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Discussões que nortearam a equipe econômica do governo Lula em 2024
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Sputnik Brasil
À Sputnik Brasil, analistas apontam quais foram os temas dominantes da economia neste ano. 30.12.2024, Sputnik Brasil
2024-12-30T14:01-0300
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O ano de 2024 foi turbulento para a equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, analistas apontam os temas que mais geraram repercussão na área econômica neste ano.Escalada na taxa de jurosO embate entre o governo federal e o Banco Central em torno da taxa de juros foi um dos pontos nevrálgicos da economia brasileira em 2024. Elevar a taxa de juros é um mecanismo utilizado pelo Banco Central para conter a alta da inflação, que atualmente gira em torno de 4,7%, acima da meta estabelecida em 3%. Porém juros altos significam financiamento mais caro, o que pressiona consumidores menos abastados, que geralmente recorrem ao crédito nas compras.Para Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apesar da alta, o momento atual do Brasil em relação à inflação difere em muito daquele vivenciado na década de 1980, era da hiperinflação. Segundo ela, o desafio atual é manter a inflação dentro da meta, e nesse contexto pesa o cenário externo."Nós não estamos vivendo em um regime de alta inflação. O que a gente tem, e provavelmente a gente vai ter isso nos próximos anos também, é uma inflação, um índice de preços ao consumidor, que tem dificuldade para usar a meta como referência, em torno de 3%. Porque a gente tem preços, sobretudo relacionados à agricultura e a commodities não alimentícias, variando de uma forma significativa. […] As questões climáticas têm muito a ver, elas são muito responsáveis por isso, e como a gente está vivendo um período de emergência climática, eu acho que isso vai acontecer com frequência nos próximos anos, com impacto sobre a inflação."Ela avalia que a forma usada para conter o aumento da inflação, promovendo um "aperto" na política monetária e fiscal para trazer o índice para dentro da meta, tem potencial para trazer mais prejuízos que benefícios ao bem-estar da população.Ela afirma que na política adotada pelo Banco Central a âncora para a estabilidade inflacionária seria o desemprego, e argumenta que atualmente há formas mais atuais e menos prejudiciais de reduzir a aceleração dos preços."Seria mais interessante a gente apostar em um aumento da capacidade produtiva, aumento da utilização da força de trabalho com ganho de produtividade, para a gente poder enfrentar essa eventual subida de demanda com reflexo sobre os preços de uma maneira mais inteligente", afirma.Retorno da política industrialA indústria nacional tornou a ganhar lugar de destaque em 2024, segundo Marcelo Balloti, economista, doutor em ciências sociais e professor visitante no curso de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC).Balloti afirma que ao longo das décadas a política industrial brasileira enfrentou avanços intercalados com estagnação. Segundo ele, na década de 1980, período da hiperinflação, da abertura da globalização e do neoliberalismo, a indústria nacional era o motor da economia brasileira. Na década de 1990, a política industrial foi deixada de lado por conta das medidas tomadas para conter a hiperinflação e o avanço da dívida externa, o que resultou na chamada desindustrialização.Balloti avalia que o Brasil tem um grande potencial, mas há alguns gargalos industriais a serem resolvidos."Eu cito dois que acho que são muito importantes, que é a indústria de fertilizantes, que impacta diretamente no agro, e a indústria farmacêutica, com os IFAs; a gente importa muito o IFA, que é o insumo farmacêutico ativo. Então são dois segmentos industriais em que o governo brasileiro está tentando fazer com que a gente reduza essa dependência do mercado externo e são dois setores que englobam uma certa agregação de valor. E a indústria, quando ela agrega valor, […] gera mais estímulo à pesquisa, gera maior valor na venda dos produtos e o círculo vicioso se torna um círculo virtuoso da economia."Medidas de corteDaniela Freddo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), destaca que uma empreitada difícil liderada pelo governo em 2024 foram as medidas de corte, que ela afirma ser "um assunto muito difícil, muito controverso, porque sempre tem dois lados".Entretanto ela aponta que, embora alguns cortes tenham sido feitos, as medidas afetaram mais aqueles que recebem menos. Em contraponto, "aquilo que era esperado, por exemplo o corte nos supersalários, não veio"."Então no andar de cima não se mexeu. Eu acho que esse é o grande desafio do governo neste período atual do Congresso e da economia brasileira."Ela afirma que, apesar de as medidas de corte terem sido uma sinalização positiva para a sociedade, "mostrando a responsabilidade dos gastos", os esforços não foram bem aceitos pelo mercado financeiro, sobretudo por conta da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil."Eu acho que, na verdade, é uma promessa de campanha. O governo não tinha opção, uma vez que você prometeu isso durante a campanha e ela [isenção] vem recuperar a distorção que já estava sendo feita ao longo do tempo. Porque, conforme a inflação ia comendo o salário das pessoas, os salários mais baixos, o imposto de renda estava sendo cobrado, debitado de pessoas que tinham menos capacidade de pagar. Então é um ajuste distributivo, e creio que talvez, em parte, tenha sido por isso que o mercado financeiro não recebeu tão bem o pacote de ajuste fiscal do governo."
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O ano de 2024 foi turbulento para a equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, analistas apontam os temas que mais geraram repercussão na área econômica neste ano.
Escalada na taxa de juros
O embate entre o governo federal e o Banco Central em torno da taxa de juros foi um dos pontos nevrálgicos da economia brasileira em 2024.
Elevar a taxa de juros é um mecanismo utilizado pelo Banco Central para conter a alta da inflação, que atualmente gira em torno de 4,7%, acima da meta estabelecida em 3%. Porém
juros altos significam financiamento mais caro, o que pressiona consumidores menos abastados, que geralmente recorrem ao crédito nas compras.
