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Qual o limite do lobby israelense nos EUA para impunidade de ataques no Oriente Médio?

© AP Photo / Hassan AmmarLibaneses usam escavadeiras para remover escombros no local de um ataque israelense perpetrado no sul de Beirute, no Líbano, em 23 de setembro de 2024
Libaneses usam escavadeiras para remover escombros no local de um ataque israelense perpetrado no sul de Beirute, no Líbano, em 23 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 16.10.2024
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Com um rastro de cerca de 50 mil mortes em pouco mais de um ano somente na Faixa de Gaza e no Líbano, os ataques israelenses em países do Oriente Médio não cessam. Nem o aumento da pressão de organizações internacionais e potências ocidentais tem surtido efeito.
Somente nesta quarta-feira (16), o Exército de Israel bombardeou uma cidade ao sul do Líbano 11 vezes em minutos, matando dezenas de pessoas, inclusive o prefeito. Além disso, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem feito ameaças constantes de ataques ao Irã.
Os ataques israelenses já deixaram mais de 43 mil mortos na Faixa de Gaza, entre eles 17 mil menores de idade, em pouco mais de um ano de ofensiva militar. Segundo o governo libanês, o saldo de mortes no país causadas por Israel em 2024 passa de 3 mil.
O apoio "incondicional" dos Estados Unidos às investidas israelenses no Oriente Médio, inclusive barrando reações mais fortes dentro da Organização das Nações Unidas (ONU), tem entre suas justificativas o forte lobby israelense que existe no país.
A Sputnik Brasil conversou com estudiosos em Oriente Médio e EUA para esmiuçar essa influência sionista no governo estadunidense e avaliar seus efeitos no contexto atual.
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Coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM), da Universidade Federal Fluminense (UFF), o professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto ressaltou que as instituições que exercem influência na política dos EUA para defender interesses de Israel são diversas e diluídas:

"Trata-se de uma espécie de nebulosa política, em que você vai ter o núcleo duro, em que você vai ter, aí sim, as instituições voltadas para avançar os interesses de Israel, e nas margens você vai ter pessoas na imprensa, na indústria social, cinematográfica, que procuram apresentar visões positivas de Israel", explicou.

Regularizada nos Estados Unidos desde 1946, a profissão de lobista, que exerce pressão política para defender interesses de determinados grupos, empresas e causas, mobiliza cerca de 11 mil pessoas no país, explicou Andrew Traumann, professor de relações internacionais no Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e coordenador da pós-graduação em geopolítica da Ásia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
O especialista destacou que um dos principais lobbies sionistas no país é o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos, mais conhecido como AIPAC, em inglês. Historicamente, frisou, os presidentes norte-americanos têm sido bastante receptivos a esse lobby tanto financeira quanto politicamente.

"Alguém que faça um comentário mais crítico a Israel já é tachado automaticamente de antissemita e basicamente tem sua carreira política destruída. Então o medo de ser chamado de antissemita e suas implicações faz com que muita gente acabe se calando", comentou ele.

James Onnig, analista internacional e professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp), destacou que vivem nos EUA aproximadamente 6,5 milhões de judeus.
Onnig lembrou que o AIPAC foi criado depois que o governo dos EUA cortou a ajuda a Israel nos anos 1950 em razão de um ataque na Jordânia que matou dezenas de inocentes em uma vila. A entidade buscou então reverter a má impressão causada na opinião pública.
Atualmente a entidade é formada por advogados e especialistas em várias áreas, com orçamento anual de milhões de dólares para esse fim:

"Eles sabem influenciar os deputados, prometem votos, prometem apoio financeiro, apoio institucional, tudo que for necessário para transformar esse lobby em realidade."

