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Trump pode usar corrupção nos envios de ajuda à Ucrânia como cartada para encerrar o conflito?

© Sputnik / Stanislav Krasilnikov / Acessar o banco de imagensBonecos com o rosto de Vladimir Zelensky e Joe Biden, em 17 de março de 2024
Bonecos com o rosto de Vladimir Zelensky e Joe Biden, em 17 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
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Desde que entrou em campanha eleitoral, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, critica a ajuda militar e financeira dada a Kiev em seu conflito com a Rússia. Ascendendo à Casa Branca no dia 20 e com poder para nomear o alto escalão da Justiça, como o novo líder norte-americano lidará com esses gastos?
Mesmo antes de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump já pode se gabar de uma grande conquista de sua presidência: um acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento palestino de resistência Hamas.
Durante a corrida eleitoral, o então candidato ao segundo mandato afirmava que continuaria apoiando Israel. Oficiais e diplomatas envolvidos na mediação do cessar-fogo, no entanto, destacam o papel instrumental que Trump teve em exercer pressão para que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, cessasse sua incursão militar em Gaza.
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Se Trump conquistou com essa rapidez uma trégua em um dos conflitos mais longevos da atualidade sem nem mesmo tornar isso uma promessa de campanha, o que ele estará planejando para encerrar o conflito ucraniano, um dos principais temas de sua campanha?
Anteriormente, o novo ocupante da Casa Branca já expressou sua vontade de se reunir pessoalmente com Vladimir Putin, presidente da Rússia, para discutir esse e outros assuntos de importância global. O Kremlin, contudo, ressaltou que acredita que o conflito seja complexo demais para uma solução fácil.
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Conversando com a Sputnik Brasil, o doutorando em relações internacionais na Universidade Estatal de São Petersburgo Pérsio Glória de Paula afirma que o contingenciamento da ajuda militar e financeira pode ser uma das estratégias usadas por Trump para exercer pressão sobre a liderança ucraniana para estabelecer negociações de paz com Moscou.

"Isso advém de uma questão muito clara, que é a dependência ucraniana do apoio ocidental para manter sua máquina de guerra. Sem esse apoio, as capacidades de Kiev de manter o esforço de guerra seriam substancialmente reduzidas."

O especialista, que também é pesquisador no Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), classifica ainda que o auxílio permanente "é o principal fator de continuidade do conflito e que tem, digamos assim, atrasado possíveis negociações de paz".
"Até pelo desejo dos Estados Unidos e do bloco ocidental de infligir essa derrota estratégica à Rússia a qualquer custo", diz o especialista.

Rússia e Ucrânia se reuniram para alcançar uma solução diplomática para o conflito ainda em fevereiro de 2022, um dia após o início da operação especial, em Istambul, Turquia, após um mês de negociações. Contudo, Kiev sofreu pressões de seus patrocinadores ocidentais para abandonar as conversas.

Em outubro do mesmo ano, Vladimir Zelensky proibiu, através de um decreto, qualquer tipo de comunicação com a Rússia, impedindo assim aproximações diplomáticas para alcançar a paz.

Esse arrocho de gastos não traria vantagens só para a resolução do conflito, destaca a internacionalista Maria Eduarda Carvalho de Araújo, membro fundadora do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), à reportagem.

"Trump tem demonstrado insatisfação com os custos elevados do apoio à Ucrânia, defendendo que os Estados Unidos não deveriam arcar com a maior parte desse ônus."

Dentro dos Estados Unidos e da Europa, a imagem de rios de dinheiro se direcionando ao Tesouro de Kiev é extremamente impopular. Esse fato é evidenciado pelo fortalecimento de partidos que têm como lema de campanha o fim desse auxílio, sendo o caso de maior destaque o da Alemanha.
A reputação de Kiev, marcada pelo desvio de dinheiro, só piorou quando Zelensky admitiu, em entrevista ao podcast do cientista da computação russo-estadunidense Lex Fridman, que metade dos US$ 177 bilhões anunciados jamais chegou aos cofres ucranianos.
"Essa declaração levanta uma preocupação", afirma a pesquisadora do CIRE. "Em vez de atender exclusivamente às necessidades do país, os recursos internacionais podem estar gerando lucros para empresas estrangeiras."

"Esse cenário reforça debates sobre os reais interesses por trás da ajuda internacional."

No final do ano passado, a premiada jornalista ucraniana Diana Pahenko denunciou em suas contas nas redes sociais que enquanto o país eslavo sofre uma grande crise econômica, em 2024 foram comprados 13 carros de luxo Rolls-Royce, no valor de US$ 650 mil, por membros do parlamento e autoridades do governo.
Pérsio Glória de Paula lembra que não só o conflito é extremamente lucrativo para as empresas do complexo militar-industrial dos Estados Unidos, da Ucrânia, e seus executivos, mas que o orçamento do Pentágono, órgão de Defesa dos EUA, é uma "caixa-preta" que não consegue explicar onde seus recursos foram alocados.

"E aí não me surpreenderiam casos de corrupção no lado americano, e muito menos no lado ucraniano."

Nesse sentido, o especialista sublinha que Donald Trump pode utilizar desses escândalos de corrupção tanto para afastar os EUA do conflito quanto para associar esses casos a seu principal opositor político, o Partido Democrata.
Suspeitas de relações impróprias entre membros do Partido Democrata e oficiais ucranianos aumentaram após o atual presidente norte-americano, Joe Biden, dar um perdão presidencial a seu filho, Hunter Biden, para qualquer crime cometido a partir de 2014, data em que começou a trabalhar com a Burisma, empresa de gás ucraniana.
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Com tantos instrumentos a seu favor, Glória de Paula afirma que há uma grande probabilidade de Trump usar o sistema judiciário para investigar a atuação dos democratas no conflito ucraniano. "Mas aí e uma questão mais da política interna dos EUA. Uma forma de garantir mais ganhos políticos para o partido que está no poder."
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