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EUA já não conseguem usar guerra às drogas para intervir em outros países, afirmam estudiosos

© AP Photo / Julio CortezManifestante carrega bandeira dos EUA de cabeça para baixo, ao lado de um prédio em chamas em Minneapolis, em 28 de maio de 2020
Manifestante carrega bandeira dos EUA de cabeça para baixo, ao lado de um prédio em chamas em Minneapolis, em 28 de maio de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 02.01.2025
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Desde seu primeiro mandato, Donald Trump, presidente eleito dos EUA, fala sobre a fronteira sul do país e a criminalidade que a perpassa, seja via imigração ilegal, seja via tráfico de drogas. Se no passado essas desculpas serviam para intervir em outros países, agora o cenário mudou, dizem analistas à Sputnik Brasil.
A criminalidade urbana nos Estados Unidos foi um dos principais temas abordados pelo então candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, durante sua campanha. Em diversos momentos da corrida eleitoral, o bilionário criticou a gestão do Partido Democrata da fronteira com o México, no sul do país.
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Há três décadas os EUA enfrentam um grande problema de imigração ilegal, após endurecerem suas leis com a Reforma da Imigração Ilegal e Responsabilidade do Imigrante, de 1996. Em variadas medidas desde então, para todos os governos norte-americanos o controle da fronteira se tornou um problema indissociável da criminalidade no país.
Na quarta-feira (1º), o tema retornou ao foco. Ao descobrir que a caminhonete utilizada por Shamsud-Din Jabbar, cidadão estadunidense e veterano do Exército, para atropelar dezenas de pessoas em Nova Orleans havia cruzado a fronteira mexicana com o Texas dois dias antes, Trump declarou que "a taxa de criminalidade em nosso país está em um nível que ninguém nunca viu antes".
"Na cabeça dele, essa equação é quase automática", diz Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), à Sputnik Brasil.

"O fato é que o governo Trump, independentemente da ideologia do governo que estiver no México, tende a fazer uma associação perversa entre traficantes e imigrantes. E portanto pensa logo em segurança."

Por conta dessa mentalidade, Trump, que assumirá a presidência em 20 de janeiro, afirmou que planeja designar os cartéis mexicanos como organizações terroristas, abrindo o leque de ações que o governo norte-americano pode tomar para combater essas grupos.
A partir dessa nova categorização, a Casa Branca poderá ter mais controle para restringir as movimentações tanto financeiras quanto de pessoas associadas aos cartéis, além de poder intervir militarmente. "Seria parecido com o que ele fez com as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]", compara Menezes.
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Para combater os cartéis colombianos, na época os principais transportadores de drogas para os EUA, o presidente norte americano, Bill Clinton, e seu homólogo colombiano, Andrés Pastrana Arango, estabeleceram o Plano pela Paz da Colômbia, conhecido como Plano Colômbia, que viu o financiamento, armamento e treinamento das forças colombianas pelos militares norte-americanos.
"Declinaram os cartéis de Medellín e de Cali, e parte desses mafiosos estabeleceram novas alianças, por exemplo, com o Cartel de Sinaloa, no México, deslocando para o país a questão da droga no nosso continente."
"A política antidrogas dos Estados Unidos para a Colômbia dos anos 1970 foi uma forma de os EUA implantarem suas bases militares e exercerem uma interferência na política colombiana", diz Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), à Sputnik Brasil.

"E hoje se sabe que isso levou a um desastre que já há algum tempo os colombianos tentam superar."

Para o especialista, os EUA procuram "exercer alguma repressão sobre o tráfico, até porque a sociedade norte-americana é a que mais consome drogas no mundo". No entanto, a política que foi realizada na Colômbia não poderia ser repetida no México. "Em razão da firme orientação política que o México tem hoje."
A ascensão de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) em 2018, do Movimento Regeneração Nacional (Morena), na época Partido da Revolução Democrática, representou um corte ideológico entre os países.
Sua sucessora, Claudia Sheinbaum, chegou inclusive a rebater as falas intervencionistas de Trump. "No México não aceitamos interferências. Colaboramos, mas não nos subordinamos e assim será. Colaboramos, trabalhamos com inteligência conjunta, mas os mexicanos assumem o comando."
"Não está fora do cardápio dos Estados Unidos usar, geopoliticamente, o combate às drogas para fazer intervenção militar", explica Menezes. "Mas hoje isso tem menos legitimidade do que já teve no momento anterior."
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As falas de Trump em relação ao México não foram as únicas sobre intervir em outros países. O ex-apresentador de reality show também falou sobre incorporar os territórios do Canadá e da Groenlândia como novos estados norte-americanos e até mesmo retomar o controle sobre o canal do Panamá.
Embora os especialistas desconsiderem qualquer seriedade por trás dessas afirmações — "é para armar palanque", diz Gonçalves — eles destacam que isso ainda demonstra uma visão de mundo imperialista dos EUA, o que gera atritos com o resto do mundo, que já não abaixa a cabeça para a hegemonia norte-americana.

"Então os Estados Unidos, do Trump, mostram com essas declarações que vai ser um governo que gera muita turbulência na geopolítica global", diz Roberto Menezes.

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