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Ucrânia fora da OTAN? Vice de Trump coloca neutralidade de Kiev na agenda, diz analista

© AP Photo / Karl B DeBlakerCandidato republicano à vice-presidência, senador J.D. Vance, durante evento de campanha em Raleigh, EUA, 18 de setembro de 2024
Candidato republicano à vice-presidência, senador J.D. Vance, durante evento de campanha em Raleigh, EUA, 18 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2024
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Candidato à vice-presidência pelo Partido Republicano, J.D. Vance quer processo de paz para a Ucrânia com zona desmilitarizada e neutralidade de Kiev. Retomando termos do Comunicado de Istambul de 2022, proposta republicana contrasta com ausência de projeto de paz do Partido Democrata, disseram analistas à Sputnik Brasil.
Na última semana, o plano de paz para a Ucrânia do candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, foi detalhado pelo seu candidato a vice, J.D. Vance. Segundo o republicano, a neutralidade ucraniana e a criação de uma zona desmilitarizada seriam os primeiros passos para selar a paz no Leste Europeu.
Anteriormente, o candidato à presidência Donald Trump já havia se comprometido a iniciar os diálogos de paz antes mesmo de assumir um eventual novo mandato. De acordo com Vance, o primeiro passo seria conversar com russos, ucranianos e europeus para estabelecer as linhas gerais do plano de paz.

"E o mais provável é que a atual linha de demarcação entre a Rússia e a Ucrânia se transforme em uma zona desmilitarizada", disse Vance em entrevista ao podcast Shawn Ryan Show.

Segundo ele, a administração republicana teria reservas quanto a lançar ofensiva militar para retirar tropas russas da Crimeia, questionando "quantas vidas norte-americanas isso custaria". "Se a resposta é mais do que zero, então eu estou fora dessa", declarou Vance.
© AP Photo / Abbie ParrEleitores participam de evento com o candidato republicano à vice-presidência, senador J.D. Vance, em Eau Claire, EUA, 17 de setembro de 2024
Eleitores participam de evento com o candidato republicano à vice-presidência, senador J.D. Vance, em Eau Claire, EUA, 17 de setembro de 2024  - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2024
Eleitores participam de evento com o candidato republicano à vice-presidência, senador J.D. Vance, em Eau Claire, EUA, 17 de setembro de 2024
Outro ponto relevante da proposta de Vance é garantir a neutralidade ucraniana, o que significaria a não adesão de Kiev a alianças militares como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"A Ucrânia manteria a sua soberania independente e a Rússia receberia a garantia de neutralidade da Ucrânia – de que não vai aderir à OTAN, de que não vai aderir a instituições aliadas", disse Vance. "O acordo no final seria algo nessa linha."
A especialista em segurança russa e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Larissa Caroline Silva, notou a importância da neutralidade ucraniana para Moscou, lembrando que a possível entrada de Kiev na OTAN é uma das causas profundas do conflito.
"Recentemente, o [presidente russo Vladimir] Putin voltou a mencionar a neutralidade da Ucrânia, lembrando que ela é imprescindível para a Rússia", disse Silva à Sputnik Brasil. "Uma proposta de paz que traga esse tema para a mesa fará mais sentido para Moscou."
A garantia de neutralidade ucraniana foi um dos grandes trunfos do processo de paz da primavera europeia de 2022, que deixou russos e ucranianos muito próximos de um acordo. De acordo com a revista norte-americana Foreign Affairs, o acordo também previa a desmilitarização de Kiev, aliada a garantias de segurança fornecidas por países do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha, Israel, Polônia, Itália e Turquia.
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O texto do acordo, chamado Comunicado de Istambul, detalhava o apoio militar que a Ucrânia receberia do Ocidente em caso de agressão externa, incluindo interdição do espaço aéreo, fornecimento de armas e intervenção militar direta.
No entanto, pressões exercidas por líderes ocidentais inviabilizaram a assinatura do acordo, fato corroborado não só pelos próprios negociadores, como pelo então primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett.
Recentemente, a ex-embaixadora dos EUA na OTAN, Victoria Nuland, confirmou durante entrevista a oposição ocidental ao acordo de paz, declarando que "pessoas fora da Ucrânia", como "nós e os britânicos", teriam "questionado se esse era um bom acordo, e nesse ponto ele desmoronou".
© AP Photo / Manuel Balce CenetaEntão subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, depõe em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado em Washington, EUA, 26 de janeiro de 2023
Então subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, depõe em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado em Washington, EUA, 26 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2024
Então subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, depõe em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado em Washington, EUA, 26 de janeiro de 2023
Passados mais de dois anos de confronto militar, a retomada do debate sobre a neutralidade ucraniana poderia, de fato, reabrir o processo de negociação entre as partes beligerantes. No entanto, é prematuro prever o nível de aceitação que a proposta do candidato à vice-presidência dos EUA, J.D. Vence, terá entre as autoridades russas e ucranianas, alerta a doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (PUC-SP/UNESP/UNICAMP), Nathana Garcez Portugal.
"É difícil de prever se essas condições serão aceitáveis, no entanto elas parecem ser mais interessantes do que as atuais propostas do Partido Democrata [dos EUA]", disse Portugal à Sputnik Brasil. "O governo democrata não realiza nenhum movimento no sentido de uma proposta de resolução do conflito que minimamente aproximaria as partes a um processo de paz."
A especialista Larissa Silva concorda e lembra que, quando o assunto é Ucrânia, a abordagem das candidaturas Trump e Kamala divergem de maneira significativa. Segundo ela, "do lado republicano temos uma possível proposta de paz com neutralidade ucraniana, enquanto do lado democrata temos o reforço do apoio militar e financeiro da OTAN à Ucrânia."
© AP Photo / Alex BrandonA candidata democrata à presidência, a vice-presidente Kamala Harris, fala durante debate presidencial na Filadélfia, EUA, 10 de setembro de 2024
A candidata democrata à presidência, a vice-presidente Kamala Harris, fala durante debate presidencial na Filadélfia, EUA, 10 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2024
A candidata democrata à presidência, a vice-presidente Kamala Harris, fala durante debate presidencial na Filadélfia, EUA, 10 de setembro de 2024
Além disso, existem sinais de que a candidata democrata Kamala Harris poderá modificar a posição da atual administração Biden em relação à Ucrânia não para negociar a paz, mas sim para reforçar o apoio militar ocidental a Kiev.
"A mídia especializada aponta para uma postura mais incisiva de Kamala em relação ao apoio norte-americano a Kiev, já que ela quer manter a influência de Washington na Ucrânia via OTAN", notou Portugal. "Ela poderá inclusive garantir ainda mais apoio militar dos EUA, em áreas nas quais o governo Biden hesitou em alguns momentos."
Segundo Portugal, uma eventual administração Kamala também solicitará que aliados europeus reforcem o apoio fornecido a Kiev, "pressionando ainda mais os participantes da OTAN a se comprometer com ajuda".

