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Brasil deve bloquear compra de equipamentos militares de Israel? Especialistas divergem
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Compra de equipamentos militares de Israel pelo Brasil está em xeque por crise diplomática no alto escalão. Queda de braço entre governo Lula e Forças Armadas... 12.09.2024, Sputnik Brasil
2024-09-12T10:24-0300
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Compra de viaturas blindadas de Israel pelas Forças Armadas sofre novo impasse, com a expiração de prazo para assinatura do contrato. Oposição do assessor de Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, levou governo a repensar termos do acordo.A aquisição de 36 viaturas blindadas de combate, ou seja, obuseiros autopropulsados de 155 mm sobre rodas, produzidas pela empresa israelense Elbit Systems, no âmbito do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas, está estimada em R$ 1 bilhão.A empresa israelense venceu processo de licitação em abril deste ano, superando a segunda colocada Excalibur International da República Tcheca, a KNDS da França e a Norinco chinesa. Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil atestaram a qualidade técnica dos equipamentos oferecidos pelos israelenses ao Brasil.No entanto, o assessor de Relações Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, intercedeu contra o processo, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi declarado persona non grata pelo governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Em função da crise diplomática, o Brasil retirou seu embaixador de Tel Aviv, posto agora comandado por um encarregado de negócios.Para Amorim, há descompasso entre o tratamento concedidos por autoridades israelenses ao Brasil e a compra bilionária almejada pelo Exército Brasileiro. Apesar do impasse, o professor de Ciências Políticas da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Henrique Lucena Silva, acredita que a posição técnica do Exército deve prevalecer sobre considerações de cunho diplomático.O analista ainda lembrou o acelerado ritmo de aquisições de material bélico israelense durante os primeiros governos Lula, notando que "por mais que tenhamos entraves diplomáticos, algumas relações continuam, principalmente as comerciais de cunho estratégico"."O Brasil tem uma longa tradição de acordos com empresas israelenses, entre elas a própria Elbit, que opera há décadas no nosso mercado. Isso facilita a integração dos sistemas", considerou Lucena Silva. "A empresa também tem uma relação muito próxima com a Força Aérea brasileira, no suprimento de aviônicas ao modelo Super Tucano."De acordo com fonte ouvida pela Sputnik Brasil que pediu anonimato para tratar de questões sensíveis, caso o governo esteja de fato incomodado com a atitude israelense em relação a Lula, deveria adotar ações diplomáticas enfáticas, como o rompimento de relações, ao invés de utilizar a compra da Elbit como instrumento retaliatório. Para a fonte, o possível bloqueio da compra dos obuseiros será um caso isolado, sem o condão de modificar o comportamento internacional israelense.E a Base Industrial de Defesa brasileira?O professor da UNICAMP, Marcos José Barbieri Ferreira, questiona a escolha do Exército pela compra de equipamento de empresa internacional, em detrimento do investimento da produção de análogo brasileiro. Segundo Barbieri Ferreira, a indústria brasileira é capaz de desenvolver sistemas de artilharia e deveria, no mínimo, estar engajada no processo de integração dos equipamentos israelenses à infraestrutura nacional.O processo de integração feito nacionalmente permite maior autonomia operacional e na escolha de softwares, hardwares e computadores balísticos a serem utilizados nos sistemas de fabricação israelense."Lembremos que uma empresa como a Avibras poderia fazer a integração, afinal ela já produz sistemas de artilharia", argumentou Barbieri Ferreira. "E não só a Avibras, o Brasil tem mais de uma empresa na sua Base Industrial de Defesa capaz de realizar esse processo."Paradoxalmente, o governo brasileiro hesita em assumir uma dívida estimada em R$ 700 milhões da Avibras, preferindo a venda do grupo para empresas estrangeiras, enquanto investirá R$ 1 bilhão na compra de equipamentos israelenses. "Estamos a ponto de perder uma empresa brasileira que produz sistemas de artilharia, ao mesmo tempo que compramos sistemas de artilharia estrangeiros", lamentou o especialista."Me admira que exigências de transferência de tecnologia, conteúdo nacional e, no mínimo, a realização da integração por empresa brasileira, não foram incluídas nesse