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Brasil cria legado inédito no G20 com taxação dos super-ricos e combate à fome, apontam analistas
Brasil cria legado inédito no G20 com taxação dos super-ricos e combate à fome, apontam analistas
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A Cúpula do G20 no Rio de Janeiro chegou ao fim nesta terça-feira (19), no Rio de Janeiro, com documento final e iniciativas brasileiras aprovadas por... 19.11.2024, Sputnik Brasil
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As 19 nações, ao lado da União Europeia e da União Africana, toparam integrar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, concordaram que é necessária uma reforma da governança global multilateral, o combate à emergência climática com o desenvolvimento sustentável e até a taxação dos bilionários.Apesar do sucesso da cúpula em alcançar consenso, quais os efeitos práticos para o mundo desses compromissos e princípios acordados? Afinal, é possível fortalecer o multilateralismo no grupo ou o contexto atual exige alternativas?Para debater essas questões e fazer um balanço do encontro, a Sputnik Brasil ouviu estudiosos a respeito.O professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e Fundação Getulio Vargas (FGV) Vinícius Rodrigues Vieira argumentou que o Brasil teve mais êxito que seus antecessores, Indonésia e Índia, ao lograr um documento final com compromissos e metas firmados a nível ministerial. A menção inédita à taxação dos super-ricos foi outro diferencial dessa cúpula, ressaltou a pesquisadora Beatriz dos Santos Abreu, mestre em relações internacionais pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila):O formato do G20 Social promovido pelo Brasil foi assinalado como iniciativa inovadora pelos pesquisadores."Muito se pode aprender a partir dos movimentos sociais camponeses no Brasil, dos movimentos indígenas, porque uma vez que a gente está pensando um desenvolvimento sustentável, a gente tem que pensar a nossa relação com o meio ambiente", opinou Abreu.Para o pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) Késsio Lemos, o documento oficial aponta uma tentativa de reafirmar o multilateralismo em um contexto de crescente fragmentação geopolítica. Os entrevistados também ressaltaram o êxito brasileiro em lograr que o presidente da Argentina, Javier Milei, aderisse às propostas da cúpula, que ele havia criticado antes e durante o encontro, como promoção da igualdade de gênero e taxação das grandes fortunas.Entretanto, a proposta de pautas abrangentes, como desenvolvimento sustentável e cooperação global, pode ser ignorada pelo próximo líder dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou o pesquisador.Já Vieira ponderou que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza deve sobreviver, "mesmo a solavancos que virão a ser provocados por Donald Trump na política internacional".A aprovação unânime da declaração final deve ser interpretada com cautela, acrescentou ele, devido ao histórico de cúpulas anteriores, cujos acordos multilaterais ainda enfrentam barreiras significativas, devido à divergência de interesses e limitação de recursos.Bastidores do G20Enquanto os documentos finais da cúpula costumam ser genéricos e vagos, os encontros bilaterais geralmente produzem resultados práticos, sinalizaram os analistas.Entre os acordos bilaterais, Vieira destacou o memorando assinado entre Brasil e Argentina para ampliar a importação de gás natural do gasoduto de Vaca Muerta.Os pesquisadores ouvidos pela Sputnik Brasil avaliaram que é, sim, possível tornar o G20 um espaço mais multipolar, que contribua para instâncias mais democráticas e mais participativas dos atores no sistema internacional, no médio e longo prazo."Na falta de algo melhor", comentou Vieira, 'o G20 é a plataforma possível para fortalecer o multilateralismo'.Abreu defendeu que o diálogo e a diplomacia nesses espaços são fundamentais para diminuir o acirramento de disputas entre as grandes potências, principalmente pela disputa do petróleo, no processo atual que chamou de transição hegemônica.
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economia, vinícius rodrigues vieira, rio de janeiro, g20, onu, faap, estados unidos, donald trump, francisco lemos, rússia, argentina, brasil, exclusiva
Brasil cria legado inédito no G20 com taxação dos super-ricos e combate à fome, apontam analistas
19:42 19.11.2024 (atualizado: 21:16 19.11.2024) Especiais
A Cúpula do G20 no Rio de Janeiro chegou ao fim nesta terça-feira (19), no Rio de Janeiro, com documento final e iniciativas brasileiras aprovadas por unanimidade pelas maiores economias mundiais.
As 19 nações, ao lado da União Europeia e da União Africana, toparam integrar a
Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, concordaram que é necessária uma reforma da governança global multilateral, o combate à emergência climática com o desenvolvimento sustentável e até a
taxação dos bilionários.
Apesar do sucesso da cúpula em alcançar consenso, quais os efeitos práticos para o mundo desses compromissos e princípios acordados? Afinal, é possível fortalecer o multilateralismo no grupo ou o contexto atual exige alternativas?
Para debater essas questões e fazer um balanço do encontro, a Sputnik Brasil ouviu estudiosos a respeito.
O professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e Fundação Getulio Vargas (FGV) Vinícius Rodrigues Vieira argumentou que o Brasil teve mais êxito que seus antecessores, Indonésia e Índia, ao lograr um documento final com compromissos e metas firmados a nível ministerial.
