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Forças de defesa ou de ataque? Paradoxo militar israelense mudou a história do Oriente Médio

© AP Photo / Tsafrir AbayovVeículos do Exército israelense chegam a área de preparação após combate na Faixa de Gaza. Israel, 30 de dezembro de 2023
Veículos do Exército israelense chegam a área de preparação após combate na Faixa de Gaza. Israel, 30 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 07.10.2024
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Há um ano, as manchetes mundo afora expõem diariamente os efeitos da guerra promovida por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza. Para além da destruição quase total do território, mais de 42 mil palestinos já foram mortos em meio à inércia internacional. Agora, os olhares se voltaram para o Líbano, onde Tel Aviv repete a mesma retórica.
Desde os primórdios de sua criação no Oriente Médio, Israel busca se colocar frente à comunidade internacional como um Estado que age militarmente só pela esfera defensiva. Prova disso é o nome do próprio Exército: as Forças de Defesa de Israel (FDI). Mas acontecimentos recentes colocam em xeque cada vez definição, principalmente pelo Sul Global: à beira de uma guerra total, Israel passou a atacar o Líbano, ao mesmo tempo que mantém as hostilidades em Gaza e ameaça o Irã.
Muito antes da atual guerra, as agressões contra os territórios palestinos sempre foram mais regra do que uma exceção. Em maio de 2021, após o Hamas exigir a desocupação israelense em Gaza, confrontos ao longo de 11 dias provocaram mortes de 260 palestinos e 11 israelenses. Já em 2018, um protesto levou as FDI a abrirem fogo contra a multidão, quando 170 pessoas morreram. Quatro anos antes, um conflito ainda mais sangrento: o sequestro de três jovens israelenses levou a ataques que duraram quase dois meses. O resultado foi a morte de 2,1 mil palestinos e 73 israelenses.
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Os registros são tantos que ocupariam toda esta reportagem. Isso sem contar com os casos da Cisjordânia, outro território palestino que, apesar de não estar "oficialmente em guerra", foi alvo de quase 90 ataques aéreos e 697 mortes provocadas por agressões israelenses. O professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Bruno Huberman acrescenta à Sputnik Brasil que as FDI surgiram no contexto da expulsão de mais de 750 mil palestinos a partir de 1948, quando mais de 500 vilarejos também foram destruídos.

"Então, Israel, desde a sua fundação, busca se colocar como um Estado que age exclusivamente de forma defensiva, para proteger os judeus. Isso tem muito a ver com a proteção em relação ao antissemitismo, que era bastante genocida naquele contexto, logo após o Holocausto […]. Israel utiliza-se dos direitos de defesa como uma forma de justificar qualquer medida agressiva contra os seus inimigos, mesmo quando ela viola o direito internacional, como é o caso da resposta que a gente vê na Faixa de Gaza [desde outubro do ano passado]", pontuou.

E mesmo antes das tensões crescerem nas duas últimas semanas no Líbano, por conta das hostilidades entre Israel e Hezbollah, um levantamento do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês) revelou que Tel Aviv já realizava cinco vezes mais ataques no país do que o contrário.

"Esses dados evidenciam a desproporcionalidade de poder. Além disso, grupos como o Hezbollah, que surgiram para resistir à ocupação israelense, por mais que possam iniciar determinada conflagração de violência, quando a gente olha para a perspectiva histórica de longo prazo, vemos Israel também como a força agressiva prioritária nos conflitos", declara.

O que está acontecendo em Gaza é genocídio?

Para entender o motivo das ações militares israelenses provocarem tantas mortes, principalmente nos territórios palestinos, é necessário voltar ao contexto histórico, aponta o especialista. Entre 2000 e 2005, durante uma revolta civil dos palestinos contra a política israelense na região, conhecida como a Segunda Intifada, a resistência guerrilheira, como Hamas e Hezbollah, passou a se esconder em ambientes urbanos, como prédios e túneis, segundo Huberman.
"Desde então, a estratégia israelense tem sido a destruição através de um urbicídio [destruição de uma cidade]. É o caso da destruição do campo de refugiados de Jenin em 2002, por exemplo. Isso se tornou uma doutrina militar em 2006, durante a guerra com o Líbano. Também passamos a ver isso ser usado por países como os Estados Unidos", diz.
Toda essa desproporcionalidade de força tem o objetivo principal de tirar a capacidade de resistência dos palestinos à ocupação israelense. "Tel Aviv busca manter isso de forma eterna ou até encontrar uma solução provisória que lhe traga segurança enquanto mantém a colonização da região. Em Gaza, essa medida era o bloqueio iniciado em 2005, que chega ao seu limite em outubro do ano passado. Até então, o controle principal era remoto, com bloqueio econômico, além do uso de drones e bombardeios esporádicos para minar a capacidade de resistir. E diante da limitação desse modelo anterior, provocaram a destruição completa. Não tem nada de defesa, porque Israel é força ocupante, agressora, e não existe direito de defesa em território ocupado, segundo o direito internacional", justifica.
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Qual é a situação atual da Palestina?

Desde a década de 1940, os conflitos entre israelenses e palestinos nunca cessaram. Cada vez mais, a população que não faz parte do Estado judeu esteve confinada nos limites do seu antigo território, que corresponde a Gaza e Cisjordânia.
Ao longo do tempo, veio a Autoridade Palestina, que funciona como uma prefeitura na prestação de serviços públicos, enquanto Israel mantém há décadas o controle das fronteiras e da economia. Nesse contexto de dominação israelense crescente no Oriente Médio, surgiu o eixo da resistência, que tem como ator mais forte o Irã, enfatiza o especialista.

"Então, quando Israel escalona a violência contra palestinos, tende a haver solidariedade desses grupos políticos e militares [como o Hezbollah e os houthis do Iêmen]. Se antigamente eram os Estados árabes, hoje, particularmente, são as forças guerrilheiras e o Irã. Então isso sempre afetou a dinâmica de segurança na região […]. A permanência da guerra e ausência de um acordo de paz é o que traz instabilidade. E Israel persegue essa instabilidade que, em certo sentido, traz também uma aliança muito próxima com os Estados Unidos. Permite ainda ao país agir de forma violenta contra inimigos comuns aos norte-americanos", resume.

Já a doutora em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas Isabela Agostinelli pontua que as provocações israelenses, principalmente contra o Irã, têm justamente o objetivo de provocar uma guerra total no Oriente Médio. Tudo isso sob os olhares da Organização das Nações Unidas (ONU) que, segundo a especialista, tem uma atuação limitada, principalmente por conta dos vetos dos membros permanentes do Conselho de Segurança.

"Embora o próprio nome diga Forças de Defesa de Israel, o país não só se defende, como acaba extrapolando diversos limites éticos, morais e do próprio direito internacional de guerra. São ataques sistemáticos contra infraestruturas, a população civil, e não só em relação a alvos que diz querer alvejar", conclui.

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