanções econômicas ocidentais, que dificultaram o acesso do país ao mercado, no qual pelo menos 65% dos semicondutores são produzidos em Taiwan.Felipe Neves, doutor em engenharia elétrica e professor no Centro Universitário Internacional Uninter, lembrou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, do impacto do investimento nos semicondutores para a geopolítica, já que também são importantes até para a produção de sistemas militares."A Rússia está sofrendo embargos econômicos justamente pela crise que vem acontecendo ali na região desde 2014. Começaram a surgir sanções, e o país precisava garantir a sua soberania tecnológica. Moscou vai conseguir resistir a essa pressão ocidental, e vira uma questão de segurança nacional, porque quando a gente fala de produção de semicondutores, a gente está falando também de defesa e área militar, não só a parte do nosso dia a dia", ressaltou.Conforme o especialista, a Rússia atualmente consegue produzir semicondutores de até 65 nanômetros, e o objetivo é de chegar a 14 nanômetros até 2030."No final do ano passado, o ministro de Indústria e Comércio [Anton Alikhanov] falou que, a partir de 2024, ele começaria a fazer um investimento. Então, assim, eles começaram a produzir máquinas de litografia. O que seria isso? Quando a gente fala no processo de fabricação, usamos as máquinas de litografia, que são teoricamente impressoras a laser que imprimem os transistores, que imprimem esses semicondutores. E o acesso a essa máquina é muito restrito. Hoje, praticamente 100% do mundo compra a máquina da ASML, que é uma empresa dos Países Baixos. Então essa empresa acabou durante os embargos, não pode mais vender máquinas para a Rússia", explicou.Além disso, o professor da Uninter disse que o país conta com praticamente todos os insumos necessários para a produção de um chip, o que é um ponto a mais para alcançar a meta de atender a 70% do mercado interno."Um dos principais insumos necessários para fazer o processo de fabricação são os gases nobres. Então a Rússia possui boa parte desses gases nobres usados. Detém a principal empresa fornecedora de substrato de safira, só que ela vai precisar fazer alguns comércios fora desses países que estão participando do embargo. Então ela vai ter que começar a recorrer principalmente aos aliados dela no BRICS", destacou.É o caso da China, que, após as sanções, passou a fornecer cerca de 90% dos semicondutores usados por Moscou, e que também vem sofrendo com os embargos liderados pelos Estados Unidos desde 2018."Mas a China está crescendo hoje fazendo muita engenharia reversa, tanto que os Estados Unidos acusam o país justamente de copiar chips, enquanto algumas empresas norte-americanas mandavam fabricar na China, que exigia essa transferência de tecnologia para que ela pudesse fabricar […]. O país cresceu muito. Os Estados Unidos até chegaram a duvidar um pouco da capacidade de Pequim, achando que estaria hoje com uma litografia de 15 nanômetros, mas descobriram que já está com 7 nanômetros", enfatizou.Como funcionam os materiais semicondutores?Por possuírem baixa condutividade elétrica, os semicondutores são materiais isolantes neutros considerados o pilar da eletrônica moderna. O diretor-presidente do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto Cesar Gadelha Vieira, enfatizou ao podcast Mundioka que a fabricação desses componentes é extremamente complexa e, por isso, ainda restrita a poucos países que possuem o domínio tecnológico.Outro país que tem começado a investir mais intensamente no setor é a Índia, que também faz parte do BRICS. Segundo o especialista, um dos pontos mais fortes do país é a qualificação dos recursos humanos, que possui grande potencial."O BRICS se fortalece como um grupo de países que, digamos, interagem com intensidade. Para o Brasil, por exemplo, nós estamos na busca de um certo grau de autonomia também. E estar junto com outros países do porte da China, da Rússia, da Índia, isso seria extremamente positivo para que a gente consiga realmente fazer uma interação grande, uma cooperação científica e tecnológica nesse setor. Então nós fazemos isso dentro dos BRICS, por exemplo, em outros setores. Eu já fui à Índia verificar a questão de uma tentativa de, junto com a Índia, construir um supercomputador para esses países", disse Vieira.Como está o Brasil na corrida dos semicondutores?Para o diretor-presidente da Ceitec, não há uma percepção no Brasil com relação à importância dos semicondutores e de investir para reduzir a dependência externa."Eu não diria nem de partidos políticos ou de quem está como presidente, mas é algo como nação. O Brasil investiu no setor de semicondutores nos anos 1970, depois em 2000, o que ocorreu até 2013. Hoje, temos projetos novamente, com produtos que vieram de um programa de treinamento para profissionais feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e, no setor privado, temos duas grandes empresas principais, uma em São Paulo e outra no Rio Grande do Sul. Elas fazem o back-end, que é o encapsulamento do semicondutor, mas nenhuma fabrica o chip", afirmou.Durante o último governo, inclusive, houve a decisão de fechar a fábrica da Ceitec, que é estatal, diante dos custos. Porém, como a unidade tem produtos danosos ao meio ambiente, o processo seria lento e, na atual gestão, foi decidido retomar as atividades.