Lugar para os EUA no processo de paz?

Apesar do debate em torno da proposta de Vance, o Partido Republicano pode utilizar a pauta ucraniana para fins puramente eleitorais, já que parte do eleitorado norte-americano demonstra certa fadiga quanto a conflitos internacionais, apontam as especialistas. Mas, uma vez no poder, as promessas de campanha nem sempre são cumpridas.
© Sputnik / Aleksei DanichevA 14ª Reunião dos Altos Representantes do BRICS e BRICS+ sobre Assuntos de Segurança.
A 14ª Reunião dos Altos Representantes do BRICS e BRICS+ sobre Assuntos de Segurança. - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2024
A 14ª Reunião dos Altos Representantes do BRICS e BRICS+ sobre Assuntos de Segurança.
Ademais, a posição de Trump e Vance não impede que congressistas democratas e republicanos coloquem obstáculos contra propostas de paz para o conflito ucraniano. Nesse contexto, outros interlocutores, como China, Índia e Brasil, devem continuar como potenciais mediadores entre Moscou e Ucrânia, acredita Portugal.
"As propostas de China, Índia e Brasil têm impacto muito importante por virem de países do BRICS, que é um sistema que desafia o ordenamento construído pelos EUA", disse Portugal. "Em alguma medida, eles estão mais próximos da Rússia e têm suas propostas recebidas com maior apreço do que as vindas dos EUA."
Por outro lado, a especialista Larissa Silva acredita que "será muito difícil que um processo de paz bem-sucedido para a Ucrânia não passe pelos EUA". Para ela, ainda que Washington não seja o protagonista de um eventual acordo, teria que estar presente na mesa de negociações.
O conflito ucraniano teve destaque entre os temas de política externa no recente debate presidencial norte-americano entre os candidatos Donald Trump e Kamala Harris. A pesquisa eleitoral da ABC News atualizada nesta quarta-feira (18) indica 48,3% das intenções de votos para a candidata democrata, contra 45,3% para seu rival republicano. No entanto, o sistema eleitoral norte-americano conta com a figura do colégio eleitoral e, portanto, o voto popular não necessariamente decide o pleito.
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