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'Caldeirão biológico': analistas explicam por que a África é suscetível a surtos como o da mpox

© AP Photo / Moses SawasawaHomem não identificado infectado com mpox no Hospital Geral de Goma. República Democrática do Congo, 16 de julho de 2024
Homem não identificado infectado com mpox no Hospital Geral de Goma. República Democrática do Congo, 16 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.10.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas explicam por que o continente africano é afetado por epidemias de doenças como ebola, cólera e, atualmente, mpox.
O Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC África) declarou o surto da mpox uma emergência de saúde pública. A estimativa é que o continente necessita de 10 milhões de doses de vacinas para impedir a disseminação da doença.
Entretanto, a escassez de imunizantes global apontada por especialistas compromete a realização de uma campanha de imunização ampla na África, assim como ocorreu durante a pandemia de COVID-19, quando o continente foi uma das últimas regiões do mundo a receberem o imunizante.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas explicam o que torna a África uma região do planeta mais suscetível a epidemias, como foi com o ebola e a cólera, e agora a mpox.
Benisio Ferreira da Silva Filho, biomédico especialista em análises clínicas e professor do Centro Universitário Internacional Uninter, explica que a mpox é uma doença causada por um vírus originário do continente africano, que inicialmente foi detectado em populações que tinham um contato muito intenso com alguns símios. Segundo estudos, esses símios, por sua vez, teriam sido contaminados por roedores.
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Ele acrescenta que o clima e a biodiversidade da África tornam o continente um "caldeirão biológico" favorável ao desenvolvimento da vida, incluindo a da espécie humana.

"Os primeiros homo sapiens também vieram da África. Agora, a parte do clima, da riqueza em relação à parte bioquímica, é que vai favorecer o surgimento não só de bactérias, fungos, [mas também de] […] vírus, que eu não considero seres vivos; eles são parasitas intracelulares", afirma.

Ele acrescenta que a dinâmica de contato com animais, mais intensa que em outras regiões, contribui para a transmissão de zoonoses e mutações, como é o caso da mpox, antes um vírus transmitido apenas entre macacos que passou a ser transmitido também entre humanos.
Filho afirma que os principais sintomas da mpox são bem característicos de outras viroses: dor de cabeça, febre alta e corpo dolorido. Porém ele inclui outro mais característico, que é a presença de bolhinhas na pele com um líquido no interior, que eventualmente vêm a secar, deixando uma ferida que leva à contaminação direta em caso de contato. Por conta disso, a transmissão costuma se dar entre parentes ou pessoas que residem na mesma casa.
Ele afirma que a forma de interagir da população africana, com mais contato do que a europeia, em região mais fria, também contribui para a disseminação.

"A dinâmica deles permite um maior número de transmissões entre pessoas, aumentando o número de casos e, consequentemente, por se tratar de vírus, aumentando também a possibilidade do surgimento de novas variantes. Quanto mais pessoas se contaminam, maior é a probabilidade de surgir uma outra variante que pode, porventura, ser mais virulenta, ter um poder letal maior", explica.

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Vitor de Pieri, professor associado do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica, por sua vez, que um dos fatores que levam o continente africano a ser alvo de epidemias é a história da região. Ele pontua que a África, assim como as Américas e a Ásia, foi extensamente explorada por europeus durante o período da colonização.
"Então, em 1885, ocorre a Conferência de Berlim, que dividiu o subcontinente africano em diversos países, sem nenhum parâmetro, sem nenhum limite. As fronteiras foram criadas artificialmente."
Segundo ele, isso prejudicou muito a África porque a tornou um local dividido sem parâmetros e, como consequência, afetado pela falta de governança.

"É um continente que o mundo ocidental sempre explorou, e isso dificulta muito a ação de desenvolvimento ou de poderes centrais que cuidam do povo africano. No caso de uma epidemia, é fundamental ter um Estado forte, um Estado com capacidade para cuidar do cidadão", explica.

De acordo com Pieri, isso faz com que muitos países do continente africano dependam de organizações supranacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que faz um levantamento da saúde global.
"Nesse sentido, em uma situação de pandemia, como a gente enfrentou [de COVID-19], a África acaba sendo considerada uma prioridade secundária pelas potências globais, que dominam a tecnologia, a produção de vacina."
No entanto, ele considera improvável que o surto da mpox na África se torne um risco à saúde global, mesmo que a doença se espalhe pelo mundo.
"Pode ser que se espalhe pelo mundo, mas não seja [um risco global]. Até porque também não é tão mortal quanto outros vírus, a exemplo da COVID-19."
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