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Presença de potências da África no BRICS abre margem para o Brasil reorganizar política energética
Presença de potências da África no BRICS abre margem para o Brasil reorganizar política energética
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a presença de potências do continente africano no grupo, seja na condição de membros efetivos ou países... 06.01.2025, Sputnik Brasil
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Em outubro do ano passado, o BRICS aprovou o ingresso da Nigéria e de mais 12 países — Argélia, Bolívia, Belarus, Cazaquistão, Cuba, Indonésia, Malásia, Tailândia, Turquia, Uzbequistão, Uganda e Vietnã — na condição de membros "parceiros" do grupo, ou seja, sem direito a voto.Com a entrada da Nigéria, maior economia do norte da África, o BRICS passou a incluir três grandes potências da África Subsaariana (África do Sul e Etiópia), além da maior economia da África do Norte: o Egito. Ademais, a Nigéria já afirmou que pretende aderir de forma permanente ao grupo.Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas apontam quais benefícios a entrada da Nigéria traz para o grupo e como o Brasil pode aproveitar a presença de grandes economias da África no BRICS para expandir sua relação comercial com o continente, sobretudo em um ano em que o país exerce a presidência do grupo.Alexandre Alvarenga, professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA), destaca que a Nigéria, com cerca de 200 milhões de habitantes, é o país com a maior população do continente africano, que ainda sustenta uma taxa de crescimento alta, além de ser uma das maiores economias da região, com um produto interno bruto (PIB) que gira em torno de US$ 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões) e uma indústria da mineração bem desenvolvida.Ele também aponta o papel histórico e cultural da Nigéria, sendo um país que presenciou a ascensão de antigos impérios africanos, como o Reino de Benin, e que participou e apoiou lutas por independência a partir do século XX."Ajudou a promover e a constituir também o movimento pan-africanista que tinha essas bandeiras do anti-imperialismo, do desenvolvimento, da independência, da emancipação. Então é um país muito importante se a gente olhar também agora para as relações internacionais contemporâneas, um país que recentemente vem participando e vem liderando esses processos de integração, principalmente na África Ocidental e dentro da própria União Africana."Nesse contexto, ele afirma que a ascensão da Nigéria ao posto de país parceiro do BRICS reforça as demandas do Sul Global, principalmente diante da presença de outras potências do continente africano, como o Egito, com a sua importância geopolítica e o controle do canal de Suez, e a Etiópia, por todo o seu legado anticolonialista e por ser ali a sede da União Africana.Eden Pereira Lopes da Silva, professor de história e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul (NIEAAS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chama atenção para a importância energética da Nigéria."O BRICS, especificamente a entrada da Nigéria, cumpre um papel fundamental em três questões específicas. Em primeiro lugar, em termos de economia e do mercado energético, consolida uma posição de maior poder dos países do BRICS dentro do mercado energético, porque a Nigéria é um dos principais países exportadores de petróleo no mundo, um dos principais inclusive dentro do continente africano. Historicamente, tem um peso político dentro da OPEP que é muito importante hoje, não só para poder se pensar a estabilização do mercado energético internacional, mas para se pensar também as próprias dinâmicas desse novo momento internacional onde se exige a necessidade de maior acesso e maior demanda por energia."Ele acrescenta que a Nigéria também tem grande influência no continente africano, por ser um dos países mais avançados economicamente da região em termos econômicos, científicos e tecnológicos.Segundo Silva, para os países africanos, a entrada no BRICS é fundamental porque agrega a agenda política internacional a temas cruciais não só para o continente, mas para o mundo como um todo, como o combate ao terrorismo e às mudanças climáticas e a reforma na arquitetura do sistema financeiro global herdada de Bretton Woods, "que reforça e intensifica a desigualdade social e econômica".Brasil pode aproveitar para estreitar laços com o continente africano?Questionado se a entrada de potências africanas no BRICS — seja na condução de membro efetivo ou parceiro do grupo — abre oportunidade para o Brasil estreitar laços com o continente africano, Alvarenga afirma que o país já segue essa tendência de aproximação há pelo menos seis décadas."Desde a década de 1960, com a política externa independente, uma formulação de premissas, de princípios que norteavam a nossa política externa em busca de uma posição, uma projeção mais independente, mais autônoma, mais universalista, e que tinha ali alguns princípios e diretrizes, dentre os quais destaca-se a busca de identificação; primeiro, de interesses comuns do Brasil com o continente africano, além de também um resgate de uma história, de uma relação. A ideia de o Brasil ser uma ponte entre a África e o Ocidente."Sobre a estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o