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'Excludente' em sua essência, G20 está cada vez mais 'esvaziado', opinam especialistas

© Foto / Fernando Frazão/Agência BrasilPreparativos para os encontros do G20 Social e o Festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, na Praça Mauá e armazéns do Boulevard Olímpico, na Zona Portuária. Novembro de 2024.
Preparativos para os encontros do G20 Social e o Festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, na Praça Mauá e armazéns do Boulevard Olímpico, na Zona Portuária. Novembro de 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 15.11.2024
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A 19ª cúpula dos líderes do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, começa oficialmente na próxima segunda-feira (18), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Ao todo, 55 delegações de 40 países e 15 organismos internacionais confirmaram presença, além de dezenas de chefes de Estado, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o da China, Xi Jinping.
Para abordar as principais pautas do evento, o episódio do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, desta sexta-feira (15) conversou com o professor de história e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul (NIEAAS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eden Pereira; e com o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Tomaz Paoliello.
Sob presidência do Brasil, o G20 priorizou o combate à fome, à desigualdade e à pobreza, com a Aliança Global contra a Fome, o enfrentamento às mudanças climáticas e políticas de sustentabilidade e para uma transição energética justa; e uma nova governança global, para que países emergentes tenham mais representatividade em órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU).
Diante de um cenário de conflagrações e de polarização global que divide e enfraquece vários fóruns multilaterais, os conflitos contemporâneos no Oriente Médio, na Europa e na África devem tomar boa parte da agenda, previu Paoliello:

"A principal discussão que os países ocidentais vão tentar trazer será a das guerras, que é uma questão importante, evidentemente, mas a partir de uma tentativa de trazer soluções unilaterais para os conflitos, sobretudo o da Ucrânia, uma questão extremamente complexa, enquanto os outros países do mundo veem outros problemas como extremamente importantes, como é o caso da fome, das mudanças climáticas", comentou o professor da PUC-SP.

Para ele, a posição do Brasil no G20 está bastante vulnerável e isolada, apesar de sediar a cúpula do grupo.

"A posição do Brasil hoje no G20 é muito complicada, até porque recentemente adotamos algumas posições, sobretudo no âmbito do BRICS, que foram extremamente danosas para a nossa imagem externa, sobretudo na inauguração do veto dentro do BRICS, que eu achei que foi muito negativo com relação à Venezuela", opinou ele.

O professor de história salientou que a maioria dos líderes de países do Ocidente que estarão na cúpula do G20 do Rio deixará o posto, e que sua vinda tem como principal objetivo pautar determinadas discussões de interesses pessoais e pontuais.
A vitória de Donald Trump na eleição norte-americana também mudou o tabuleiro da geopolítica, sobretudo em relação às decisões acordadas pelo G20 neste ano, segundo Paoliello:
"Trump, pelas próprias posições dele, coloca muito menos ênfase nesse mecanismo de governança global. Pelo contrário, é um crítico das esferas de governança global. Ele opta e preferencialmente trabalha nas relações bilaterais", ponderou.
Ele citou questões ambientais, a governança climática e a regulação de inteligências artificiais como exemplos de pautas às quais Trump se opõe, entre outras relacionadas à regulação de trabalho e direitos, propostas na atual gestão do Brasil.
Corroborando com o raciocínio do colega da PUC-SP, Pereira considerou a presença de Biden no G20 "muito figurativa":

"Por mais que os Estados Unidos, ao longo da administração Biden, tenham tentado reafirmar esse apoio às instituições multilaterais, eles também foram esvaziando isso e tentando tornar o G20 algo mais próximo do G7, o que não era o objetivo dos países que fazem parte do G20, como é o caso do Brasil, como é o caso da Indonésia", opinou. "Considerando também a nova presidência do Trump, que vai de novo retirar os Estados Unidos desses órgãos internacionais, coloca, na verdade, a situação do atual G20 a partir de um esvaziamento muito grande."

Segundo ele, as pautas principais do G20 de 2024 colocam o Sul Global, dos países em desenvolvimento, em posição mais oposta aos países desenvolvidos.

"Ficou a percepção de que o G20 vai ser um marco, digamos, desse final de ciclo do Biden, e potencialmente já se preparando ou já criando as condições para que esses países estejam organizados para uma transição para o Trump. Então eu acredito que a gente vai ver um G20 esvaziado do ponto de vista dos resultados, mas não esvaziado do ponto de vista das presenças e da marcação de posições", avaliou.

Já a presença do mandatário chinês equilibra esses poderes, de acordo com o especialista, pois o país tem atuado como "fiador da governança global", buscando ter mais influência no sistema financeiro multilateral e abrindo alternativas como a aposta no BRICS.
A pauta da fome, entretanto, é consensual e não deve gerar tensões, segundo os entrevistados, mas dificilmente haverá uma agenda unificada para que todos os países trabalhem em uma mesma direção nas políticas de combate.
Outra pauta da agenda do G20 deste ano, a ampliação do Conselho de Segurança da ONU também se torna um objetivo mais distante com a entrada de Trump na presidência, inclusive para o Brasil, que pleiteia um assento.

"Os Estados Unidos, em alguma medida, vão postergando, com os países ocidentais, a ampliação do Conselho de Segurança da ONU e a reforma das instituições internacionais, e isso vai esvaziando cada vez mais o G20. Essas tensões vão se manifestar, mas como o G20 não consegue resolver, porque os países têm visões tão diferentes e tão conflitantes com relação à realidade internacional, vai ser muito difícil que essas tensões e esses conflitos de visões consigam chegar a um consenso."

África

A África do Sul assumirá a presidência do grupo em 2025 e deve dar continuidade a algumas agendas impulsionadas pelo Brasil, segundo o professor da PUC-SP, como a pauta ambiental e climática.
A presença da União Africana, que foi convidada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da cúpula deste ano, é bastante simbólica dos países que representa.
Para Paoliello, existe um reconhecimento do valor e da importância da África no convite à União Africana, cujos países sofrem com sub-representação em instituições e espaços de poder internacionais:

"Isso é um reconhecimento não só político, mas também um reconhecimento estratégico, não só por parte do governo brasileiro, mas também por parte das instituições hoje e, justamente, também desse fórum, de que a presença da União Africana é extremamente relevante."

Entretanto, Pereira acredita que o G20 é uma esfera multilateral excludente e deixa de fora muitas vozes globais. "No G20, a maior representação é dos países desenvolvidos ocidentais", frisou. A reunião do Rio, prosseguiu ele, corre o risco de colocar em lados opostos integrantes do G7 e do BRICS e países não alinhados.

"O G20 é uma tentativa de replicação do G7 para um compartilhamento do poder por parte dos Estados Unidos. Só que é uma proposta que fracassou, não conseguiu ser bem-sucedida como foi o G7, e isso tem gerado justamente esses efeitos, no sentido das tensões e dessa divisão entre diferentes visões sobre os problemas internacionais."

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