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O curioso caso da Moldávia, em que a diáspora define presidente do país
O curioso caso da Moldávia, em que a diáspora define presidente do país
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Reeleita no último dia 3, a atual presidente da Moldávia, Maia Sandu (do Partido da Ação e Solidariedade, PAS), obteve 54,95% dos votos válidos, enquanto seu... 13.11.2024, Sputnik Brasil
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Entretanto, dentro do país Stoyanoglo obteve 51,19% do apoio do eleitorado, frente 48,81% de Sandu. Foi no exterior que a presidente ganhou com larga vantagem, 82% dos votos, frente a 18% do principal rival nas urnas.A situação não foi inédita e se repetiu nas eleições passadas, de acordo com especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, privilegiando, no contexto atual, a incumbente, que defende a adesão da Moldávia à União Europeia (UE).Mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e bacharel em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pedro Martins ressaltou que enquanto na Moldávia vivem 3 milhões de habitantes, no exterior a previsão é que haja mais de 1 milhão de moldavos.O pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e mestrando em relações internacionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Paulo Victor Fernandes comentou que essa característica cria relativa polarização dentro de um contexto interno separatista pró-russo, não só na região da Transnístria como também na região da Gagaúzia, ao sul do país, perto de Odessa, na Ucrânia.O analista internacional frisou que a Romênia é o principal parceiro comercial da Moldávia, e que no país existe um movimento de incorporação da Moldávia, devido às proximidades históricas e étnicas.UE: aderir ou não aderir, eis a questãoSandu se comprometeu em conseguir a adesão do país à UE até 2030. Entretanto Fernandes apontou que, com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Europa, atrás da Ucrânia, a Moldávia tem uma série de desafios, sobretudo jurídicos e sociais, para cumprir os pré-requisitos de ingresso ao bloco.Ele acrescentou:Além disso, o analista internacional lembrou que o processo de adesão à União Europeia tem sido contestado pelos países que pleiteiam o ingresso desde pelo menos 10 ou 15 anos, como é o caso da Bósnia, da Sérvia e da Macedônia do Norte.Além disso, o referendo para saber a posição popular sobre a adesão teve maioria a favor, mas com margem muito apertada. Martins chamou a atenção para outras complexidades que regem as escolhas da população da Moldávia e desafiam conclusões mais simplistas em relação à entrada do país na UE.Ele deu como exemplo a Transnístria, que se tornou independente de Chisinau em 1992 e cujos eleitores votaram majoritariamente a favor da entrada da Moldávia no bloco europeu em referendo realizado na mesma época das eleições.Segundo ele, isso ocorre porque tradicionalmente os cidadãos descontam sua frustração com um político tido como pró-União Europeia no bloco.Nesse contexto, ponderou Fernandes, a agenda atual da Moldávia visa equilibrar o pêndulo entre Rússia e União Europeia, sobretudo porque a dependência do gás russo é estrutural para a Moldávia, além de outros produtos.A entrada gradual de investimento chinês no país e a adesão da Moldávia à Iniciativa Cinturão e Rota, lançada em 2013, apontam para outras possibilidades, apostou Fernandes, para incrementar a economia do país, que é baseada principalmente em cereais, indústria têxtil e pecuária leiteira.
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O curioso caso da Moldávia, em que a diáspora define presidente do país
14:00 13.11.2024 (atualizado: 19:59 13.11.2024) Especiais
Reeleita no último dia 3, a atual presidente da Moldávia, Maia Sandu (do Partido da Ação e Solidariedade, PAS), obteve 54,95% dos votos válidos, enquanto seu opositor, o ex-procurador-geral Aleksandr Stoyanoglo (Partido dos Socialistas), ficou com 45,05%.
Entretanto, dentro do país Stoyanoglo obteve 51,19% do apoio do eleitorado, frente 48,81% de Sandu.
Foi no exterior que a presidente ganhou com larga vantagem, 82% dos votos, frente a 18% do principal rival nas urnas.
A situação não foi inédita e se repetiu nas eleições passadas, de acordo com especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, privilegiando, no contexto atual, a incumbente, que defende a adesão da Moldávia à União Europeia (UE).
Mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e bacharel em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pedro Martins ressaltou que enquanto na Moldávia vivem 3 milhões de habitantes, no exterior a previsão é que haja mais de 1 milhão de moldavos.