Para Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apesar da alta, o momento atual do Brasil em relação à inflação difere em muito daquele vivenciado na década de 1980, era da hiperinflação. Segundo ela, o desafio atual é manter a inflação dentro da meta, e nesse contexto pesa o cenário externo.
"Nós não estamos vivendo em um regime de alta inflação. O que a gente tem, e provavelmente a gente vai ter isso nos próximos anos também, é uma inflação, um índice de preços ao consumidor, que tem dificuldade para usar a meta como referência, em torno de 3%. Porque a gente tem preços, sobretudo relacionados à agricultura e a commodities não alimentícias, variando de uma forma significativa. […] As questões climáticas têm muito a ver, elas são muito responsáveis por isso, e como a gente está vivendo um período de emergência climática, eu acho que isso vai acontecer com frequência nos próximos anos, com impacto sobre a inflação."
26 de dezembro 2024, 20:34
Ela avalia que a forma usada para conter o aumento da inflação, promovendo um "aperto" na política monetária e fiscal para trazer o índice para dentro da meta, tem potencial para trazer mais prejuízos que benefícios ao bem-estar da população.
"Sou muito crítica dessas formas tradicionais pelas quais a política econômica tenta […] lidar com a inflação, que é derrubando a demanda e aumentando o desemprego. […] Os bancos centrais em geral querem fazer [isso] para controlar a inflação. Eles querem derrubar a demanda agregada, com reflexo sobre o mercado de trabalho", explica.
Ela afirma que na política adotada pelo Banco Central a âncora para a estabilidade inflacionária seria o desemprego, e argumenta que atualmente há formas mais atuais e menos prejudiciais de reduzir a aceleração dos preços.
"Seria mais interessante a gente apostar em um aumento da capacidade produtiva, aumento da utilização da força de trabalho com ganho de produtividade, para a gente poder enfrentar essa eventual subida de demanda com reflexo sobre os preços de uma maneira mais inteligente", afirma.
Retorno da política industrial
A indústria nacional tornou a ganhar lugar de destaque em 2024, segundo Marcelo Balloti, economista, doutor em ciências sociais e professor visitante no curso de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Balloti afirma que ao longo das décadas a política industrial brasileira enfrentou avanços intercalados com estagnação. Segundo ele, na década de 1980, período da hiperinflação, da abertura da globalização e do neoliberalismo, a indústria nacional era o motor da economia brasileira. Na década de 1990, a política industrial foi deixada de lado por conta das medidas tomadas para conter a hiperinflação e o avanço da dívida externa, o que resultou na chamada desindustrialização.
"Quando o governo Lula é eleito, em 2002, que assume em 2003, a gente volta a ter uma política industrial. Não tanto no primeiro mandato do Lula, mas no segundo mandato a gente tem uma política industrial mais definida, e isso foi continuado no governo da presidente Dilma [Rousseff]. [Quando] Michel Temer entra, e depois com [Jair] Bolsonaro, a gente tem de novo um descaso com a política industrial, que volta agora [a ganhar importância] com o presidente Lula", afirma.
17 de dezembro 2024, 20:02
Balloti avalia que o Brasil tem um grande potencial, mas há alguns gargalos industriais a serem resolvidos.
"Eu cito dois que acho que são muito importantes, que é a indústria de fertilizantes, que impacta diretamente no agro, e a indústria farmacêutica, com os IFAs; a gente importa muito o IFA, que é o insumo farmacêutico ativo. Então são dois segmentos industriais em que o governo brasileiro está tentando fazer com que a gente reduza essa dependência do mercado externo e são dois setores que englobam uma certa agregação de valor. E a indústria, quando ela agrega valor, […] gera mais estímulo à pesquisa, gera maior valor na venda dos produtos e o círculo vicioso se torna um círculo virtuoso da economia."
Daniela Freddo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), destaca que uma empreitada difícil liderada pelo governo em 2024 foram as
medidas de corte, que ela afirma ser
"um assunto muito difícil, muito controverso, porque sempre tem dois lados".
"Então um lado é a busca pela austeridade fiscal, o governo mostrar as contas equilibradas e fazer uma sinalização para o mercado e para toda a economia de que ele está perseguido [o equilíbrio fiscal], de que ele tem responsabilidade em relação ao uso do dinheiro público. Por outro lado, a conta desse ajuste para quem que fica? Como que ela é distribuída dentro da sociedade? Então sempre leva a um conflito distributivo", afirma.
20 de dezembro 2024, 17:02
Entretanto ela aponta que, embora alguns cortes tenham sido feitos, as medidas afetaram mais aqueles que recebem menos. Em contraponto, "aquilo que era esperado, por exemplo o corte nos supersalários, não veio".
"Então no andar de cima não se mexeu. Eu acho que esse é o grande desafio do governo neste período atual do Congresso e da economia brasileira."
Ela afirma que, apesar de as medidas de corte terem sido uma sinalização positiva para a sociedade,
"mostrando a responsabilidade dos gastos", os esforços não foram bem aceitos pelo mercado financeiro, sobretudo por conta da
isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.
"Eu acho que, na verdade, é uma promessa de campanha. O governo não tinha opção, uma vez que você prometeu isso durante a campanha e ela [isenção] vem recuperar a distorção que já estava sendo feita ao longo do tempo. Porque, conforme a inflação ia comendo o salário das pessoas, os salários mais baixos, o imposto de renda estava sendo cobrado, debitado de pessoas que tinham menos capacidade de pagar. Então é um ajuste distributivo, e creio que talvez, em parte, tenha sido por isso que o mercado financeiro não recebeu tão bem o pacote de ajuste fiscal do governo."
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