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Em reação às sanções econômicas, Rússia pode se tornar uma potência na produção de semicondutores?
22:18 19.08.2024 (atualizado: 15:58 21.08.2024) Especiais
Considerado crucial para a tecnologia moderna, o mercado de semicondutores ainda está concentrado em poucos países e tem recebido cada vez mais investimentos entre os membros do BRICS. A Rússia trabalha com uma ambiciosa meta de elevar de 2% para 70%, até 2030, o atendimento da demanda interna, que deve receber cerca de R$ 207,8 bilhões.
Do micro-ondas ao carro elétrico, dos celulares aos supercomputadores, os semicondutores são usados para fabricar
praticamente todos os aparelhos tecnológicos modernos. Prova da importância do material é que, durante a pandemia, em meio à crise da produção de chips, as montadores do mundo ficaram praticamente paradas.
Diante dessa importância, a Rússia anunciou investimentos volumosos para aumentar a capacidade da indústria nacional, que só para diodos e transistores de potência baseados em silício e carbeto de silício pretende aumentar a capacidade para até 140 mil wafers por ano (fina fatia de material semicondutor). A medida também acontece como reação às sanções econômicas ocidentais, que dificultaram o acesso do país ao mercado, no qual pelo menos 65% dos semicondutores são produzidos em Taiwan.
Felipe Neves, doutor em engenharia elétrica e professor no Centro Universitário Internacional Uninter, lembrou ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, do impacto do investimento nos semicondutores para a geopolítica, já que também são importantes até para a
produção de sistemas militares.
"A Rússia está sofrendo embargos econômicos justamente pela crise que vem acontecendo ali na região desde 2014. Começaram a surgir sanções, e o país precisava garantir a sua soberania tecnológica. Moscou vai conseguir resistir a essa pressão ocidental, e vira uma questão de segurança nacional, porque quando a gente fala de produção de semicondutores, a gente está falando também de defesa e área militar, não só a parte do nosso dia a dia", ressaltou.
Conforme o especialista, a Rússia atualmente consegue produzir semicondutores de até 65 nanômetros, e o objetivo é de chegar a 14 nanômetros até 2030.
"No final do ano passado, o ministro de Indústria e Comércio [Anton Alikhanov] falou que, a partir de 2024, ele começaria a fazer um investimento. Então, assim, eles começaram a produzir máquinas de litografia. O que seria isso? Quando a gente fala no processo de fabricação, usamos as máquinas de litografia, que são teoricamente impressoras a laser que imprimem os transistores, que imprimem esses semicondutores. E o acesso a essa máquina é muito restrito. Hoje, praticamente 100% do mundo compra a máquina da ASML, que é uma empresa dos Países Baixos. Então essa empresa acabou durante os embargos, não pode mais vender máquinas para a Rússia", explicou.
Além disso, o professor da Uninter disse que o país conta com
praticamente todos os insumos necessários para a produção de um chip, o que é um ponto a mais para alcançar a meta de atender a 70% do mercado interno.