"A diáspora é representativa, porque você tem 1,2 milhão de moldávios [morando] fora. A maior parte deles está na Romênia, na Ucrânia e na Itália", lembrou. "Quase meia Moldávia fora da Moldávia. Então [residentes do exterior] sempre vão decidir uma eleição", salientou ele.
O pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e mestrando em relações internacionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Paulo Victor Fernandes comentou que essa característica cria relativa polarização dentro de um
contexto interno separatista pró-russo, não só na
região da Transnístria como também na
região da Gagaúzia, ao sul do país, perto de Odessa, na Ucrânia.
"Esse cenário interno é um fenômeno que acaba sendo polarizador entre os que preferem estar a favor da Rússia ou a favor de uma adesão à comunidade europeia, de modo geral. Ainda acho que é interessante também destacar, nessa questão de ser um país polarizado ou não, que tem uma terceira vertente que eu vejo que é pouco comentada, que defende a reintegração com a Romênia, tanto partindo da Moldávia quanto dos próprios romenos."
O analista internacional frisou que a Romênia é o principal parceiro comercial da Moldávia, e que no país existe um movimento de incorporação da Moldávia, devido às proximidades históricas e étnicas.
UE: aderir ou não aderir, eis a questão
Sandu se comprometeu em conseguir a
adesão do país à UE até 2030. Entretanto Fernandes apontou que, com o
segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Europa, atrás da Ucrânia, a
Moldávia tem uma série de desafios, sobretudo jurídicos e sociais, para cumprir os pré-requisitos de ingresso ao bloco.
"O processo de adesão à União Europeia é complexo: precisa de uma robustez jurídica; de um índice de democracia forte (de acordo com o que a União Europeia entende); instituições ativas, sem nenhum tipo de escândalo muito grotesco, sem imbróglios jurídicos internacionais com vizinhos, o que não é o caso da Moldávia", comentou.
"Você tem que fazer muitas reformas que não são necessariamente econômicas. Por exemplo, reforma de algumas instâncias judiciárias, você tem que harmonizar muitas leis com a União Europeia, fazer todo um processo de adaptação que não vai ser tão simples", disse.
Além disso, o analista internacional lembrou que o processo de adesão à União Europeia tem sido contestado pelos países que pleiteiam o ingresso desde pelo menos 10 ou 15 anos, como é o caso da Bósnia, da Sérvia e da Macedônia do Norte.
Além disso, o referendo para saber a posição popular sobre a adesão teve maioria a favor, mas com margem muito apertada. Martins chamou a atenção para outras complexidades que regem as escolhas da população da Moldávia e desafiam conclusões mais simplistas em relação à entrada do país na UE.
Ele deu como exemplo a Transnístria, que
se tornou independente de Chisinau em 1992 e cujos eleitores votaram majoritariamente a favor da entrada da Moldávia no bloco europeu em referendo realizado na mesma época das eleições.
"E as províncias que fazem fronteira com a Romênia e, portanto, têm contato direto com a União Europeia, no raciocínio simplista votariam 'sim' pela União Europeia, e votaram 'não'. Você teve um raciocínio cruzado em que um lugar onde você achava que o 'não' iria ganhar, perdeu, e um lugar onde você achava que o raciocínio iria ganhar, na verdade o 'não' ganhou […]", destacou ele.
Segundo ele, isso ocorre porque tradicionalmente os cidadãos descontam sua frustração com um político tido como pró-União Europeia no bloco.
Nesse contexto, ponderou Fernandes, a
agenda atual da Moldávia visa equilibrar o pêndulo entre Rússia e União Europeia, sobretudo porque a
dependência do gás russo é estrutural para a Moldávia, além de outros produtos.
"Existem diversos gasodutos ali no seu entorno, e um gasoduto que passa pela Moldávia. Lembrando que a Moldávia é um país sem saída para o mar, então isso acaba deteriorando ainda mais a sua posição em relação a essa dependência."
A entrada gradual de investimento chinês no país e a adesão da Moldávia à Iniciativa Cinturão e Rota, lançada em 2013, apontam para outras possibilidades, apostou Fernandes, para incrementar a economia do país, que é baseada principalmente em cereais, indústria têxtil e pecuária leiteira.
"O PIB da Moldávia é de US$ 18 bilhões [cerca de R$ 100 bilhões]; é muito pequeno. Você deve ter cidades brasileiras com um PIB maior", acrescentou Martins. "Acredito até que a China talvez seja um pêndulo interessante nesse jogo geopolítico para beneficiar um pouco a questão da Moldávia."
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