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Não se acovardou: especialistas avaliam postura brasileira diante dos conflitos no Oriente Médio

© AP Photo / Emilio MorenattiMenino agita bandeira palestina enquanto manifestantes marcham durante protesto em apoio aos palestinos e pedem um cessar-fogo imediato em Gaza. Barcelona, Espanha, 20 de janeiro de 2024
Menino agita bandeira palestina enquanto manifestantes marcham durante protesto em apoio aos palestinos e pedem um cessar-fogo imediato em Gaza. Barcelona, Espanha, 20 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2024
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O presidente Lula vem criticando Israel fortemente desde o início do conflito aberto na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023. Mais importante do que seus discursos, no entanto, é a postura do Estado brasileiro perante a guerra unilateral. Em termos reais, como tem sido a postura do Brasil? Há mais do que a nação possa fazer?
"Não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças que não têm nada a ver com essa guerra, são vítimas", afirmou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de duas semanas depois da escalada do conflito durante um discurso no Conselho da Federação.
Alguns meses depois, em visita à Etiópia para participar da Cúpula da União Africana, o líder repetiu suas críticas. "Na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio", disse Lula. Na ocasião, o número de crianças mortas já somava 13 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Hoje já são mais de 40 mil mortos, sendo 16 mil crianças e 11 mil mulheres, informa a pasta.
A postura brasileira não se deu apenas no campo do discurso, lembra à reportagem Ualid Rabah, presidente da Federação Palestina do Brasil (Fepal). "Primeiro, quando presidiu o Conselho de Segurança da ONU, o Brasil apresentou várias minutas para uma resolução de cessar-fogo. Os Estados Unidos é que impediram."

"Se dependesse do Brasil, teríamos parado essa ação genocida de Israel e dos EUA com menos de 10% dos agora quase 53 mil palestinos exterminados, considerando os 10 mil desaparecidos sob os escombros. Quase 2,5% da demografia de Gaza."

Além disso, o governo brasileiro também ratificou um acordo de livre-comércio do Mercosul com a Palestina, "que estava parado há anos". Enquanto isso, diz Rabah, "há três acordos de cooperação com Israel assinados no governo passado, aprovados no Congresso Nacional" que não foram ratificados por Lula.
"São acordos nas áreas militar, de segurança e de tecnologia: três setores diretamente implicados na ocupação da Palestina e no genocídio perpetrado por Israel por meio de seu regime de apartheid."
Dirigível com a mensagem Pare a venda de armas para Israel durante uma manifestação de solidariedade aos palestinos em Madri. Espanha, 21 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 26.09.2024
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Rabah ainda sublinha dois momentos da agenda externa brasileira que indicam maior iniciativa contrária a Israel.
O primeiro é a paralisação da compra de 36 obuseiros ATMOS, da israelense Elbit Systems. A transação, avaliada em R$ 1 bilhão, teria sido pausada a pedido do assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim. O segundo é a retirada do embaixador brasileiro de Tel Aviv. Frederico Meyer, que ocupava o posto, foi retirado após ser humilhado publicamente pelo chanceler israelense, Israel Katz.
Com grande destaque, Ualid Rabah recorda que o governo brasileiro resgatou e acolheu os cidadãos brasileiro-palestinos presos em Gaza, o mesmo que está fazendo agora com os brasileiro-libaneses. "Sem lhes cobrar nada. Isso poucos países fizeram."

"A imagem do Brasil já está consolidada como a de um dos primeiros países a dizerem não ao genocídio. O Brasil o fez antes que a maioria dos Estados árabes, os de maioria islâmica e os europeus — estes ainda acovardados em sua maioria."

O B de BRICS

Em entrevista à Sputnik Brasil, Bruno Kocher, professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante do Laboratório de Estudos sobre a Política Externa Brasileira (LEPEB) da mesma universidade, avalia que o posicionamento de Lula está de acordo com a estratégia diplomática adotada pelo Brasil "de corte humanista e de combate às injustiças sociais".
© Arquivo / Ricardo StuckertEncontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, durante viagem do brasileiro à Palestina, em 16 de março de 2010
Encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, durante viagem do brasileiro à Palestina. 16 de março de 2010, Belém - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2024
Encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, durante viagem do brasileiro à Palestina, em 16 de março de 2010
No entanto, por motivos externos e internos, a fala do presidente acaba não tendo peso suficiente para exercer uma mudança significativa nas ações israelenses.
A começar, diz Kocher, a política doméstica brasileira viu o crescimento dos setores conservadores, fazendo com que o governo da República tenha que fazer arranjos políticos mais onerosos em nome da governabilidade.
Em paralelo a isso, o Oriente Médio é uma região distante e onde o Brasil "não possui interesses objetivos a serem defendidos — apenas humanísticos e de valorização da multipolaridade e da democracia nas relações internacionais".
Por outro lado, a condição periférica e dependente da economia brasileira, que acaba também por fragilizar seu papel de propositor de reformas globais, é também o que dá ao Brasil poder para "vocalizar aspirações de vastos setores do chamado Sul Global".
Mais do que isso, assim como a Índia ascendeu internacionalmente e utilizou seu peso geopolítico da época para liderar, durante a Guerra Fria, a criação do Terceiro Mundo — grupo de países não aliados nem aos Estados Unidos nem à União Soviética —, o Brasil também pode usar seu capital atual para "construir novos mecanismos de negociação internacional".

"Afinal, o acrônimo BRICS inicia-se com a letra B, de Brasil."

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