Onnig citou ainda a organização Cristãos Unidos por Israel (CUFI, na sigla em inglês), que atua a favor do povo judeu baseando-se nas escrituras do Antigo Testamento que abordam a volta dos judeus à terra original.
Professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman pontuou que o lobby tem funcionado nas últimas décadas para a construção de uma unanimidade entre os partidos Democrata e Republicano em torno dos objetivos israelenses de aprofundar a colonização dos territórios palestinos e enfrentar os seus inimigos na região, como o Irã.
Entretanto, há limitações para essa influência, defendeu ele:
"A política externa dos Estados Unidos é orientada por razões próprias, como energia, acesso a outros recursos naturais e uma hegemonia no Oriente Médio, que vai para além do que almeja o lobby israelense".
O comportamento de Benjamin Netanyahu está sendo um "turning point nessa história", frisou o professor da PUCPR:
"Está sendo realmente um momento no qual temos uma divisão, digamos assim, desse apoio a Israel, como há muito tempo nós não víamos nos Estados Unidos", disse ele, ao destacar que o apoio a Israel tem diminuído especialmente entre os mais jovens, pró-Palestina, nas universidades dos EUA.
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Eleições presidenciais norte-americanas

Os entrevistados são unânimes ao afirmar que o resultado das eleições para presidente dos EUA em novembro não deve alterar o atual apoio às ofensivas israelenses, uma vez que tanto a candidata Kamala Harris como Donald Trump já declararam não se opor aos interesses de Israel.

"A força do lobby pró-israelense é enorme, tanto que a gente vê na eleição presidencial agora os dois candidatos, tanto a Kamala Harris quanto o Donald Trump, cortejando o lobby pró-Israel, procurando mostrar qual seria o maior defensor dos interesses de Israel, o que é bastante interessante. O presidente dos Estados Unidos se compromete a defender o futuro, os interesses de outro país", disse o professor da UFF.

Os especialistas ouvidos também consideram que se Trump vencer, o apoio a Israel deve aumentar:

"Se Trump ganhar a eleição, teoricamente, ele é o candidato que menos vai mudar esse quadro, porque ele tem uma fidelidade canina a Israel. Os deputados do grupo trumpista são, todos eles, muito ligados ao lobby israelense", destacou Onnig.

Entretanto, Traumann defendeu que apenas a interrupção de venda de armas para Israel pode deter o apetite bélico de Netanyahu.

"Regionalmente, Israel aproveita este momento político de um certo vácuo ainda antes das eleições americanas para tentar limpar a região, segundo a visão israelense, das organizações que eles julgam como terroristas, que são basicamente o Hamas, ligado aos sunitas, e o Hezbollah, ligado aos xiitas", salientou Onnig.

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Escalada de ataques pode acarretar em guerra generalizada

A expansão da guerra israelense para dentro do Líbano aumenta a possibilidade de uma guerra regional, de acordo com os entrevistados.
Traumman chamou a atenção para o fato de que Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar já solicitaram aos EUA que detenham as investidas de Netanyahu contra o Irã.
A situação vivenciada na região não é inédita, ponderou Pinto, mas o aumento da capacidade bélica, tanto de Israel como dos outros países sinaliza um patamar mais perigoso que em conflitos anteriores:

"Você tem uma deterioração absurda da situação das populações civis, um genocídio sendo cometido em Gaza, crise humanitária absurda no Líbano, então a situação é muito mais letal e perigosa do que já foi anteriormente, principalmente para as populações civis que estão sofrendo a violência desenfreada militar por parte de Israel", opinou o especialista.

Pinto, no entanto, considerou pouco provável uma guerra direta entre Irã e Israel devido a uma suposta superioridade militar israelense, que possuiria bombas atômicas.
Já para o especialista da Facamp, o avanço sobre a Síria por Israel, que é uma área de influência russo-iraniana, e sobre o Irã pode ter consequências devastadoras:
"Infelizmente, estamos caminhando para uma guerra maior, se não for feito nada nas próximas semanas".
Para Onnig, os conflitos entre Israel e países da região, que ocorrem desde 1949, culminaram na atual tragédia graças à incorporação de vários territórios por Israel com apoio e aval da comunidade ocidental.

"Na segunda metade do século XX, o mundo virou as costas aos palestinos. E agora estamos assistindo toda essa situação fruto desse descaso [...] Acho que é um repeteco com uma intensidade um pouco mais grave do ponto de vista da inação. Do ponto de vista da paralisia do sistema ONU e das tantas dificuldades que nós teremos pela frente nos próximos anos", concluiu ele.

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