Futuro da Síria 'depende da decisão de Trump' sobre a região, afirma especialista
12:07 03.01.2025 (atualizado: 16:01 03.01.2025)
© Sputnik / Mikhail Alaeddin / Acessar o banco de imagensPalmira volta a ser controlada pelas tropas governamentais sírias, em 2 de março de 2017
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O colapso do governo de Assad na Síria foi sem dúvida o evento mais consequente de 2024 para o Oriente Médio. A Sputnik pediu ao veterano especialista em política regional e assuntos de segurança Ali Rizk uma análise detalhada do que aconteceu, os atores envolvidos e o destino que a Síria vai enfrentar nos meses e anos que virão.
Os EUA e seus aliados "planejaram" a ofensiva rebelde síria, que começou em 27 de novembro e rapidamente se transformou em uma rota, tirando "vantagem do fato de que a Síria era um Estado fraco", disse Rizk à Sputnik.
A Síria se tornou um "Estado fraco e frágil" no curso de uma longa guerra civil apoiada por potências estrangeiras e foi "ainda mais enfraquecida" em meio às recentes "guerras israelenses na região, particularmente contra o Hezbollah", que forçaram a milícia libanesa a retirar seus combatentes de elite de cena, explicou Rizk.
Cacofonia de interesses divergentes
Todos os atores estrangeiros envolvidos na crise síria "concordaram quando se tratou de se livrar do ex-presidente Bashar al-Assad", mas, além disso, "quando se trata do que vem a seguir, acho que eles não concordam", disse o observador, alertando que isso poderia provocar conflitos nos próximos meses e anos.
Os objetivos de Israel são "cortar a linha de suprimento logístico que liga o Irã ao Hezbollah e diminuir a influência do Irã" na Síria em geral.
A Turquia vê a situação "como uma forma de reter ou retornar aos dias de glória do Império Otomano" e avançar seu objetivo de bloquear maior autonomia para os curdos, disse Rizk.
Os EUA, além de seus esforços de longa data para transformar a Síria em um Estado fracassado ocupando áreas-chave de energia e produção de alimentos, buscam, pelo menos oficialmente, impedir o ressurgimento do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), enquanto caminham em sintonia com Israel no Irã.
O que está reservado para 2025?
Há três cenários principais para a Síria em 2025, diz Rizk.
1.
A Síria se despedaça por motivos étnicos e religiosos, com o Daesh tirando vantagem do caos, Israel tomando territórios adicionais para si e a Turquia ajudando aliados em um conflito com os curdos. 2.
"Um regime semelhante ao Talibã [organização sob sanções da ONU por atividade terrorista] na Síria, ou seja, uma tomada de poder jihadista salafista" — possível se elementos linha-dura no grupo armado Hayat Tahrir al-Sham (HTS) conseguirem o que querem. 3.
Uma Síria unificada alinhada à Turquia, em paz com Israel e anti-Irã — que Rizk diz ser o cenário preferido para Washington, Tel Aviv e Ancara. "Muito será determinado pelo que o presidente eleito [dos EUA, Donald] Trump escolher seguir", enfatizou Rizk, apontando para as potenciais divergências entre Washington e seus aliados sobre qual política seguir.
Em última análise, o observador teme que "a Síria não permanecerá em seu estado atual" nos próximos meses e anos, dados os riscos de novas conquistas israelenses e de nova violência entre o novo governo alinhado à Turquia e os curdos.