continente africano, ele afirma que há diferenças por conta do contexto político, destacando que nos dois primeiros mandatos Lula gozou de mais apoio do Congresso, o que facilitou políticas como a ampliação de abertura das embaixadas. Agora, no terceiro mandato, ele destaca as viagens feitas pelo presidente para a África, maior articulação do Brasil junto a países africanos em organismos internacionais e a assinatura de contrato para a exploração de petróleo.Ele acrescenta que essa aproximação traz intercâmbios importantes para as Forças Armadas, sobretudo para que a Marinha do Brasil "se projete internacionalmente".Por sua vez, Silva aponta que a expansão do BRICS na África amplia para o Brasil uma série de mecanismos, instrumentos e fóruns de cooperação política e diálogos envolvendo o Estado brasileiro e os países africanos. Ele cita como exemplo a Zona de Cooperação e Paz do Atlântico Sul (Zopacas), que abrange países atlânticos do continente africano e da América do Sul para discutir questões relacionadas à segurança, ao combate ao crime organizado e, atualmente, ao terrorismo.Porém, segundo o especialista, para isso é preciso um delineamento estratégico, hoje, por parte do Brasil com relação não apenas a esse fórum, mas também à sua política com o próprio continente africano.Ele afirma que isso confere ao Brasil a capacidade de reorganizar um planejamento estratégico para a sua política energética."Isso pode, inclusive, aliviar o processo de dolarização que existe não só no mercado energético internacional, mas também em vários desses países e até mesmo no Brasil. Porém, para isso, a gente precisa também delinear uma política estratégica energética muito clara, principalmente para a Petrobras, algo que eu não tenho visto até o presente momento."
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Presença de potências da África no BRICS abre margem para o Brasil reorganizar política energética
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a presença de potências do continente africano no grupo, seja na condição de membros efetivos ou países parceiros, reforça demandas do Sul Global e gera para o Brasil a chance de impulsionar sua indústria energética, sobretudo no campo do petróleo.
Em outubro do ano passado, o BRICS aprovou o ingresso da Nigéria e de mais 12 países — Argélia, Bolívia, Belarus, Cazaquistão, Cuba, Indonésia, Malásia, Tailândia, Turquia, Uzbequistão, Uganda e Vietnã — na condição de membros "parceiros" do grupo, ou seja, sem direito a voto.
Com a entrada da Nigéria, maior economia do norte da África,
o BRICS passou a incluir três grandes potências da África Subsaariana (África do Sul e Etiópia), além da maior economia da África do Norte: o Egito. Ademais, a Nigéria já afirmou que
pretende aderir de forma permanente ao grupo.
Em entrevista à
Sputnik Brasil, especialistas apontam quais benefícios a entrada da Nigéria traz para o grupo e como o Brasil pode aproveitar a presença de grandes economias da África no BRICS para expandir sua relação comercial com o continente, sobretudo em um ano em que o país
exerce a presidência do grupo.
Alexandre Alvarenga, professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA), destaca que a Nigéria, com cerca de 200 milhões de habitantes, é o país com a maior população do continente africano, que ainda sustenta uma taxa de crescimento alta, além de ser uma das maiores economias da região, com um produto interno bruto (PIB) que gira em torno de US$ 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões) e uma indústria da mineração bem desenvolvida.
"É considerado um mercado emergente [a Nigéria], uma das economias mais promissoras das próximas décadas, e não tem como a gente não destacar a Nigéria sendo o maior produtor de petróleo do continente africano […] e membro da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]. Então tudo isso é muito importante em termos geopolíticos, em termos econômicos, e a gente também tem que entender o papel, a liderança política da Nigéria também no continente africano", explica.
Ele também aponta o papel histórico e cultural da Nigéria, sendo um país que presenciou a ascensão de antigos impérios africanos, como o Reino de Benin, e que participou e apoiou lutas por independência a partir do século XX.
"Ajudou a promover e a constituir também o movimento pan-africanista que tinha essas bandeiras do anti-imperialismo, do desenvolvimento, da independência, da emancipação. Então é um país muito importante se a gente olhar também agora para as relações internacionais contemporâneas, um país que recentemente vem participando e vem liderando esses processos de integração, principalmente na África Ocidental e dentro da própria União Africana."
Nesse contexto, ele afirma que a ascensão da Nigéria ao posto de país parceiro do BRICS reforça as demandas do Sul Global, principalmente diante da presença de outras potências do continente africano, como o Egito, com a sua importância geopolítica e o controle do canal de Suez, e a Etiópia, por todo o seu legado anticolonialista e por ser ali a sede da União Africana.
Eden Pereira Lopes da Silva, professor de história e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul (NIEAAS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chama atenção para a importância energética da Nigéria.
