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Especialista: caso do X no Brasil é um exemplo para a América Latina contra ingerência das big techs

CC0 / Unsplash / Um homem segura um telefone celular
Um homem segura um telefone celular - Sputnik Brasil, 1920, 05.09.2024
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As sanções do Brasil contra a empresa X deveriam ser "um exemplo" para outros países latino-americanos em um contexto em que as grandes plataformas digitais acumularam "enorme poder", disse à Sputnik o analista internacional Jorge Elbaum.
O especialista argentino, também sociólogo e doutor em Ciências Econômicas, considerou que o bloqueio da rede social X ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro é uma "prática soberana" que, como outras do mesmo estilo, "implica um confronto com a lógica neocolonial e imperialista" mantida por este tipo de empresas.
Nesse sentido, Elbaum destacou que existe uma questão "estrutural" por trás tanto do X como de outras grandes empresas tecnológicas como Google, Amazon, Apple, Microsoft ou Meta (banida na Rússia por atividades extremistas), que nos últimos anos "acumularam um poder enorme", tanto economicamente como no seu poder de influência sobre os utilizadores da Internet.
"Estas plataformas têm, em conjunto, um orçamento superior ao de vários países e equivalente a países como a França. Têm muito poder econômico e um grande poder de influência, além de fortes contatos com organizações de segurança, inteligência e espionagem, pelo que estão sempre articulados com o lado sombrio da governação global", disse o analista.
Nesse sentido, Elbaum destacou que, embora possam existir diferenças, este tipo de empresas expressam "interesses que não são contraditórios com a política externa dos EUA" e que, para além das simpatias para com Donald Trump ou Joe Biden, movem-se dentro de "um tripé, isso inclui o complexo militar-industrial, Wall Street e empresas transnacionais".
Neste cenário, Elon Musk surge como o CEO que "está jogando mais abertamente um jogo global a favor de uma direita brutal, nacionalista e reacionária" e que para Elbaum está diretamente relacionada com a rejeição da influência da China na economia global.
"Vamos pensar que [Elon] Musk foi o primeiro produtor de automóveis [elétricos] do mundo, mas foi desbancado pelos chineses. Ele está desesperado", ilustrou Elbaum, lembrando que o CEO do X e da Starlink defendeu o golpe de Estado contra Evo Morales em 2019, ironizando através do X ao dizer que promoveria "todos os golpes que quisesse" para ter acesso aos recursos de lítio do país, fundamentais na indústria de veículos elétricos (VE).
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Uma 'guerra' contra o BRICS e o Sul Global

Para Elbaum, episódios como o que enfrenta o Brasil com o X ou a prisão do fundador do Telegram, Pavel Durov, fazem parte de uma "guerra cognitiva" promovida pelo Ocidente com o objetivo de "limitar as capacidades das sociedades de pensarem com as suas próprias cabeças, basicamente com base nos algoritmos e condicionamentos das telas".
"Nesta guerra cognitiva, a América Latina e a África são reivindicadas como suas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] e pelo Atlântico Norte, mas começam a se rebelar, especialmente nos casos do México, Brasil, Honduras e, claro, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, por exemplo. Este modelo de ingerência, sanções unilaterais e bloqueios estão encontrando dificuldades", afirmou o sociólogo.
Assim, a decisão do STF brasileiro de sancionar o X pela disseminação dos discursos antidemocráticos é uma expressão de "uma guerra contra o BRICS levada a cabo pelos EUA, pela União Europeia [UE] e pelo Japão" tentando evitar o fortalecimento dos países do Sul Global.
Elbaum defendeu, nesse sentido, as medidas adotadas pelo Brasil, que também "vêm da Justiça, portanto têm um ar de maior neutralidade e não podem ser atribuídas ao [presidente] Lula".
Para o analista, outra alternativa para os países latino-americanos seria seguir algumas práticas adotadas pelas potências do BRICS e que lhes permitam ter redes sociais "próprias" baseadas nos seus próprios territórios.

"Se fosse possível, a América Latina deveria ter um formato de interação comum, cujos algoritmos e inteligência artificial [IA] fossem gerenciados por países soberanos", disse.

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