processo de compra do Exército", notou Barbieri Ferreira. "As Forças Armadas incluíram esses elementos com sucesso em compras como a dos caças Gripen, e questiono por que agora estamos deixando de lado essas exigências."Após a oposição de Lula e seu assessor internacional Celso Amorim à compra de equipamentos israelenses, o ministro da Defesa, José Múcio, passou a mediar o assunto. O objetivo de Múcio seria garantir concessões da Elbit Systems, como a construção de uma nova fábrica de blindados no Brasil, reportou o portal UOL. O professor da UNICAMP, no entanto, questiona por que essas medidas não haviam sido incluídas no processo de licitação original.Segundo o especialista, o Brasil está realizando uma série de compras – seja de mísseis portáteis, viaturas blindadas ou helicópteros – sem a exigência de contrapartidas que interessam à indústria nacional e à geração de empregos em território brasileiro.A compra das viaturas blindadas de combate, ou seja, de obuseiros autopropulsados pelo Exército brasileiro, estende-se desde 2017. A licitação na qual a empresa vencedora foi a israelense Elbit Systems foi concluída em abril de 2024. Anteriormente, em fevereiro de 2014, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, persona non grata. A medida israelense foi motivada por declaração de Lula que comparou a guerra na Faixa de Gaza ao Holocausto, por não ser "uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças."
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celso amorim, benjamin netanyahu, luiz inácio lula da silva, israel, exército, brasil, defesa, forças armadas, super tucano, gripen, indústria de defesa, josé mucio monteiro
Brasil deve bloquear compra de equipamentos militares de Israel? Especialistas divergem
10:24 12.09.2024 (atualizado: 12:09 12.09.2024) Especiais
Compra de equipamentos militares de Israel pelo Brasil está em xeque por crise diplomática no alto escalão. Queda de braço entre governo Lula e Forças Armadas expõe dificuldade de alinhar política externa e de defesa no Brasil.
Compra de viaturas blindadas de Israel pelas Forças Armadas sofre novo impasse, com a expiração de prazo para assinatura do contrato. Oposição do assessor de Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, levou governo a repensar termos do acordo.
A aquisição de 36 viaturas blindadas de combate, ou seja, obuseiros autopropulsados de 155 mm sobre rodas, produzidas pela empresa israelense Elbit Systems, no âmbito do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas, está estimada em R$ 1 bilhão.
A empresa israelense venceu processo de licitação em abril deste ano, superando a segunda colocada Excalibur International da República Tcheca, a KNDS da França e a Norinco chinesa. Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil atestaram a qualidade técnica dos equipamentos oferecidos pelos israelenses ao Brasil.
No entanto, o
assessor de Relações Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, intercedeu contra o processo, já que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi declarado persona non grata pelo governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Em função da crise diplomática, o Brasil retirou seu embaixador de Tel Aviv, posto agora comandado por um encarregado de negócios.
Para Amorim, há descompasso entre o tratamento concedidos por autoridades israelenses ao Brasil e a compra bilionária almejada pelo Exército Brasileiro. Apesar do impasse, o professor de Ciências Políticas da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Henrique Lucena Silva, acredita que a posição técnica do Exército deve prevalecer sobre considerações de cunho diplomático.
"As decisões técnicas do Exército precisam ser respeitadas, independente de coloração ideológica de figuras políticas A, B ou C. Afinal, quem vai operar, manter e organizar toda a logística será o Exército", disse Lucena Silva à Sputnik Brasil. "A posição do [...] Celso Amorim termina sendo bastante ideológica e não leva em consideração as necessidades da pasta da Defesa."
O analista ainda lembrou o acelerado ritmo de aquisições de material bélico israelense durante os primeiros governos Lula, notando que "por mais que tenhamos entraves diplomáticos, algumas relações continuam, principalmente as comerciais de cunho estratégico".
"
O Brasil tem uma longa tradição de acordos com empresas israelenses, entre elas a própria Elbit, que opera há décadas no nosso mercado. Isso facilita a integração dos sistemas", considerou Lucena Silva. "A empresa também tem uma relação muito próxima com a Força Aérea brasileira, no suprimento de aviônicas ao modelo Super Tucano."