"O BRICS, especificamente a entrada da Nigéria, cumpre um papel fundamental em três questões específicas. Em primeiro lugar, em termos de economia e do mercado energético, consolida uma posição de maior poder dos países do BRICS dentro do mercado energético, porque a Nigéria é um dos principais países exportadores de petróleo no mundo, um dos principais inclusive dentro do continente africano. Historicamente, tem um peso político dentro da OPEP que é muito importante hoje, não só para poder se pensar a estabilização do mercado energético internacional, mas para se pensar também as próprias dinâmicas desse novo momento internacional onde se exige a necessidade de maior acesso e maior demanda por energia."
Ele acrescenta que a Nigéria também tem grande influência no continente africano, por ser um dos países mais avançados economicamente da região em termos econômicos, científicos e tecnológicos.
5 de dezembro 2024, 12:07
Segundo Silva, para os países africanos, a entrada no BRICS é fundamental porque agrega a agenda política internacional a temas cruciais não só para o continente, mas para o mundo como um todo, como o combate ao terrorismo e às mudanças climáticas e a
reforma na arquitetura do sistema financeiro global herdada de Bretton Woods,
"que reforça e intensifica a desigualdade social e econômica".
"Um modelo econômico que cria laços profundos de dependência dos países do Sul [Global] com relação ao Norte Global, a tal ponto que são extremamente dependentes das políticas macroeconômicas definidas na Europa e nos EUA para poder constituir os seus planos e projetos de desenvolvimento, não sendo capazes de estabelecer de maneira soberana uma série de projetos e planos de desenvolvimento para abranger o bem-estar da sua própria população."
Brasil pode aproveitar para estreitar laços com o continente africano?
Questionado se a entrada de potências africanas no BRICS — seja na condução de membro efetivo ou parceiro do grupo — abre oportunidade para o Brasil estreitar laços com o continente africano, Alvarenga afirma que o país já segue essa tendência de aproximação há pelo menos seis décadas.
"Desde a década de 1960, com a política externa independente, uma formulação de premissas, de princípios que norteavam a nossa política externa em busca de uma posição, uma projeção mais independente, mais autônoma, mais universalista, e que tinha ali alguns princípios e diretrizes, dentre os quais destaca-se a busca de identificação; primeiro, de interesses comuns do Brasil com o continente africano, além de também um resgate de uma história, de uma relação. A ideia de o Brasil ser uma ponte entre a África e o Ocidente."
10 de janeiro 2024, 19:22
Sobre a estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o continente africano, ele afirma que há diferenças por conta do contexto político, destacando que nos dois primeiros mandatos Lula gozou de mais apoio do Congresso, o que facilitou políticas como a ampliação de abertura das embaixadas. Agora, no terceiro mandato, ele destaca as viagens feitas pelo presidente para a África, maior articulação do Brasil junto a países africanos em organismos internacionais e a assinatura de contrato para a exploração de petróleo.
"Isso é muito positivo para a economia brasileira, porque estreitar laços com o continente africano não é somente se sentar em uma organização internacional e assinar uma declaração conjunta de princípios e intenções. É também mostrar essa integração na prática, levando uma empresa nacional a participar de uma atividade econômica de extrema importância, como é o caso do petróleo, tentando abrir mercados para a Petrobras, mas também para a petroleira que presta serviço para essa indústria do petróleo."
Ele acrescenta que essa aproximação traz intercâmbios importantes para as Forças Armadas, sobretudo para que a Marinha do Brasil "se projete internacionalmente".
Por sua vez, Silva aponta que a expansão do BRICS na África amplia para o Brasil uma série de mecanismos, instrumentos e fóruns de cooperação política e diálogos envolvendo o Estado brasileiro e os países africanos. Ele cita como exemplo a Zona de Cooperação e Paz do Atlântico Sul (Zopacas), que abrange países atlânticos do continente africano e da América do Sul para discutir questões relacionadas à segurança, ao combate ao crime organizado e, atualmente, ao terrorismo.
Porém, segundo o especialista, para isso é preciso um delineamento estratégico, hoje, por parte do Brasil com relação não apenas a esse fórum, mas também à sua política com o próprio continente africano.
"Outro ponto que eu acho que pode ser relevante de se destacar é que a expansão do BRICS na África leva, inevitavelmente, […] países que são potências energéticas e minerais à discussão sobre uma cooperação na política de preços de energia e dos recursos minerais, ao estabelecimento de mecanismos comuns, a exemplo do que já existe, por exemplo, com a OPEP, mas estabelecer com outros recursos minerais que são abundantes em vários países africanos, mas […] também no Brasil."
Ele afirma que isso confere ao Brasil a capacidade de reorganizar um planejamento estratégico para a sua política energética.
"Isso pode, inclusive, aliviar o processo de dolarização que existe não só no mercado energético internacional, mas também em vários desses países e até mesmo no Brasil. Porém, para isso, a gente precisa também delinear uma política estratégica energética muito clara, principalmente para a Petrobras, algo que eu não tenho visto até o presente momento."
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