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O que falta para o Brasil alcançar a independência no desenvolvimento de tecnologia militar?

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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista analisa a perda de espaço vivenciada no setor nos últimos anos por conta da instabilidade política e destaca a atuação de empresas, como a Atech, que vêm atuando na modernização militar.
Fundada em 2009, a Atech, companhia subsidiária da Embraer, se dedica ao desenvolvimento de programas de alta complexidade tecnológica. Entre os produtos desenvolvidos pela empresa estão sistemas de defesa e segurança, e simuladores, entre outros, que permitem ao grupo Embraer expandir seu mercado para além das aeronaves.
A companhia também foi responsável por desenvolver o software atualmente usado pela Marinha na fragata Tamandaré. Recentemente, no evento de lançamento da embarcação, em Itajaí (SC), o diretor-presidente da Atech, Rodrigo Pérsico, destacou que a empresa "está inserida principalmente nas Forças Armadas, com projetos estratégicos do governo".

"Nós estamos no Laboratório de Geração Nucleoelétrica da Marinha, nós estamos também com alguns sistemas do programa Gripen e também aqui na Classe Tamandaré. A gente basicamente é responsável pelo desenvolvimento e pela implementação de dois blocos de sistemas, um deles é o sistema de controle da plataforma da embarcação e o sistema de gerenciamento de armas", disse Pérsico.

Em entrevista à Sputnik Brasil, João Gabriel Burmann, pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), analisou a atual posição do Brasil no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologia de defesa, por meio de empresas como a Atech.
Ele afirma que nos últimos anos o Brasil perdeu um pouco de espaço nesse setor no mercado, após ter avançado nas décadas de 1980 e 1990, devido a questões econômicas, à instabilidade política e à crise na Avibras. Ademais, o país tem perdido profissionais talentosos, que acabam indo trabalhar em companhias estrangeiras, como a Saab, fabricante sueca de sistemas de defesa e segurança aeroespacial, e a BAE Systems, empresa do mesmo ramo, com sede no Reino Unido.

"Mas isso não significa que se desmanchou completamente a nossa base industrial de defesa. Eu acho que o exemplo da Atech é muito interessante porque é uma questão bastante pragmática de fazer aquilo que é viável, é possível de ser feito aqui dentro do Brasil. Então, ao invés de mirar produzir o topo de linha da tecnologia, dos mísseis e de alguns sistemas que requerem partes de que o Brasil ainda não tem o domínio de produção, nós temos nos focado em um setor bem interessante da área de defesa, que é o setor da modernização militar."

Sistema de lançamento de foguetes Astros II da Avibras dispara em exibição do Programa Estratégico Astros 2020 do Exército Brasileiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 05.09.2024
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Burmann acrescenta que essa modernização é feita por meio de materiais que o Brasil já adquire de outros países, que têm seus sistemas de comando, controle e comunicação atualizados. Segundo ele, esse é o campo que a Atech e outras empresas, como a AEL Systems, uma joint venture israelense com o Brasil, vêm desenvolvendo.
"Tem várias outras empresas muito pequenas, às vezes que nós nem conhecemos, mas que estão em volta do polo aeroespacial de São José dos Campos, que também conseguem fazer esse tipo de atividade", explica.

Brasil é referência regional em capacidade tecnológica

Burmann enfatiza que o Brasil é uma referência na América do Sul em desenvolvimento de tecnologia de defesa, mas falta integração, cooperação, e capacidade política e institucional para que as companhias brasileiras consigam se expandir e atender aos demais países da região.

"Esse era um projeto, inclusive, que a antiga Unasul, através do seu Conselho Sul-Americano de Defesa, tinha como um princípio, promover essa cooperação entre os países, tanto para o desenvolvimento conjunto de sistemas de defesa quanto para esse tipo de interoperabilidade em termos de manutenção, serviços, peças. Infelizmente, quando a Unasul perde seu papel — deixa inclusive de existir durante a gestão [Michel] Temer e [Jair] Bolsonaro —, […] essa integração, essa capacidade de cooperação fica um pouco mais difícil."

Nesse contexto, ele destaca que atores extrarregionais passaram a fornecer esse serviço, o que compromete o fomento da base industrial de defesa nacional, no sentido de empregos e qualificação, uma vez que companhias estrangeiras são contratadas para serviços que o Brasil tem capacidade e expertise para prestar.
"Eu lembro muito bem o caso do M109, um blindado que tinha inclusive a possibilidade de fazer esse processo de modernização nos parques de manutenção do Exército, e que acabou sendo contratado um serviço da BAE Systems."
Burmann considera que a exportação de tecnologia é um passo que em breve pode ser dado pelo Brasil, mas que antes o país deve fortalecer sua base industrial.
"Nós temos visto, infelizmente, uma grande incerteza em torno da nossa indústria de defesa. Talvez o caso da Avibras seja bastante representativo das dificuldades. É uma empresa que produz um produto estratégico para o Brasil, o sistema Astros, que é um dos projetos estratégicos do Exército Brasileiro."
Ele afirma que falta um posicionamento mais claro, mais robusto do governo e do Ministério da Defesa sobre os rumos da Avibras, mas frisa que a atual conjuntura internacional acaba dificultando um pouco esse processo.

"Há múltiplas guerras, o que acaba polarizando bastante os posicionamentos dos países em torno das grandes potências. Por um lado, nós temos as empresas americanas e britânicas, por outro lado, empresas chinesas e a própria Rússia, que tem uma grande capacidade de fornecer esse tipo de serviço a diferentes países. Nós temos já correndo por fora empresas turcas, israelenses. Então acaba que ao fazer essa tarefa de promover a exportação desses produtos no exterior, o Brasil acaba tendo que saber manobrar muito bem em uma zona bastante delicada."

Burmann afirma que o Brasil, embora seja parte do BRICS, ainda não explora de maneira mais eficaz a cooperação no setor com parceiros do grupo que são potências militares, como Rússia e China, por temor de que isso possa afetar a relação com outros países do Ocidente que são parceiros tradicionais, como os EUA. Ele explica ainda que não é possível garantir 100% de autonomia no setor, citando o exemplo de Índia e China, que têm interdependência com a Rússia no setor aeroespacial.
Em contraponto, ele afirma que o governo brasileiro vem investindo em desenvolver a base industrial, sobretudo por meio de polos de defesa.

"No Rio Grande do Sul, em Santa Maria, nós temos um pequeno polo operando em torno da questão dos blindados, devido à presença da terceira divisão do Exército Brasileiro, que é, se não me engano, a maior divisão de Exército que existe abaixo do Rio Grande, ou seja, tirando os EUA, nas Américas a terceira divisão, de Santa Maria, é a maior", aponta o especialista.

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