De acordo com fonte ouvida pela Sputnik Brasil que pediu anonimato para tratar de questões sensíveis, caso o governo esteja de fato incomodado com a atitude israelense em relação a Lula, deveria adotar ações diplomáticas enfáticas, como o rompimento de relações, ao invés de utilizar a compra da Elbit como instrumento retaliatório.
Para a fonte, o possível bloqueio da compra dos obuseiros será um caso isolado, sem o condão de modificar o comportamento internacional israelense.
E a Base Industrial de Defesa brasileira?
O professor da UNICAMP, Marcos José Barbieri Ferreira, questiona a escolha do Exército pela compra de equipamento de empresa internacional, em detrimento do investimento da produção de análogo brasileiro. Segundo Barbieri Ferreira, a indústria brasileira é capaz de desenvolver sistemas de artilharia e deveria, no mínimo, estar engajada no processo de integração dos equipamentos israelenses à infraestrutura nacional.
"Na minha opinião, não está claro que o Brasil precise desses equipamentos, já que temos o nosso próprio sistema de foguetes, que é o Astros II. Ainda que, de fato, seja necessário adquirir esses equipamentos, por que não investimos para os produzir nacionalmente? E se não puder ser desenvolvido nacionalmente, no mínimo precisaríamos que eles fossem integrados no Brasil, por uma empresa brasileira, e não por uma subsidiária", disse Barbieri Ferreira à Sputnik Brasil.
O processo de integração feito nacionalmente permite maior autonomia operacional e na escolha de softwares, hardwares e computadores balísticos a serem utilizados nos sistemas de fabricação israelense.
"Lembremos que uma empresa como a Avibras poderia fazer a integração, afinal ela já produz sistemas de artilharia", argumentou Barbieri Ferreira. "E não só a Avibras, o Brasil tem mais de uma empresa na sua Base Industrial de Defesa capaz de realizar esse processo."
Paradoxalmente, o
governo brasileiro hesita em assumir uma dívida estimada em R$ 700 milhões da Avibras, preferindo a venda do grupo para empresas estrangeiras, enquanto investirá R$ 1 bilhão na compra de equipamentos israelenses. "Estamos a ponto de perder uma empresa brasileira que produz sistemas de artilharia, ao mesmo tempo que compramos sistemas de artilharia estrangeiros", lamentou o especialista.
"Me admira que exigências de transferência de tecnologia, conteúdo nacional e, no mínimo, a realização da integração por empresa brasileira, não foram incluídas nesse processo de compra do Exército", notou Barbieri Ferreira. "As Forças Armadas incluíram esses elementos com sucesso em compras como a dos caças Gripen, e questiono por que agora estamos deixando de lado essas exigências."
Após a oposição de Lula e seu assessor internacional Celso Amorim à compra de equipamentos israelenses, o ministro da Defesa, José Múcio, passou a mediar o assunto.
O objetivo de Múcio seria garantir concessões da Elbit Systems, como a construção de uma nova fábrica de blindados no Brasil,
reportou o portal UOL. O professor da UNICAMP, no entanto, questiona por que essas medidas não haviam sido incluídas no processo de licitação original.
Segundo o especialista, o Brasil está realizando uma série de compras – seja de mísseis portáteis, viaturas blindadas ou helicópteros – sem a exigência de contrapartidas que interessam à indústria nacional e à geração de empregos em território brasileiro.
"Portanto, ao invés de nos atentarmos somente à questão de Israel, deveríamos nos perguntar por que não estamos priorizando investimentos na base industrial de defesa brasileira", concluiu o especialista.
A compra das viaturas blindadas de combate, ou seja, de obuseiros autopropulsados pelo Exército brasileiro, estende-se desde 2017. A licitação na qual a empresa vencedora foi a israelense Elbit Systems foi concluída em abril de 2024.
Anteriormente, em fevereiro de 2014, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, persona non grata. A medida israelense foi motivada por declaração de Lula que comparou a guerra na Faixa de Gaza ao Holocausto, por não ser "uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças."
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