"Um dos principais insumos necessários para fazer o processo de fabricação são os gases nobres. Então a Rússia possui boa parte desses gases nobres usados. Detém a principal empresa fornecedora de substrato de safira, só que ela vai precisar fazer alguns comércios fora desses países que estão participando do embargo. Então ela vai ter que começar a recorrer principalmente aos aliados dela no BRICS", destacou.
É o caso da China, que, após as sanções, passou a fornecer cerca de 90% dos semicondutores usados por Moscou, e que também vem sofrendo com os embargos liderados pelos Estados Unidos desde 2018.
"Mas a China está crescendo hoje fazendo muita engenharia reversa, tanto que os Estados Unidos acusam o país justamente de copiar chips, enquanto algumas empresas norte-americanas mandavam fabricar na China, que exigia essa transferência de tecnologia para que ela pudesse fabricar […]. O país cresceu muito. Os Estados Unidos até chegaram a duvidar um pouco da capacidade de Pequim, achando que estaria hoje com uma litografia de 15 nanômetros, mas descobriram que já está com 7 nanômetros", enfatizou.
Como funcionam os materiais semicondutores?
Por possuírem
baixa condutividade elétrica, os semicondutores são materiais isolantes neutros considerados o pilar da eletrônica moderna. O diretor-presidente do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto Cesar Gadelha Vieira, enfatizou ao podcast Mundioka que a fabricação desses componentes é extremamente complexa e, por isso, ainda restrita a poucos países que
possuem o domínio tecnológico.
"E o que ocorreu é que os Estados Unidos começaram a exportar a fabricação e fazer em Taiwan e na Coreia do Sul. […] esses países começaram a concentrar toda a parte de fabricação de semicondutores, dos chips, que são os circuitos eletrônicos feitos em cima do material que a gente chama de semicondutor. Então isso daí concentrou muito na Ásia. A Europa também teve um desenvolvimento muito bom nessa área", argumentou.
Outro país que tem começado a
investir mais intensamente no setor é a Índia, que também faz parte do BRICS. Segundo o especialista, um dos pontos mais fortes do país é a qualificação dos recursos humanos, que possui grande potencial.
"O BRICS se fortalece como um grupo de países que, digamos, interagem com intensidade. Para o Brasil, por exemplo, nós estamos na busca de um certo grau de autonomia também. E estar junto com outros países do porte da China, da Rússia, da Índia, isso seria extremamente positivo para que a gente consiga realmente fazer uma interação grande, uma cooperação científica e tecnológica nesse setor. Então nós fazemos isso dentro dos BRICS, por exemplo, em outros setores. Eu já fui à Índia verificar a questão de uma tentativa de, junto com a Índia, construir um supercomputador para esses países", disse Vieira.
Como está o Brasil na corrida dos semicondutores?
Para o diretor-presidente da Ceitec, não há uma percepção no Brasil com relação à importância dos semicondutores e de investir para reduzir a dependência externa.
"Eu não diria nem de partidos políticos ou de quem está como presidente, mas é algo como nação. O Brasil investiu no setor de semicondutores nos anos 1970, depois em 2000, o que ocorreu até 2013. Hoje, temos projetos novamente, com
produtos que vieram de um programa de treinamento para profissionais feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e, no setor privado, temos duas grandes empresas principais, uma em São Paulo e outra no Rio Grande do Sul. Elas fazem o back-end, que é o encapsulamento do semicondutor, mas nenhuma fabrica o chip", afirmou.
Durante o último governo, inclusive, houve a decisão de fechar a fábrica da Ceitec, que é estatal, diante dos custos. Porém, como a unidade tem produtos danosos ao meio ambiente, o processo seria lento e, na atual gestão, foi decidido retomar as atividades.
"Estamos tentando recuperar o espaço, mas em uma rota tecnológica que não é a mesma anterior, não é em cima dos semelhantes condutores chamados de silício. Hoje ela está investindo na parte de chips de potência, que é um chip que pode ser fabricado dentro do que nós temos lá com pequenas mudanças de maquinário e, com isso, podemos atender à indústria, que [atualmente] precisa muito dessa tecnologia que está expandindo no mundo inteiro", detalhou.
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