Promessa de Trump de encerrar conflito na Ucrânia pressiona planos militares do atual governo
© AP Photo / Alex BrandonCandidato republicano à presidência, ex-presidente Donald Trump, fala durante debate presidencial na Filadélfia, EUA, 10 de setembro de 2024
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As declarações do presidente Donald Trump de que resolverá o conflito entre a Ucrânia e a Rússia assim que for eleito podem já estar acelerando os planos militares dos EUA para esse fim, disse Karen Kwiatkowski, ex-analista do Pentágono e tenente-coronel aposentada da Força Aérea dos EUA, à Sputnik.
No seu primeiro debate contra a vice-presidente Kamala Harris, Trump prometeu encerrar imediatamente o conflito Rússia-Ucrânia se for eleito presidente em novembro. Trump afirmou que pretende até mesmo "resolver isso" antes de assumir o cargo de presidente eleito. O companheiro de chapa de Trump, o senador JD Vance, em uma entrevista na última quinta-feira (12), disse que o plano envolveria a Rússia mantendo os atuais territórios e o estabelecimento de uma zona desmilitarizada.
"Falando sobre a facilidade e a rapidez com que ele irá 'acabar com a guerra' na Ucrânia, Trump já alavancou uma corrida para o fim pela administração atual. Ao avançar com a ideia de um fim rápido, ele já levou o Estado Profundo a acelerar seu próprio planejamento, principalmente para garantir que os fluxos de dinheiro público e privado para a reabilitação de recursos, extração e bases militares estejam todos preparados e prontos antes que Trump chegue", disse Kwiatkowski.
O conflito fomentada pelos EUA na Ucrânia já cumpriu seus objetivos principais, incluindo a tentativa de reduzir o poder e a influência da Rússia e aumentar a justificativa para os gastos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Os EUA e a OTAN estão amplamente esgotados em termos de capacidade convencional para processar a guerra contra a Rússia através da Ucrânia, e a própria Ucrânia também está exausta logisticamente e economicamente", afirmou.
Apesar da retórica dos neoconservadores e da própria Harris, Kwiatkowski acredita que a administração Biden já tenta reduzir o conflito, diminuindo apoio e se posicionando a favor da paz, com intenções similares da Alemanha e outros aliados da OTAN neste mês.
O plano, acrescentou Kwiatkowski, poderia envolver a Rússia mantendo o que já possui, além de extensas garantias de segurança, e Polônia, Romênia e Lituânia sendo compensadas por sua lealdade. Os EUA continuarão suas atividades na região, incluindo o estabelecimento de bases, acrescentou ela.
"Os EUA pretendem continuar construindo bases maciças como o Camp Bondsteel não apenas na Romênia e na Polônia, mas nas terras desoladas recém-estabelecidas e despovoadas do leste da Ucrânia, e isso anda de mãos dadas com outras formas de exploração econômica", disse Kwiatkowski.
O plano dos EUA para fortalecer o Leste Europeu seria aceitável para a Europa Ocidental, "que não quer instalações dos EUA, campos de testes e laboratórios militares biológicos em seus próprios países", acrescentou Kwiatkowski.
Opções de Donald Trump
Entre as ações que Trump poderia tomar nesse meio tempo estão anunciar cargos no Departamento de Estado, na CIA e no Departamento de Defesa, como especialistas como o coronel aposentado do Exército dos EUA Douglas MacGregor e o professor Jeffrey Sachs, entre outros, disse a ex-analista do Pentágono. Trump também poderia estabelecer canais de comunicação com líderes russos e ucranianos, acrescentou Kwiatkowski.
A razão pela qual Trump ainda não fez isso, acrescentou, é para evitar o clamor reacionário neoconservador de "Rússia! Rússia! Rússia!". A equipe de Biden já está tentando silenciar esses possíveis nomeados, provavelmente por essa razão, disse Kwiatkowski.
"Se Trump nomear sua 'equipe da Ucrânia' agora, pode, ou não, ser capaz de se antecipar e superar os agentes do Estado Profundo que já estão se movendo para encerrar esta fase do conflito por procuração EUA-Rússia em termos que atendam aos seus próprios objetivos traiçoeiros e imperiais naquela parte do mundo", disse Kwiatkowski.
Se Trump for eleito, em janeiro de 2025 pode encerrar o apoio dos EUA à Ucrânia, o que encerrará a maior parte dos combates ativos, e trazer uma nova liderança ucraniana, disse Kwiatkowski.
No entanto, para "encerrar" o conflito dessa forma, Trump terá que prometer que os investimentos já planejados para a reconstrução da Ucrânia continuarão na mesa para vender um programa de paz ao "Congresso inclinado ao neoconservadorismo e fortemente democrata", disse Kwiatkowski.