A menção inédita à taxação dos super-ricos foi outro diferencial dessa cúpula, ressaltou a pesquisadora Beatriz dos Santos Abreu, mestre em relações internacionais pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila):
"Nunca antes, em nenhum encontro desde 2008, essas pautas haviam sido levantadas com tanta visibilidade. E a proposta de taxação dos ultrarricos e um possível reinvestimento dessa tal taxação em projetos que possivelmente diminuam cenários de fome no mundo é uma proposta enorme", opinou.
O formato do G20 Social promovido pelo Brasil foi assinalado como iniciativa inovadora pelos pesquisadores.
"Traz a sociedade civil, e ela vinha sendo apartada dos mecanismos de governança global, pelo menos desde a crise de 2008. Nos anos 2000 havia toda uma presença da sociedade civil na OMC [Organização Mundial do Comércio], na ONU [Organização das Nações Unidas], mas isso foi caindo ao longo do tempo, então também se for mantido para os próximos encontros do G20, é um legado interessante", comentou Vieira.
"Muito se pode aprender a partir dos movimentos sociais camponeses no Brasil, dos movimentos indígenas, porque uma vez que a gente está pensando um desenvolvimento sustentável, a gente tem que pensar a nossa relação com o meio ambiente", opinou Abreu.
Para o pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE)
Késsio Lemos, o documento oficial
aponta uma tentativa de reafirmar o multilateralismo em um contexto de crescente fragmentação geopolítica.
Os entrevistados também ressaltaram o êxito brasileiro em lograr que o
presidente da Argentina, Javier Milei, aderisse às propostas da cúpula, que ele havia criticado antes e durante o encontro, como promoção da igualdade de gênero e taxação das grandes fortunas.
"O encontro pré-cúpula entre Javier Milei e Donald Trump, por exemplo, levantou preocupações de que a Argentina não assinasse o documento final, o que seria um revés para uma cúpula que depende de consenso. A condução brasileira evitou esse cenário e garantiu o sucesso do evento", disse Lemos.
Entretanto, a proposta de pautas abrangentes, como desenvolvimento sustentável e cooperação global, pode ser ignorada pelo próximo líder dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou o pesquisador.
"Um maior desengajamento por parte dos EUA pode acelerar a fragmentação da ordem global atual, privilegiando agendas bilaterais e regionais em detrimento de fóruns globais mais amplos, como o próprio G20."
Já Vieira ponderou que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza deve sobreviver, "mesmo a solavancos que virão a ser provocados por Donald Trump na política internacional".
"Embora os três eixos apresentados pelo país — desigualdade, fome e meio ambiente — sejam pouco controversos, o maior mérito foi a capacidade de neutralizar o contraditório", destacou Lemos.
A
aprovação unânime da declaração final deve ser
interpretada com cautela, acrescentou ele, devido ao histórico de cúpulas anteriores, cujos acordos multilaterais ainda enfrentam
barreiras significativas, devido à divergência de interesses e limitação de recursos.
Enquanto os documentos finais da cúpula costumam ser genéricos e vagos, os encontros bilaterais geralmente produzem resultados práticos, sinalizaram os analistas.
"A inauguração do megaporto chinês no Peru e a visita de Xi Jinping [presidente da China] a Brasília, por exemplo, ilustram o fortalecimento da presença da China na América do Sul. Outro ponto de destaque foi a liberação dos EUA para que a Ucrânia use mísseis de longo alcance contra a Rússia, evidenciando como as grandes potências aproveitam a visibilidade de encontros como o G20 para projetar mensagens geopolíticas estratégicas", disse Lemos.
Entre os acordos bilaterais, Vieira destacou o memorando assinado entre Brasil e Argentina para ampliar a importação de gás natural do
gasoduto de Vaca Muerta.
"Realmente, o G20 acaba servindo de oportunidade para reforçar esse relacionamento bilateral. Mas o interesse é justamente talvez por conta desse relacionamento bilateral, material, econômico, que os países-membros do grupo continuam a fazer interações entre si."
Os pesquisadores ouvidos pela Sputnik Brasil avaliaram que é, sim, possível tornar o G20 um espaço mais multipolar, que contribua para instâncias mais democráticas e mais participativas dos atores no sistema internacional, no médio e longo prazo.
"Na falta de algo melhor", comentou Vieira, 'o G20 é a plataforma possível para fortalecer o multilateralismo'.
"O G20 é um multilateralismo possível, com algum grau de flexibilidade, reunindo as principais economias do mundo em uma complementação aos mecanismos que estão obsoletos, como a própria ONU, o Banco Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional]", opinou ele.
Abreu defendeu que o diálogo e a diplomacia nesses espaços são fundamentais para diminuir o acirramento de disputas entre as grandes potências, principalmente pela disputa do petróleo, no processo atual que chamou de transição hegemônica.
"Quando a gente vai observar as guerras no Oriente Médio, elas têm esse viés de disputa por influência política regional, justamente para facilitar a concessão de petróleo. E esta é a tendência nos próximos anos: que se acirre a disputa por esse recurso energético não renovável entre as grandes potências em muitas regiões do mundo."
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