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O curioso caso da Moldávia, em que a diáspora define presidente do país

© Sputnik / Miroslav Rotar / Acessar o banco de imagensChisinau, capital da Moldávia
Chisinau, capital da Moldávia - Sputnik Brasil, 1920, 13.11.2024
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Reeleita no último dia 3, a atual presidente da Moldávia, Maia Sandu (do Partido da Ação e Solidariedade, PAS), obteve 54,95% dos votos válidos, enquanto seu opositor, o ex-procurador-geral Aleksandr Stoyanoglo (Partido dos Socialistas), ficou com 45,05%.
Entretanto, dentro do país Stoyanoglo obteve 51,19% do apoio do eleitorado, frente 48,81% de Sandu. Foi no exterior que a presidente ganhou com larga vantagem, 82% dos votos, frente a 18% do principal rival nas urnas.
A situação não foi inédita e se repetiu nas eleições passadas, de acordo com especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, privilegiando, no contexto atual, a incumbente, que defende a adesão da Moldávia à União Europeia (UE).
Mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e bacharel em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pedro Martins ressaltou que enquanto na Moldávia vivem 3 milhões de habitantes, no exterior a previsão é que haja mais de 1 milhão de moldavos.

"A diáspora é representativa, porque você tem 1,2 milhão de moldávios [morando] fora. A maior parte deles está na Romênia, na Ucrânia e na Itália", lembrou. "Quase meia Moldávia fora da Moldávia. Então [residentes do exterior] sempre vão decidir uma eleição", salientou ele.

Bandeiras nacionais da Moldávia e da União Europeia em uma coletiva em Chisinau da presidente moldava Maia Sandu sobre a concessão à Moldávia do status de país candidato ao ingresso na União Europeia  - Sputnik Brasil, 1920, 20.10.2024
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Deputado compara integração europeia da Moldávia à colonização e defende voto contrário em referendo
O pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e mestrando em relações internacionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Paulo Victor Fernandes comentou que essa característica cria relativa polarização dentro de um contexto interno separatista pró-russo, não só na região da Transnístria como também na região da Gagaúzia, ao sul do país, perto de Odessa, na Ucrânia.

"Esse cenário interno é um fenômeno que acaba sendo polarizador entre os que preferem estar a favor da Rússia ou a favor de uma adesão à comunidade europeia, de modo geral. Ainda acho que é interessante também destacar, nessa questão de ser um país polarizado ou não, que tem uma terceira vertente que eu vejo que é pouco comentada, que defende a reintegração com a Romênia, tanto partindo da Moldávia quanto dos próprios romenos."

O analista internacional frisou que a Romênia é o principal parceiro comercial da Moldávia, e que no país existe um movimento de incorporação da Moldávia, devido às proximidades históricas e étnicas.

UE: aderir ou não aderir, eis a questão

Sandu se comprometeu em conseguir a adesão do país à UE até 2030. Entretanto Fernandes apontou que, com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Europa, atrás da Ucrânia, a Moldávia tem uma série de desafios, sobretudo jurídicos e sociais, para cumprir os pré-requisitos de ingresso ao bloco.

"O processo de adesão à União Europeia é complexo: precisa de uma robustez jurídica; de um índice de democracia forte (de acordo com o que a União Europeia entende); instituições ativas, sem nenhum tipo de escândalo muito grotesco, sem imbróglios jurídicos internacionais com vizinhos, o que não é o caso da Moldávia", comentou.

Ele acrescentou:

"Você tem que fazer muitas reformas que não são necessariamente econômicas. Por exemplo, reforma de algumas instâncias judiciárias, você tem que harmonizar muitas leis com a União Europeia, fazer todo um processo de adaptação que não vai ser tão simples", disse.

Além disso, o analista internacional lembrou que o processo de adesão à União Europeia tem sido contestado pelos países que pleiteiam o ingresso desde pelo menos 10 ou 15 anos, como é o caso da Bósnia, da Sérvia e da Macedônia do Norte.
Além disso, o referendo para saber a posição popular sobre a adesão teve maioria a favor, mas com margem muito apertada. Martins chamou a atenção para outras complexidades que regem as escolhas da população da Moldávia e desafiam conclusões mais simplistas em relação à entrada do país na UE.
Ele deu como exemplo a Transnístria, que se tornou independente de Chisinau em 1992 e cujos eleitores votaram majoritariamente a favor da entrada da Moldávia no bloco europeu em referendo realizado na mesma época das eleições.

"E as províncias que fazem fronteira com a Romênia e, portanto, têm contato direto com a União Europeia, no raciocínio simplista votariam 'sim' pela União Europeia, e votaram 'não'. Você teve um raciocínio cruzado em que um lugar onde você achava que o 'não' iria ganhar, perdeu, e um lugar onde você achava que o raciocínio iria ganhar, na verdade o 'não' ganhou […]", destacou ele.

Segundo ele, isso ocorre porque tradicionalmente os cidadãos descontam sua frustração com um político tido como pró-União Europeia no bloco.
Nesse contexto, ponderou Fernandes, a agenda atual da Moldávia visa equilibrar o pêndulo entre Rússia e União Europeia, sobretudo porque a dependência do gás russo é estrutural para a Moldávia, além de outros produtos.

"Existem diversos gasodutos ali no seu entorno, e um gasoduto que passa pela Moldávia. Lembrando que a Moldávia é um país sem saída para o mar, então isso acaba deteriorando ainda mais a sua posição em relação a essa dependência."

A entrada gradual de investimento chinês no país e a adesão da Moldávia à Iniciativa Cinturão e Rota, lançada em 2013, apontam para outras possibilidades, apostou Fernandes, para incrementar a economia do país, que é baseada principalmente em cereais, indústria têxtil e pecuária leiteira.

"O PIB da Moldávia é de US$ 18 bilhões [cerca de R$ 100 bilhões]; é muito pequeno. Você deve ter cidades brasileiras com um PIB maior", acrescentou Martins. "Acredito até que a China talvez seja um pêndulo interessante nesse jogo geopolítico para beneficiar um pouco a questão da Moldávia."

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